Texto elaborado por Rodney Alfredo P. Lisboa, publicado originalmente pela Revista Segurança & Defesa, n° 120, pgs. 54 a 58, 2015.
Embora a tecnologia militar tenha avançado
vertiginosamente no curso dos conflitos travados ao longo do tempo, a guerra
ainda é um empreendimento sustentado e decidido, sobretudo, com base no esforço
humano. Contudo, devido à propensão de potencializar as capacidades humanas no
campo de batalha, as aplicações tecnológicas maximizam vantagens, fazendo com
que a balança de mensuração de força penda a favor das tropas dotadas com
maiores e melhores recursos. Tal premissa aplica-se principalmente às Operações
Especiais (OpEsp) por ocasião da precisão requerida, muitas vezes visando a
consecução de objetivos estratégicos de natureza crítica para o Estado
patrocinador da ação.
O caráter sensível das missões para quais as
Forças de Operações Especiais (FOpEsp) se destinam requer uma grande variedade
de informações obtidas em tempo real ou quase real a fim de segurança
operacional. Para que possam planejar ou realizar suas ações, as tropas
especiais são dependentes de sistemas de sensores de alta resolução que operam
diuturnamente fornecendo imagens independente das condições meteorológicas. Nos
vários eventos em que se envolveram no passado, as unidades de elite
mostraram-se dependentes de satélites e aeronaves tripuladas com a função C3
(Comando; Controle; Comunicação), como o Lockheed U-2, Northrop Grumman E-8
Joint STARS ou o Boeing E-3 Sentry, para fornecer dados de inteligência que
muitas vezes não tinham prioridade voltada para as operações em pequenas escala
conduzidas por um Destacamento de Forças Especiais (DFOpEsp). Vulgarmente
identificadas pelo termo genérico drone, as Aeronaves Remotamente Pilotadas
(ARP) – também conhecidas por Veículos Aéreos Não Tripulados (VANT), sua
designação anterior – passaram a ser utilizadas, entre outras funções, para
suprir a deficiência em relação ao apoio de inteligência ofertado às FOpEsp.
Apesar do emprego de ARP ter obtido notoriedade no decorrer das campanhas militares levadas a efeito no Afeganistão (2001-2011) e Iraque (2003-2011), as aeronaves desprovidas de piloto embarcado já foram utilizadas em conflitos anteriores aos ocorridos no século XXI. Durante a Guerra do Vietnã (1959-1975), aeronaves do tipo Ryan Model 147 “Lightning Bug” da USAF (US Air Force, ou Força Aérea dos Estados Unidos) revelaram a localização de aeródromos e plataformas de lançamento de SAM (Surface to Air Missile, ou Misseis Superfície-Ar) operadas por forças norte-vietnamitas. Na Guerra do Líbano (1982) a IAF (Israel Air Force, ou Força Aérea de Israel) valeu-se dos UAV (Unmanned Aerial Vehicle, Veículos Aéreos Não Tripulados) modelo Pionner para detectar SAM no Valle de Bekaa. No decorrer da Operação Tempestade do Deserto (1991), essa mesma categoria de ARP coletou informações no nível tático para o 5th SFG(A) (5th Special Forces Group Airborne, ou 5° Grupo de Forças Especiais Aerotransportada) na campanha de caçada aos mísseis Scud iraquianos.
Mesmo podendo executar missões de
Reconhecimento Armado, Supressão dos Sistemas de Defesa Aérea e Supressão de
Meios Aéreos, as ARP são empregadas por FOpEsp, especificamente, devido a sua
capacidade de executar missões ISR (Intelligence, Surveillance and
Reconaissance, ou Inteligência, Vigilância e Reconhecimento), fornecendo, por
ocasião de um sistema integrado de captação e transmissão de dados (radar de
abertura sintética; câmera de TV diurna e câmera de imagem termográfica [ambas
com abertura variável]; sensor eletro-óptico; designador infravermelho), um
pacote de informações transmitidas via rádio que auxiliam no encadeamento do
“Engajamento de Precisão”. O conceito de Engajamento de Precisão foi
estabelecido pela Joint Vision 2020 (documento emitido pelo Departamento de
Defesa dos EUA formulando a base da doutrina militar norte-americana)
considerando, no nível estratégico da guerra, a capacidade de forças conjuntas
na tarefa de localizar, vigiar, discernir e acompanhar objetivos ou alvos;
selecionar, organizar e utilizar os sistemas corretos; gerar os efeitos desejados;
avaliar os resultados obtidos; responder, quando necessário, com velocidade
decisiva e ritmo operacional esmagador conforme os requisitos da operação
militar em questão.
Ainda que as ARP prestem uma significativa contribuição às OpEsp, por problemas de ordens diversas alguns atores estatais têm grandes entraves para disponibilizar as capacidades desse vetor em favor das OpEsp. Nesse sentido, por não perceberem o setor de Defesa como prioritário, determinados Estados não viabilizam o aporte financeiro necessário para suprir a demanda do setor, limitando a aquisição e o desenvolvimento de novas tecnologias. As OpEsp também se deparam com obstáculos político-estratégicos, devido a forma incompatível com que são utilizadas, sendo percebidas pelas autoridades apenas como uma alternativa tática, fato que faz com que os expedientes das ARP sejam postulados, principalmente, para ações consideradas de valor estratégico. A limitação tecnológica representa outra barreira, uma vez que as OpEsp têm exigências muito específicas que requer das ARP aprimoramento tecnológico dos sistemas de entrelaçamento de dados, autonomia de voo e capacidade de carga para o transporte de suprimentos que poderiam potencializar a capacidade do DFOpEsp desdobrado para desempenhar missões de natureza variada.