Na acepção do termo a expressão “alta
performance” refere-se ao comportamento do indivíduo ao realizar determinada atividade,
sendo esse comportamento influenciado por fatores intrínsecos e extrínsecos,
valendo-se do máximo potencial das capacidades humanas para a execução das
tarefas a serem efetuadas. No contexto das Operações Especiais (OpEsp), o alto
desempenho envolve, sobretudo mas não somente, o conjunto de capacidades
humanas (física, intelectual e psicológica), que somado ao agrupamento de
valores morais, conferem ao Elemento de Operações Especiais (ElmOpEsp) o
cabedal formativo necessário para que possa conduzir ações de natureza crítica
e arriscada.
Independentemente da forma como os Estados
patrocinadores consideram o emprego de suas FOpEsp (Forças de Operações
Especiais), dos procedimentos doutrinários adotados por cada unidade, ou do
aparato tecnológico (armas e equipamentos) que lhes é disponibilizado, a
eficiência das OpEsp está centrada na capacidade do indivíduo operar em favor
da equipe em que encontra-se inserido visando a consecução dos objetivos que lhes são atribuídos.
Em se tratando de OpEsp, a alta performance do
ElmOpEsp é fruto de uma intrincada combinação de fatores que envolve: o conjunto de
experiências assimiladas pelo indivíduo ao longo da vida; o processo de seleção e treinamento
bem estruturado; o sistema de formação progressiva e continuada (sistemática); o
estabelecimento de vínculos de comprometimento nos níveis individual, coletivo
e institucional; o desenvolvimento de uma profunda coesão (confiança) com os
companheiros de equipe; além de engajamentos reais que permitam experimentações
variadas em diferentes cenários.
É imperativo esclarecer que a eficiência das FOpEsp depende, fundamentalmente, de outros componentes e não se limita apenas aos aspectos inerentes à tropa, por mais bem preparada e motivada que ela se mostre ser. Para que as competências dos ElmOpEsp sejam exploradas no mais alto nível de rendimento, é imperativo: que a tropa comprometa-se com operações que estejam em conformidade com o nível de condução do enfrentamento (político; estratégico; operacional; tático) para o qual é vocacionada; adote doutrinas de emprego compatíveis com a tipologia dos engajamentos em que se envolve; tenha à sua disposição recursos tecnológicos de última geração (estado da arte); desenvolva capacidade para operar suportando ou sendo suportada por forças convencionais; atue de forma combinada em um sistema que integra expertises de agências distintas (militares e civis); opere valendo-se de capacidade C2 (Comando e Controle) de modo a assegurar um gerenciamento operacional adequado aos requisitos da missão; bem como da relação entre o volume, a intensidade, e o tempo de engajamento.
O alto desempenho operativo que caracteriza uma
diversidade de unidades especiais que atuam no cenário internacional ocorreu a
partir de um gradativo processo de transformação da percepção e atitude, partindo
dos ElmOpEsp para com eles próprios e posteriormente da sociedade militar para
com a atividade OpEsp. O sentimento mútuo de desprezo entre os quadros
operacionais das OpEsp e das tropas regulares que, não sem motivo, caracterizou
as relações passadas, sofreu um revés quando as unidades de elite tiveram que ser suportadas por forças convencionais devido
às exigências do engajamento. O conceito de Special
Forces Centric Warfare (Guerra Centrada nas Forças de Operações Especiais) difundido,
principalmente, por ocasião da Guerra Global contra o Terrorismo, conduzida
pelos EUA e seus aliados após os atentados de 11 de Setembro de 2001, arrefeceu
as diferenças históricas que caracterizavam as relações entre as OpEsp e as
tropas convencionais, levando os Estados engajados no conflito a adaptarem-se à
nova realidade, criando condições para que as forças regulares desenvolvessem
competências que permitisse mobilizar toda sua panóplia militar em favor do
desempenho das FOpEsp. Por sua vez, coube aos ElmOpEsp a incumbência de assumir sua conduta prepotente despojando-se da convicção autossuficiente, de modo a reconhecer a extrema
relevância do apoio ofertado pelas tropas convencionais à atividade OpEsp.
Em última análise, assim como ocorre em
qualquer segmento profissional, no que concerne às OpEsp, operar em alta
performance consiste no esforço para mobilizar todos os recursos (do indivíduo, da equipe, da unidade, da instituição, e do Estado) no intuito de alcançar
os objetivos/atribuições reduzindo ao máximo as possibilidades de fracasso.