terça-feira, 31 de outubro de 2017

Operações da Blackwater Aviation Durante a Guerra do Iraque (2003-2011)

Texto elaborado por Francisco Paulo Costa da Silva*  

Fotografia 1: Helicópteros modelo MD 500 Little Bird empregado pela Blackwater Aviation no Iraque como plataforma de Apoio de fogo (Fonte: Disponível em: https://www.rt.com/usa/189684-blackwater-private-army-isis/ Acesso em: 19 set. 2017).           

A partir da eclosão da guerra do Iraque em 2003, as Companhias Militares Privadas (Private Military Companies [PMC]) alcançaram um nível de protagonismo nunca visto antes em conflitos modernos. Após contratos assinados entre o governo americano e seus altos executivos, essas empresas executaram tarefas dignas de forças armadas. Escolta de comboios e segurança em embaixadas foram as missões mais visíveis, dada a exposição que tiveram na grande imprensa, fruto de episódios controversos que essas empresas protagonizaram naquele momento. Entretanto, houve o serviço de escolta e apoio aéreo aproximado levado a cabo pela Blackwater Aviation Unit, unidade de aviação operacional da antiga Blackwater, que, apesar de ser um serviço bem menos visível, impactou fortemente na execução de ações de segurança privada naquele teatro de operações.
Em 2011, a empresa foi vendida para um grupo de investidores privados que mudou seu nome para Academi. Com isso, a Blackwater Aviation tornou-se EP Aviation, associando-se ao grupo Constellis Holding que junto a Triple Canopy tornaram-se os maiores conglomerados de segurança privada, amealhando os principais contratos de segurança dentro do Departamento de Estado e de Defesa dos EUA.
A divisão aérea da Blackwater foi criada para prover apoio aéreo às operações conduzidas no Iraque e em outros cenários, onde o esforço de guerra ao terror era necessário. A frota era dividida em esquadrão de asas fixas e de asas rotativas, com o objetivo de proporcionar transporte de pessoal e apoio de fogo, respectivamente. Nos últimos anos, a empresa comprou um avião Super Tucano para as operações de contra insurgências no Afeganistão e aeronaves de transporte para apoio logístico nos diversos teatros de operações, especialmente nas ações no Oriente Médio e África. 
A maioria dos pilotos e operadores contratados pela antiga Blackwater era oriunda de equipes especiais das forças armadas e das polícias dos EUA. Geralmente, eram ex-militares com experiência em pilotagem de combate ou mesmo policiais que tenham pertencido a alguma unidade aérea de natureza policial. No caso dos Operadores Aerotáticos (atiradores de porta), dava-se preferência a ex-integrantes de unidades de operações especiais que, de certo modo, tivessem experiência com helicópteros. Membros do 160° Regimento de Aviação de Operações Especiais do Exército norte-americano (160th Special Operation Aviation Regiment [160th SOAR]), e Pararescue Jumper (PJ), os famosos paraquedistas de resgate da Força Aérea dos EUA (US Air Force [USAF]), eram os mais cotados para preenchimento de vagas na empresa. Contudo, Rangers e Special Forces (Boinas Verdes) do Exército e os SEALs da Marinha eram bem aceitos também.
O armamento utilizado nos helicópteros, basicamente, eram fuzis calibre 5.56 mm e a famosa metralhadora leve M 249 MINIMI, no mesmo calibre. Cada operador portava uma M 249 em ambas as portas da aeronave. Os pilotos também portavam um fuzil como backup.
A equipe básica embarcada consistia em dois pilotos e dois operadores para cada helicóptero.
Em 2003, os helicópteros foram utilizados para promover segurança em larga escala a comboios em que estava o administrador especial do Iraque, Paul Bremer, ou a outros membros do corpo diplomático cobertos pelos contratos. Basicamente, a operação consistia em dois veículos blindados Hunvees tomando a segurança à frente e dois à retaguarda. A autoridade se posicionava no veículo blindado ao centro. A missão dos dois helicópteros era de prever quaisquer contingências no percurso, escolher uma rota alternativa ou, caso o comboio fosse atacado, extrair a autoridade para um outro lugar.
Segundo procedimentos-padrões da empresa, os disparos de arma de fogo eram realizados somente de forma defensiva para  rechaçar ameaças armadas e proporcionar uma estração  segura ao VIP (Very Important Person).  Essa concepção de missão é semelhante à usada pela Coordenação de Aviação Operacional (CAOP), unidade aérea da Polícia Federal (DF) do Brasil em operações de escolta de comboios.

Figura 1: Esquema de manobra de uma missão de segurança de comboio realizada pela Blackwater Aviation durante a Guerra do Iraque (2003-2011). (Fonrte: Disponível em: https://pt.slideshare.net/b-cool/mission-impossible-or-what-it-takes-to-protect-ambassador-in-iraq Acesso em: 26 set. 2017).

