Texto elaborado por Rodney Alfredo
Pinto Lisboa.
No início da década de 1950, o NuDivAet (Núcleo
da Divisão Aeroterrestre [denominação da Brigada de Infantaria Paraquedista
entre 1953 e 1969]) do EB (Exército Brasileiro), localizado na Colina Longa, Vila
Militar, Rio de Janeiro-RJ, cooperou em missões de busca e salvamento
decorrentes, predominantemente, de acidentes aéreos. Nessa época, o esforço
empregado nesse tipo de operação se baseava, sobretudo, no ímpeto e no espírito
de corpo dos membros da tropa. Em 1953, face às dificuldades enfrentadas por
ocasião da falta de planejamento, pessoal e meios adequados para a execução de
tarefas dessa ordem, a Diretoria de Rotas Aéreas do Ministério da Aeronáutica
identificou a necessidade de dispor de mão de obra especializada para conduzir
missões de busca e salvamento. A partir dessa percepção, iniciou-se um trabalho
conjunto envolvendo a Diretoria de Rotas Aéreas com o NuDivAet, então
considerada como a principal unidade de elite do Brasil, com a finalidade de
capacitar paraquedistas do EB na conduta de operações dessa natureza.
Por ocasião desta iniciativa, em 1956,
atendendo a determinação do General de Brigada Djalma Dias Ribeiro (Comandante
do NuDivAet), foi criada uma comissão, formada por integrantes do seu Estado
Maior, com o objetivo de estabelecer normas de conduta para procedimentos de
busca e resgate. Os trabalhos desenvolvidos pela comissão constituída pelo
Major Gilberto Antônio Azevedo e Silva (diretor do Curso de Precursor
Aeroterrestre [(atual Curso de Precursor Paraquedista]), pelos Capitães Augusto
Vergner de Castro Araújo e Edmar Eudóxio Telesca, além do Tenente Sergio
Barcelos Borges, resultaram na criação do Curso de Busca e Salvamento,
ministrado pelos instrutores do CIEspAet (Centro de Instrução Especializada
Aeroterrestre [atual Centro de Instrução Paraquedista General Penha Brasil]).
Nesta época, o Comandante do NuDivAet,
devidamente acompanhado de seu Estado Maior e dos instrutores do CIEspAet,
realizou uma viagem para os EUA com o objetivo de visitar as unidades
paraquedistas estadunidenses em Fort Bragg, Carolina do Norte. Durante essa
visita, os brasileiros foram convidados pelo Exército norte-americano a conhecer
as OpEsp (Operações Especiais) desenvolvidas pelos Ranger e pelos recém-criados (entre 1952 e 1953) SFG-A (Grupo de
Forças Especiais-Aerotransportado [Special
Forces Goup-Airborne]).
Impressionado pelas capacidades demonstradas
pelas unidades de elite norte-americanas, após retornar ao Brasil o General
Djalma decidiu alterar o currículo do Curso de Busca e Salvamento de modo a
transformá-lo em um Curso de OpEsp. Assim, valendo-se do conhecimento obtido no
exterior, a comissão elaborou a grade curricular do novo curso, que mediante
alterações sugeridas pelo Estado Maior do NuDivAet, foi efetivado, em caráter
experimental, no dia 2 de dezembro de 1957.
Inicialmente o Curso de OpEsp foi estruturado
visando capacitar os alunos, recrutados em caráter de voluntariado, na condução
das seguintes tarefas: conquista de pontos chave; golpes de mão (ofensiva
executada de surpresa com o intuito de aniquilar uma força inimiga e/ou
destruir suas instalações/equipamentos; sabotagens; destruições; socorro e
ajuda a populações ameaçadas por catástrofe; coleta de informações; enquadramento
e instrução de guerrilheiros; captura de chefes inimigos; busca e salvamento
(eventualmente).
Tendo sido nomeado o Major Gilberto como
instrutor-chefe do curso, contribuíram para as instruções ministradas oficiais
e graduados (sargentos) vinculados ao NuDivAet, bem como militares e civis de
notável destaque em seus respectivos segmentos profissionais.
