Destacada como uma das principais divindades
da mitologia grega, Athena é cultuada, entre outras virtudes, como a deusa da
estratégia de batalha. Reverenciada como a antítese de Ares, o deus da guerra,
ela possui grande habilidade e sabedoria, enquanto ele prima pela violência e impulsividade,
características que muitas vezes o leva a ser incapaz de distinguir aliados e
inimigos no campo de batalha. As vitórias que conquistou nos constantes embates
travados contra Ares ratificam a submissão da força bruta à soberania e ao equilíbrio,
motivo que nos leva a usá-la como figura símbolo deste breve estudo.
Embora a guerra seja um empreendimento
associado, quase que exclusivamente, ao gênero masculino, não são poucos os
exemplos de mulheres que se destacaram no campo de batalha combatendo juntos
aos homens, muitas vezes sendo forçadas a ocultar sua verdadeira identidade. Ainda
que o papel das mulheres nas funções de combate seja um tema controverso por
ocasião de questões éticas e morais, muitas delas demonstraram o valor do
engajamento feminino lutando em inúmeros conflitos de natureza regular (guerra
convencional) ou irregular (guerra de guerrilha) conduzidos no decorrer da
História. Sobretudo durante a Segunda Guerra Mundial, as mulheres trabalharam
como enfermeiras, pilotaram aviões, e agiam clandestinamente transmitindo
informações relacionadas à evolução e consequências dos combates. Percebidas no
passado, majoritariamente, como elemento vulnerável e vítima inocente nas áreas
de conflito, no início do século XXI elas passaram a conquistar um espaço
gradativo, sendo destacadas para executar funções que lhes eram negadas no
passado, principalmente nas zonas de confronto.
Em Israel, país cuja tradição prevê o serviço
militar obrigatório para ambos gêneros, as mulheres que atuam em unidades
vocacionadas para o combate são, invariavelmente, dispensadas após seu casamento
ou maternidade devido ao papel social ocupado pela mulher junto à família
(esposa e/ou mãe).
Ainda que a década de 1990 represente uma
evolução no que se refere ao engajamento feminino em campanhas militares,
servindo em funções de apoio, inteligência, bem como nas atividades navais e de
aviação, as cerca de 40 mil mulheres mobilizadas na Guerra do Golfo (1990-1991)
mantiveram-se distantes das atribuições de combate delegadas aos soldados de
infantaria. Entretanto, a Guerra Global contra o Terrorismo iniciada pelo
governo do presidente George W. Bush (2001-2009) após a série de atentados
contra o território norte-americano perpetrados pela al-Qaeda em 11 de setembro
de 2001, promoveu profundas mudanças na forma como os EUA encaravam seus
antagonistas revelando significativas lacunas em sua estratégia de
enfrentamento. Assim, o engajamento feminino nas funções de combate passou a
ser rediscutido na alta cúpula das Forças Armadas estadunidense.
Considerado como um estudioso das constantes
transformações ocorridas no decorrer da guerra, o Almirante Eric Thor Olson, Comandante do USSOCOM (US Special
Operations Command [Comando de Operações Especiais dos EUA]) entre 2007 e 2011, acreditava
que as tropas norte-americanas encontravam-se desequilibradas, demasiadamente
preparadas para o confronto (Ação Direta) mas insuficientemente aptas para
travar a guerra baseada no conhecimento (Ação Indireta). Por terem se engajado em
um conflito travado contra um inimigo cujas particularidades socioculturais eram
praticamente desconhecidas, aos militares norte-americanos carecia informações
relacionadas às especificidades da população afegã. Para o Almirante Olson, por
serem as mulheres capazes de exercer grande influência na sociedade local, uma
gama de informações cruciais se mostrava inacessível devido ao código islâmico
do povo pachtun (situados nas regiões leste e sul do Afeganistão, bem como no
Paquistão) que impede as mulheres de manter contato com qualquer homem que não
esteja em seu círculo de relações (conjugal ou sanguínea).
A ideia do Almirante Olson começou a ganhar força em
2010, quando o Almirante William Harry McRaven, Comandante do JSOC (Joint Special Operations Command [Comando
Conjunto de Operações Especiais]) entre 2008 e 2011, solicitou a presença de mulheres militares
para atuar como “facilitadoras” (conduzindo interrogatório tático junto às
mulheres afegãs) em apoio às ações de combate levadas à efeito pelo 75th Ranger Regiment (75° Regimento Ranger) no
Afeganistão. Para o JSOC o emprego de soldados femininos era imprescindível,
pois a presença de mulheres militares não violaria códigos culturais e
auxiliaria a estabelecer relações de confiança das tropas com os pachtuns. Respondendo
imediatamente à solicitação do JSOC, o Comandante do USSOCOM solicitou ao USASOC
(US Army Special Operations Command [Comando
de Operações do Exército dos EUA]) que iniciasse um programa de treinamento
feminino. Dividido em dois CSTs (Cultural Support Team [Equipe de Apoio Cultural]), esse programa era duplamente vocacionado.
Enquanto o primeiro grupo estava sendo preparado para operar em ações efetivas
de combate com os Rangers conduzindo métodos de Ação Direta, o segundo grupo capacitava-se
para atuar junto às Special Forces
(Forças Especiais) executando métodos de Ação Indireta nas relações das tropas
com a população local e seus líderes.
Fotografia 3: Integrante do CST-2 interage com crianças de origem pachtun em uma das províncias do Afeganistão. (Fonte: Disponível em: https://specialoperations.com/30488/female-special-forces-officers/ Acesso em: 17 set. 2018). |
Continua...