A seguir são elencadas duas das principais missões executadas pelos operadores da Blackwater Aviation:

Resgate do embaixador da Polônia: No dia 3 de outubro de 2007, em Bagdá, o comboio do embaixador da Polônia no Iraque foi atacado com explosões de artefatos explosivos improvisados e disparos de fuzis, o que resultou na morte de um segurança, deixou nove feridos, bem como deixou 40% do corpo do embaixador queimado. Embora a Blackwater não fosse a responsável pela segurança do comboio, eles foram acionados e realizaram um ousado resgate em meio ao perigo de serem alvejados por foguetes e por fogos de armas leves.

Fotografia 2: Contratistas da Blakwater engajados na operação de resgate do embaixador polonês. (Fonte: Disponível em: http://blackwaterbirds.blogspot.com.br Acesso em: 20 set. 2017).

Operação de ressuprimento e combate nos céus de Najaf, Iraque: No dia 04 de abril e 2004, a cidade de Najaf, um centro de peregrinação Xiita, foi  afetada por uma grande revolta contra a ocupação americana no Iraque, conduzida  pelo clérigo  Muqtada Al Sadr, religioso muito influente na cidade. Uma das principais missões da Blackwater era de promover a segurança predial da sede regional da autoridade iraquiana, alvo da revolta dos militantes Xiitas. Passadas várias horas de combate, os contratistas e militares ficaram sem munição, precisando urgentemente de ressuprimento e de evacuação aeromédica de um Fuzileiro Naval (Marine) norte-americano. Após contato com o centro de comando e controle foi autorizado o voo de três helicópteros para levar munição e efetivos para o telhado do escritório da ocupação. Pela primeira vez, militares e contratista combateram lado a lado contra um inimigo comum.

Fotografia 3: Aeronave à serviço da Blackwater Aviation efetua operação de ressuprimento aéreo para os contratistas posicionados nos telhados de edificações da cidade de Najaf, Iraque. (Fonte: Disponível em: http://wealllook.blogspot.com.br/2005/08/blackwater-contractors-in-najaf.html Acesso em: 26 set. 2017).            

Em 23 de janeiro de 2007, uma equipe da Blackwater que estava escoltando autoridades americanas até a Zona Verde em Bagdá foi atacada por militantes islâmicos com fogos de várias armas semiautomáticas. Após pedido de ajuda ao centro de comando e controle da empresa, foram enviados dois helicópteros para apoiar a equipe terrestre. Ao chegar no local do ataque, um dos helicópteros envolveu-se em um intenso tiroteio, vindo a fazer um pouso forçado, enquanto um dos atiradores do segundo helicóptero foi atingido mortalmente com tiro de armas leves. De acordo com militares que chegaram ao lugar da queda do primeiro helicóptero, foi observado que todos os contratistas estavam com marcas de tiros pelo corpo, não sabendo se foram atingidos ainda no ar ou após a caída da aeronave.
Por um lado, o desempenho da Blackwater Aviation no Iraque foi deveras positivo em vista de seu objetivo, que era prover segurança a membros do Departamento de Estado dos EUA. Mostrou também que bons equipamentos alinhados ao emprego de ex-membros de forças especiais se constituiu uma fórmula de sucesso, a qual proporcionou coesão e espírito de corpo a essas empresas, a despeito de suas características privada e comercial. Analisando-se alguns aspectos doutrinários, houve um grande avanço acerca do emprego de pequenas frações helitransportadas em ambientes conflagrados, colocando em evidência um dos conceitos que mais cresce no ambiente das Operações Especiais (OpEsp), que é a capacidade de unidades aéreas conduzirem OpEsp, apesar de sua característica de apoio.

Fotografia 4: Aeronave CASA 212 utilizada pela Blackwater Aviation sobrevoa o Afeganistão lançando suprimento para as tropas americanas. (Fonte: Disponível em: https://inlightofrecentevents.wordpress.com/american-empire-the-costs-etc/blackwater-or-xe-and-other-affiliate-and-mercenaries/ Acesso em: 21 set. 2017).

A partir de outro ponto de vista, a participação da Blackwater no esforço de Guerra no Iraque foi, em grande medida, bastante controversa. Houve várias denúncias de violações de direitos humanos cometida por seus empregados, tendo como consequência o julgamento de alguns contratistas pelo episódio da praça Nisour, ocorrido em 16 de setembro de 2007 em Bagdá, ocasião em que 17 civis iraquianos foram mortos por guardas da Blackwater que estavam escoltando um comboio diplomático. Entretanto, não devemos esquecer que o serviço militar privado será cada vez mais demandado para realizar tarefas que exércitos formais não gostariam de fazer, ou mesmo para preencher lacunas no campo de batalha. Afinal, uma das grandes características das guerras de 4ª geração é a atuação de agentes não estatais no conflito. Sabe-se bem que isso já é uma tendência que mostra a evolução do combate nos tempos modernos, em que o poder militar e agentes privados civis estarão cada vez mais juntos utilizando-se da expertise, táticas e técnicas de ex-membros de forças especiais como forma de conter ameaças assimétricas e consequentemente lograr êxito em seus objetivos estratégicos.


