Por definição “número” é um instrumento da
matemática empregado com finalidades distintas resultantes de processos de
contagem, medição, ordenação e/ou codificação. Considerado como uma forma de
identificação eficiente, os números têm sua utilização difundida nas Forças
Armadas (FFAA) e Forças de Segurança Pública (FSP), sobretudo, como indicativo
visual.
Para se ter uma ideia da longevidade do
emprego de números como forma de identificação de tropas militares, as Legiões
Romanas, cuja organização formal data das Guerras Samnitas que antagonizaram a
República Romana e os Samnitas (indo-europeu que habitava a península itálica)
entre 343 e 290 a.C., eram reconhecidas por simbologia expressa por números e
nomes (ex. Legio I Germanica; Legio II Sabina; Legio III Gallica; Legio
VI Victrix; Legio VIII Augusta, etc.).
Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918)
algumas tropas valiam-se da utilização de números para definir postos
hierárquicos, diferenciando os comandantes e seus comandados.
Por ocasião da denominada “Operação Overlord”
(popularmente conhecido como “Dia D”), levada à efeito em 6 de junho de 1944 em
decorrência da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), as tropas aerotransportadas
norte-americanas que desembarcaram na Normandia (região noroeste da França) para
confrontar as forças da Alemanha Nazista eram identificadas por números.
No contexto contemporâneo, a utilização da
numérica no uniforme (colete, capacete e fardamento) funciona como um código
empregado com a finalidade de transmitir mensagens de forma oculta, podendo ser
compreendida apenas pelas pessoas que conhecem o código em questão.
No âmbito operativo, a numérica tem por
objetivo básico identificar o operador tático (atua taticamente em equipe de
forma homogênea e uniformizada) e/ou especial (atua taticamente em equipe de
forma heterogênea e não-necessariamente uniformizada) de forma mais rápida,
ágil e eficaz em situações de enfrentamento e/ou crise, favorecendo no
direcionamento de atribuições uma vez que a unidade de comando (autoridade de direção
e controle da força atribuída a uma só pessoa sendo qualquer militar/policial
subordinado a um único chefe superior) não pode ser comprometida, assim como a
verbalização de ordens não podem ser mal interpretada.
Embora seu uso tenha padronização que varia
de unidade para unidade, a numérica é utilizada genericamente com base no
trinômio Simplicidade, Sigilo e Segurança. Seu emprego, além da função primária
de identificação, busca assegurar discrição tanto no que concerne à missão
realizada quanto à identidade do militar/policial que dela participa.
Especialistas na condução da modalidade de
Guerra Irregular, os Special Forces Groups (Grupos de Forças
Especiais) do Exército norte-americano é apenas um exemplo de tropa que se vale
de códigos alfanuméricos como elemento de identificação e comunicação. Na
comunidade estadunidense das Special Forces, especificamente, os
operadores têm um conjunto específico de habilidades constituído a partir de
sua MOS (Military Occupational Specialty [Especialidade Ocupacional
Militar]), código de nove caracteres usado pelo Exército e Corpo de Fuzileiros
Navais para identificar uma tipologia de trabalho adequada a cada
militar. Para se qualificarem nos MOS, os operadores devem frequentar o
SFQC (Special Forces Qualification Course [Curso de Qualificação das
Forças Especiais]) com duração de até dois anos, dependendo da MOS. Após
completarem o SFQC, os operadores são designados para um ODA (Operational
Detachment Alpha [Destacamento Operacional Alfa) em um dos cinco Grupos de
Forças Especiais. Um típico ODA constituído por doze operadores comporta as
seguintes MOS: 18A (Oficial Comandante de Destacamento); 180A (Oficial
Subcomandante de Destacamento); 18Z (Sargento de Operações); 18F (Sargento de
Inteligência); 18B (2 Sargentos de Armamentos); 18C (2 Sargentos de
Engenharia/Demolições); 18D (2 Sargentos de Saúde); 18E (2 Sargentos de
Comunicações).
Na identificação dos operadores envolvidos em
uma dada missão, a numérica expressa nos uniformes auxilia a prover informações
precisas de modo a direcionar o curso das ações reduzindo ao máximo as
possibilidades de erro devido a eventuais falhas na comunicação.
* Rodrigo Araújo Ferreira é policial vinculado ao GATE (Grupamento de Ações Táticas Especiais) da PMPB (Polícia Militar da Paraíba). Policial militar desde 2012, o autor frequentou o CATE (Curso de Ações Táticas Especiais) em 2016, possui graduação em Geografia e atualmente é bacharelando em Direito.