Na época em que foi publicado, o edital de
inscrição do curso chamou a atenção de 35 militares paraquedistas, todos
atraídos pelo ineditismo e pelas experiências que esse curso de combate poderia
agregar em suas carreiras. Onze dos 35 candidatos desistiram antes mesmo de ser
iniciada a bateria de exames clínicos e testes físicos requeridos para o
ingresso no curso, que foi realizado em dois módulos: 1º Formação de Comando,
com carga horária de 392 horas (realizado entre os dias 02/12/1957 e 13/03/1958);
2º
Habilitação
para Cumprimento de Missões Específicas de OpEsp, com carga horária de 133
horas (realizado entre os dias 02/06/1957 e 04/07/1957).
No relatório elaborado em consequência do
progresso do Curso de OpEsp (então designado 57/1) foi proposto a constituição
do 1° Destacamento de OpEsp, unidade que seria estruturada
em quatro equipes de OpEsp, seção de comando, seção de manutenção e
aprovisionamento, e seção de material de comunicações. Conforme proposto no
relatório, cada uma das equipes de OpEsp deveria ser composta por nove
operadores FE (Forças Especiais) qualificados nos seguintes cursos: precursor
paraquedista; dobragem e manutenção de paraquedas e suprimento de ar;
engenharia; saúde. Entretanto, ao final do curso, os 15 operadores concluintes (considerados
como pioneiros da atividade OpEsp no EB) foram distribuídos pelas diferentes
unidades do NuDivAet, permanecendo em condições de serem empregados a qualquer
momento.
Tendo por finalidade viabilizar a
participação de militares não qualificados como paraquedistas, na transição
entre as décadas de 1950 e 1960, ocorreu a criação do Estágio de Comandos na
estrutura curricular do Curso de OpEsp. Esse Estágio, ministrado inicialmente como
primeira fase dos Cursos de Precursor Aeroterrestre e Operações Especiais,
abriria espaço para o desmembramento do Curso de OpEsp de modo a originar (1966)
o Curso de Comandos, que também seria administrado pelo CIEspAet.
Por assemelhar-se ao conceito operacional
executado pelos SFG-A norte-americanos (caracterizados por lançarem mão, preferencialmente, de métodos de Ação Indireta), em 1964 o termo “Operações Especiais”,
empregado até então em referência às atividades análogas desenvolvidas no
Brasil, foi alterado para “Forças Especiais”. Assim, em 1967 o curso é realizado pela primeira vez ostentando sua nova denominação (Curso de Forças Especiais).
Posteriormente, a transferência do Coronel
Joffre Coelho Chagas (chefe dos cursos de especialização do CIEspAet) para a
AMAN (Academia Militar das Agulhas Negras [estabelecimento de ensino localizado
na cidade de Resende-RJ]), ocorrida no decorrer de 1966, possibilitaria o
ingresso da temática OpEsp nos estágios de instrução ofertados na escola de
formação de oficiais do Exército. Atuando como professor, o Coronel Joffre
colaborou na criação do DIEsp (Departamento de Instrução Especializada [atual
SIEsp/Seção de Instrução Especializada]), cuja finalidade era promover
instruções de combate para os cadetes.
Em 1968, por ocasião
de uma Portaria Ministerial datada de 12 de agosto, os Cursos de Forças
Especiais e Comandos ministrados pelo CIEspAet foram oficialmente reconhecidos,
sendo ativado o DFEsp (Destacamento de Forças Especiais), primeira unidade de
OpEsp do Exército Brasileiro. Com sede na Colina Longa, Vila Militar-RJ, essa unidade
inicialmente permaneceu sob autoridade do CIEspAet, sendo posteriormente
subordinada à BdaAet (Brigada Aeroterrestre [denominação da Brigada de
Infantaria Paraquedista entre 1969 e 1971])). Dotado com o valor de uma
companhia, o DFEsp encontrava-se estruturado por dois DOFEsp (Destacamentos de
Operações de Forças Especiais) e um DstCooCt (Destacamento de Coordenação e
Controle), sendo que cada destacamento dispunha de 12 operadores FE (quatro oficiais
e oito graduados [sargentos]).
Fotografia 3: Instalações do NuDivAet (Núcleo da Divisão Aeroterrestre) localizado na Colina Longa, Vila Militar, Rio de Janeiro. (Fonte: Acervo do COpEsp). |