sexta-feira, 23 de novembro de 2018

As Sentinelas de Athena: O Engajamento de Mulheres nas Tropas de Operações Especiais do Exército dos EUA (Parte Final)

Texto elaborado por Rodney Alfredo P. Lisboa


Fotografia 4: Quadros operacionais das CSTs interagem com mulheres e crianças em uma aldeia afegã. (Fonte: Disponível em: https://www.dvidshub.net/image/1069689/cultural-support-team Acesso em: 22 nov. 2018).  

Constituídas de três a cinco operadoras, as CSTs (Cultural Support Teams [Equipes de Apoio Cultural]) do Exército norte-americano atuavam na Guerra do Afeganistão (2001 até o presente) provendo o suporte às FOpEsp (Forças de Operações Especiais) executando diferentes operações de campo, incluindo ações de combate.
Conhecedoras da cultura e tradições locais, cabia à essas militares a tarefa de interagir com a população feminina afegã, sobretudo, nas denominadas VSO (Village Stability Operations [Operações de Estabilidade de Aldeias]) conduzindo programas de assistência médica, assistência humanitária, construção de relacionamentos, além de coleta de dados de inteligência.
A presença das CSTs possibilitou que a Força de Coalizão liderada pelos EUA rompesse uma barreira culturalmente intransponível, uma vez que as mulheres afegãs eram impedidas de manter contato com homens estranhos ao seu círculo familiar. O engajamento das operadoras no conflito permitiu o acesso direto a uma importante parcela da população afegã (50% dos afegãos são mulheres), considerada como elemento central na condução do lar e na educação da família, possibilitando o alcance a importantes fontes de informação até então inacessíveis às tropas.
O processo seletivo para as CSTs foi conduzido pelo USASOC (US Army Special Operations Command [Comando de Operações Especiais do Exército dos EUA]), localizado em Fort Bragg, no estado da Carolina do Norte. Assim como ocorre com qualquer programa de Operações Especiais para homens, a seleção para mulheres foi constituída no decorrer de seis semanas de exigentes testes físicos e intelectuais aplicados com o objetivo de avaliar as capacidades psicológicas das candidatas para atuar em um ambiente norteado pela incerteza, elevado risco e reduzido feedback. Coube ao Cultural Support Assessment and Selection Program (Programa de Avaliação e Seleção das Equipes de Apoio Cultural) a tarefa de eliminar àquelas candidatas que não apresentavam perfil compatível com as exigências da demanda requerida.

Fotografia 5: Candidatas ao Cultural Support Assessment and Selection Program (Programa de Avaliação e Seleção das Equipes de Apoio Cultural) durante instrução conduzida pelo U.S Army John F. Kennedy Special Warfare Center and School em Fort Bragg. (Fonte: Disponível em: https://www.flickr.com/photos/insideswcs/5915659924 Acesso em: 22 nov. 2018).


Atuando como “facilitadoras” para ações posteriores conduzidas pelas FOpEsp, as operadoras das CSTs engajaram-se no Afeganistão com os quadros operacionais masculinos, conduzindo patrulhas, realizando a limpeza de aldeias e, quando necessário, participando do confronto armado. Lutando ombro à ombro com os operadores em operações de Ação Direta, as integrantes das CSTs colocaram-se à prova no campo de batalha. Comprovando seu valor como combatentes, elas fizeram cair por terra argumentos contrários à sua presença nas funções típicas de infantaria, refutando a premissa da fragilidade feminina, contestando a alegação de que seriam uma distração para seus companheiros homens. 
Sobre a interação entre militares de ambos gêneros, uma questão que merece ser abordada refere-se aos relacionamentos afetivos e/ou sexuais instituídos durante os engajamentos. Como uma característica intrínseca da espécie humana, é fato que o instinto natural fará com que homens e mulheres se relacionem independentemente do ambiente em que estejam vivenciando. Como ocorre em todo ambiente profissional, a questão aqui não é evitar que as relações entre os militares ocorram, mas sim que elas ocorram resguardando o profissionalismo e atendendo às respectivas tarefas operativas. Um(a) operador(a) que não consegue manter um relacionamento afetivo e/ou sexual no ambiente de trabalho enquanto executa suas atividades profissionais está fadado a fracassar no desempenho de suas funções, podendo comprometer a performance coletiva e o resultado das operações.
Outra questão fundamentalmente importante, diz respeito à capacidade feminina de suportar os rigores do combate. Especificamente no que concerne ao processo seletivo para as CSTs, estipulou-se que para se qualificarem no programa as candidatas deveriam, independente das características anatômicas e fisiológicas próprias de seu gênero, ter que se adequar ao ambiente operativo. Assim, caberia a elas desempenhar um conjuntos de tarefas árduas e sem qualquer concessão. No campo de batalha, homens e mulheres devem ser capazes de responder igual e prontamente às severas exigências físicas, intelectuais e psicológicas que lhes são impostas, e caso não demonstrem predisposição para isso devem ser desconsiderados para missões dessa ordem.

Fotografia 6: Operadoras da Jegertroppen norueguesa participam de instrução de tiro. (Fonte: Disponível em: https://womenintheworld.com/2017/04/18/norways-jegertroppen-the-worlds-1st-all-female-special-forces-unit-impress-top-military-brass/ Acesso em: 22 nov. 2018).

Os efeitos da Guerra Global contra o Terrorismo iniciada em 2001 após os atentados de 11 de Setembro, permitiu a quebra de um paradigma que restringia a comunidade OpEsp ao gênero masculino. A necessidade, motivada por particularidades culturais, possibilitou o ingresso de mulheres nas unidades militares de elite, fato que potencializou a atuação das tropas e contribuiu significativamente para conscientizar os decisores para novas possibilidades de emprego.
Ainda que os EUA tenham se notabilizado pelo desenvolvimento do programa CSTs, o emprego de mulheres no âmbito das tropas especiais não é uma exclusividade norte-americana. Vinculada ao FSK (Forsvarets Spesialkommando [Comando de Operações Especiais da Noruega]), a Jegertroppen é considerada como a primeira FOpEsp constituída apenas por mulheres, sendo responsável pela condução de Reconhecimento Especial em áreas urbanas. Assim como ocorreu com as CSTs, a Jegertroppen também foi empregada no Afeganistão basicamente da mesma forma como sua contraparte estadunidense.









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