Francisco Paulo Costa da Silva é policial federal desde 2004, ano em que concluiu o curso de papiloscopista na Academia Nacional de Polícia. Atualmente exerce a função de líder da equipe de operadores aerotáticos (atiradores da porta do helicóptero) da CAOP (Coordenação de Aviação Operacional) da Polícia Federal (PF). É graduado em História pela Universidade de Pernambuco e cursa pós-graduação em Relações Internacionais pela Damásio Educacional. Na PF participou do curso de operações aerotáticas, bem como do curso de atirador designado aerotático. Frequentou o Curso de Comandos Jungla (Polícia Nacional da Colômbia) além do curso de operações antidrogas pela School of the Americas (Escola das Américas) atual WHINSEC (Western Hemisphere Institute for Security Cooperation, ou Instituto do Hemisfério Ocidental para Cooperação em Segurança). Cursou o Estágio de Operação e Sobrevivência em Área de Caatinga (72º BIMtz [72º Batalhão de Infantaria Motorizado do Exército Brasileiro) e o Estágio de Atirador de Precisão (BOPE [Batalhão de Operações Policiais Especiais da PM-RJ). 




segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Informativo FOpEsp, nº 21

HANGOUT Bad Boy Tactical e NT2 
Tema: COMBATE URBANO II



Informamos que no próximo dia 25/10/17 (Quarta-Feira), a partir das 20:00hs, ocorrerá o 3º HANGOUT promovido pela Bad Boy Tactical e NT2, reunindo as maiores referências do Brasil para novamente expor o tema COMBATE URBANO. Na ocasião do evento, desenvolvido de forma ON-LINE, AO VIVO e GRATUITA (na FanPage Bad Boy Tactical e NT2 [Facebook Live]), o presente tema será abordado com o devido embasamento jurídico, com exposição pelo renomado Juiz e Presidente do Tribunal de Júri do Estado do Rio de Janeiro Dr. Alexandre Abraão.
Cada um debatendo o referido tema em éreas de atuação específicas, participarão da conferência os seguintes profissionais: 

Dr. Alexandre ABRAHÃO (Abordagem: A evolução do crime organizado no Rio de Janeiro)
Nascido e criado em uma família de policiais, o juiz de Direito Alexandre Abrahão Dias Teixeira é um estudioso das organizações criminosas no Brasil. Presidente do 3º Tribunal do Júri do Município do Rio de Janeiro, Alexandre Abrahão é responsável por julgamento de processos contra os mais perversos narcotraficantes brasileiros, instalados, notadamente, na capital carioca. Foi dele a extraordinária decisão que determinou o arquivamento do Inquérito que envolvia os policiais civis na morte do bandido Márcio José Sabino Pereira, o Matemático.


Cel Alessandro VISACRO (Abordagem: Guerra Irregular)
Oficial do Exército Brasileiro, atualmente desempenha a função de Chefe do estado-maior do Comando de Operações Especiais (COpEsp) do Exército Brasileiro, sediado em Goiânia-GO. Graduado pela turma de 1991 da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), possui os seguintes cursos militares: Curso de Ações de Comandos; Curso de Forças Especiais; Curso de Infantaria da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais;  Curso de Altos Estudos Militares da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército; Curso de Mestre de Salto Paraquedista;


Prof. Ms. Rodney  LISBOA (Abordagem: Preparação humana [física, psicológica e intelectual] do ElmOpEsp)
Professor universitário; Pós-graduado em História Militar; Mestre em Estudos Marítimos (área de concentração: Segurança, Defesa e Estratégia Marítima); Sócio correspondente do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (IGHMB); Colaborador da Revista Segurança & Defesa para o seguimento Operações Especiais; Consultor do site Plano Brasil (Defesa e Geopolítica) em assuntos relacionado às Operações Especiais; Autor de diversos artigos sobre Operações Especiais e Guerra Irregular.


Cap PM Victor BOMFIM (Mediador)
Oficial da Polícia Militar de Santa Catarina, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Graduado em Direito, Pós-Graduado em Segurança Pública e Pós-Graduando em História Militar, possuí os seguintes cursos militares: Curso de Operações Especiais (PMRO); Curso de Operações de Choque (PMPI); Curso de Patrulhamento Tático Móvel (PMRO); Curso de Patrulhamento em Ambiente Rural (PMMT); Curso de Paraquedismo Operacional (PMDF); Curso de Mergulhador Policial (PMDF).


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