terça-feira, 18 de setembro de 2018

As Sentinelas de Athena: O Engajamento de Mulheres nas Tropas de Operações Especiais do Exército dos EUA (Parte 1)

Texto elaborado por Rodney Alfredo P. Lisboa

Fotografia 1: Dupla de integrantes do CST-2 (Cultural Support Team-2 [Equipe de Apoio Cultural-2) desdobradas no Afeganistão para operar em auxílio aos quadros operacionais das Special Forces (Forças Especiais) dos EUA. (Fonte: Disponível em: https://atwar.blogs.nytimes.com/2015/09/14/army-rangers-cultural-support-teams/ Acesso em: 17 set. 2018).

Destacada como uma das principais divindades da mitologia grega, Athena é cultuada, entre outras virtudes, como a deusa da estratégia de batalha. Reverenciada como a antítese de Ares, o deus da guerra, ela possui grande habilidade e sabedoria, enquanto ele prima pela violência e impulsividade, características que muitas vezes o leva a ser incapaz de distinguir aliados e inimigos no campo de batalha. As vitórias que conquistou nos constantes embates travados contra Ares ratificam a submissão da força bruta à soberania e ao equilíbrio, motivo que nos leva a usá-la como figura símbolo deste breve estudo.
Embora a guerra seja um empreendimento associado, quase que exclusivamente, ao gênero masculino, não são poucos os exemplos de mulheres que se destacaram no campo de batalha combatendo juntos aos homens, muitas vezes sendo forçadas a ocultar sua verdadeira identidade. Ainda que o papel das mulheres nas funções de combate seja um tema controverso por ocasião de questões éticas e morais, muitas delas demonstraram o valor do engajamento feminino lutando em inúmeros conflitos de natureza regular (guerra convencional) ou irregular (guerra de guerrilha) conduzidos no decorrer da História. Sobretudo durante a Segunda Guerra Mundial, as mulheres trabalharam como enfermeiras, pilotaram aviões, e agiam clandestinamente transmitindo informações relacionadas à evolução e consequências dos combates. Percebidas no passado, majoritariamente, como elemento vulnerável e vítima inocente nas áreas de conflito, no início do século XXI elas passaram a conquistar um espaço gradativo, sendo destacadas para executar funções que lhes eram negadas no passado, principalmente nas zonas de confronto. 
Em Israel, país cuja tradição prevê o serviço militar obrigatório para ambos gêneros, as mulheres que atuam em unidades vocacionadas para o combate são, invariavelmente, dispensadas após seu casamento ou maternidade devido ao papel social ocupado pela mulher junto à família (esposa e/ou mãe).
Ainda que a década de 1990 represente uma evolução no que se refere ao engajamento feminino em campanhas militares, servindo em funções de apoio, inteligência, bem como nas atividades navais e de aviação, as cerca de 40 mil mulheres mobilizadas na Guerra do Golfo (1990-1991) mantiveram-se distantes das atribuições de combate delegadas aos soldados de infantaria. Entretanto, a Guerra Global contra o Terrorismo iniciada pelo governo do presidente George W. Bush (2001-2009) após a série de atentados contra o território norte-americano perpetrados pela al-Qaeda em 11 de setembro de 2001, promoveu profundas mudanças na forma como os EUA encaravam seus antagonistas revelando significativas lacunas em sua estratégia de enfrentamento. Assim, o engajamento feminino nas funções de combate passou a ser rediscutido na alta cúpula das Forças Armadas estadunidense.

Fotografia 2: Almirante Eric Thor Olson, idealizador do programa CST junto ao USSOCOM (US Special Operations Command [Comando de Operações Especiais dos EUA]). (Fonte: Disponível em: https://de.wikipedia.org/wiki/Eric_T._Olson  Acesso em: 17 set. 2018). 
Considerado como um estudioso das constantes transformações ocorridas no decorrer da guerra, o Almirante Eric Thor Olson, Comandante do USSOCOM (US Special Operations Command [Comando de Operações Especiais dos EUA]) entre 2007 e 2011, acreditava que as tropas norte-americanas encontravam-se desequilibradas, demasiadamente preparadas para o confronto (Ação Direta) mas insuficientemente aptas para travar a guerra baseada no conhecimento (Ação Indireta). Por terem se engajado em um conflito travado contra um inimigo cujas particularidades socioculturais eram praticamente desconhecidas, aos militares norte-americanos carecia informações relacionadas às especificidades da população afegã. Para o Almirante Olson, por serem as mulheres capazes de exercer grande influência na sociedade local, uma gama de informações cruciais se mostrava inacessível devido ao código islâmico do povo pachtun (situados nas regiões leste e sul do Afeganistão, bem como no Paquistão) que impede as mulheres de manter contato com qualquer homem que não esteja em seu círculo de relações (conjugal ou sanguínea).
A ideia do Almirante Olson começou a ganhar força em 2010, quando o Almirante William Harry McRaven, Comandante do JSOC (Joint Special Operations Command [Comando Conjunto de Operações Especiais]) entre 2008 e 2011, solicitou a presença de mulheres militares para atuar como “facilitadoras” (conduzindo interrogatório tático junto às mulheres afegãs) em apoio às ações de combate levadas à efeito pelo 75th Ranger Regiment (75° Regimento Ranger) no Afeganistão. Para o JSOC o emprego de soldados femininos era imprescindível, pois a presença de mulheres militares não violaria códigos culturais e auxiliaria a estabelecer relações de confiança das tropas com os pachtuns. Respondendo imediatamente à solicitação do JSOC, o Comandante do USSOCOM solicitou ao USASOC (US Army Special Operations Command [Comando de Operações do Exército dos EUA]) que iniciasse um programa de treinamento feminino. Dividido em dois CSTs (Cultural Support Team [Equipe de Apoio Cultural]), esse programa era duplamente vocacionado. Enquanto o primeiro grupo estava sendo preparado para operar em ações efetivas de combate com os Rangers conduzindo métodos de Ação Direta, o segundo grupo capacitava-se para atuar junto às Special Forces (Forças Especiais) executando métodos de Ação Indireta nas relações das tropas com a população local e seus líderes.

Fotografia 3: Integrante do CST-2 interage com crianças de origem pachtun em uma das províncias do Afeganistão. (Fonte: Disponível em: https://specialoperations.com/30488/female-special-forces-officers/ Acesso em: 17 set. 2018). 

Continua...