domingo, 13 de novembro de 2016

A MÃO OCULTA QUE SEGURA O PUNHAL: Histórico das Forças de Operações Especiais do Exército Brasileiro (Parte 2)

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.

Fotografia 4: Cerimônia de formatura do Destacamento de Forças Especiais (DFEsp) na sede da Colina Longa, Vila Militar-RJ. (Fonte: Acervo do CopEsp). 

O batismo de fogo do Destacamento de Forças Especiais (DFEsp) do Exército Brasileiro (EB) ocorreria nos anos iniciais da década de 1970, em um período conturbado da história brasileira, quando as Forças de Defesa do país travaram uma incessante luta doméstica engajando-se nas ação de contraguerrilha levadas a efeito, sobretudo, contra o foco de guerrilha rural localizado na região de fronteira entre os estados de Goiás e Pará. A sucessão de operações realizadas por ocasião das ações de enfrentamento contra a autodenominada Força de Guerrilha do Araguaia (FOGUERA) entre 1972 e 1974 contribuiu substancialmente para que as doutrinas e procedimentos considerados para o combate de adversidades dessa natureza fossem colocados à prova, promovendo a aquisição de uma expertise autóctone que foi incorporada ao portfólio das Operações Especiais (OpEsp) executadas pelas unidades militares de elite do EB. As ações conduzidas pelo DFEsp na região amazônica próxima aos municípios de Marabá, São Geraldo do Araguaia (ambas situadas no Pará) e Xambioá (Goiás), colaborou de forma decisiva para coibir a iniciativa de implementar no Brasil uma revolução socialista nos moldes das revoluções chinesa (1946-1949) e cubana (1953-1959).
Paralelamente ao esforço empreendido no confronto ao movimento guerrilheiro, quadros operacionais do DFEsp contribuíram para a criação de importantes núcleos de formação, como o Curso de Comandos ministrado pelo Centro de Operações na Selva e Ações de Comandos (COSAC [Atual Centro de Instrução de Guerra na Selva [CIGS]), localizado em Manaus-AM, e o Curso de Montanhismo ofertado pelo 11º Batalhão de Infantaria de Montanha (11º BIMth), situado em São João Del Rey-MG.
Especificamente no que se refere ao Curso de Comandos, é importante destacar que sua instituição no COSAC ocorreu como consequência direta da presença de movimentos guerrilheiros na selva amazônica e da necessidade de se empreender operações militares nesse tipo de ambiente. O currículo desse curso inovou ao incluir em sua grade de disciplinas um período de estágio em ambiente de caatinga. No final dos anos 1970, alterações na estrutura de ensino fizeram com que o Curso de Comandos fosse novamente ministrado de forma exclusiva pelo Centro de Instrução Paraquedista General Penha Brasil (CIPQDTGPB) vinculado a Brigada de Infantaria Paraquedista (BdaInfPqdt).
Por sua vez, o Curso de Montanhismo teve sua gênese a partir da prática de montanhismo militar realizada no Curso de Operações especiais ministrado pelo CIEspAet (Centro de Instrução Especializada Aeroterrestre [atual CIPQDTGPB]), localizado no Rio de Janeiro-RJ. Na década de 1970, o Curso de Comandos oferecido pelo CIPQDTGPB incorporou em seu currículo uma fase de operações de montanha. Em 1979, o DFEsp foi convidado pelo então comandante do 11º BIMth para prover o reconhecimento da área daquela unidade e a preparação dos diferentes locais onde ocorreriam as instruções do futuro Campo-Escola de Montanhismo (CEMonta), antecessor dos atuais Cursos de Montanhismo ofertados tanto para as tropas do EB, quanto para as demais Forças Singulares e Auxiliares.

Fotografia 5: Instrução ministrada durante o Curso de Ações de Comandos ministrado pelo Centro  de Operações na Selva e Ações de Comandos (COSAC). (Fonte: Acervo do Copesp). 


Entre o final da década de 1970 e o início da década de 1980, as autoridades militares brasileiras preocupavam-se com a crescente atividade comunista na região do Caribe. Localizado na região fronteiriça com o Brasil, o Suriname era percebido como eventual ameaça à segurança nacional por estreitar relações com governos latino-americanos de orientação socialista. Por decisão do governo do presidente João Baptista Figueiredo (1979-1985) a solução pragmática encontrada para solucionar essa questão ocorreu com o envio de uma missão diplomática (Missão Venturini [liderada pelo Ministro do Gabinete Militar General-de-Brigada Danilo Venturini]) ao país vizinho com o intuito de persuadir as autoridades surinamenses a se afastar da influência socialista. O caráter sensível da missão diplomática requeria o emprego de uma tropa qualificada e em condições de resgatar seus integrantes em caso de necessidade. Como o EB não dispunha de uma tropa com capacidade para operar em regiões longínquas e com recursos de direção e apoio reduzidos, optou-se por engajar o Para-SAR da Força Aérea Brasileira (FAB) para cumprir essa tarefa. Esse episódio evidenciou a necessidade do EB dispor de uma tropa com tais características, levando o General-de-Exército Walter Pires de Carvalho e Albuquerque, então Ministro da Guerra, a determinar a realização de um estudo visando a criação de uma unidade com tais requisitos capaz de operar no exterior. Conduzido pelo Coronel Edwar Cavalcante Leite (Estado-Maior do Exército [EME]), assessorado pelo Capitão Rui Monarca da Silveira (Comandante do DFEsp), o trabalho desenvolvido culminou com a criação do 1ºBatalhão de Forças Especiais (1º BFEsp) em agosto de 1983. Como as dependências do CIPQDTGPB não teria condições de alocar o efetivo de um batalhão, a recém-criada Organização Militar (OM) foi transferida da sede da Brigada de Infantaria Paraquedista (BdaInfPqdt) para o Forte do Camboatá, região de Deodoro, no Rio de Janeiro-RJ. 


Fotografia 6: Solenidade de instalação do 1º Batalhão de Forças BFEsp nas dependências do Forte do Camboatá, Rio de Janeiro-RJ. (Fornte: Acervo do COpEsp).


A transferência para o Forte do Camboatá representou um divisor de águas para as OpEsp do EB, uma vez que a OM encontravam-se doutrinariamente enquadradas no EB passando a ter maior demanda por missões com características distintas daquelas executadas pela BdaInfPqdt. Entretanto, o 1º BFEsp permaneceu vinculado à BdaInfPqdt como unidade subordinada, sendo organizado em uma estrutura de Comando e Estado-Maior, uma Companhia de Comando e Serviços (CCSv), uma Companhia de Forças Especiais (Cia FEsp) e uma Companhia de Ações de Comandos (CAC). Esssa estrutura organizacional permaneceria até 1989, quando a unidade passou a contar com uma Companhia de Comando e Serviços, duas Companhias de Forças Especiais (1ª e a 2ª CiaFEsp), cada uma enquadrando um Destacamento de Coordenação e Controle (DCooCt) e quatro DOFEsp, além de uma Companhia de Ações de Comandos, com uma Seção de Comando (SeçCmdo) e quatro Destacamentos de Ações de Comandos (DAC). Nesse mesmo ano o 1º BFEsp assumiria a responsabilidade de administrar os Cursos de Ações de Comandos e de Forças Especiais.  


Fotografia 7: Acesso principal do 1º Batalhão de Forças Especiais (1º BFEsp) no Forte do Camboatá, Rio de Janeiro-RJ. (Fornte: Acervo do COpEsp). 



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