Conduzida como uma resposta aos atentados
terroristas perpetrados pela al-Qaeda contra o território norte-americano em 11
de setembro de 2001, a Guerra Global contra o Terrorismo (GWOT [Global War on
Terrorism]) evidenciou o emprego estratégico das Forças de Operações Especiais
(FOpEsp). Embora tenham atraído grande atenção pública por ocasião da constância
com que os órgãos de imprensa repercutiam as operações levadas à efeito em
países como Afeganistão, Iraque, Paquistão, Iêmen e Somália, a opção dos
Estados por utilizar as Operações Especiais (OpEsp) como uma alternativa
estratégica em favor de seus interesses não é recente.
Sobre o emprego político-estratégico das
FOpEsp, a história é pródiga em nos apresentar exemplos de ações militares que
não se limitaram as implicações do campo de batalha. A criação dos Commandos
britânicos durante a Segunda Guerra Mundial ocorreu com o propósito de evidenciar
a intenção e determinação do governo do primeiro ministro Winston Churchill de
continuar lutando, a despeito de sua temporária incapacidade de lançar uma
contra ofensiva em larga escala contra a Europa ocupada. Também durante a
Segunda Grande Guerra a Operação Pazerfaust (15 de outubro de 1944) promoveu o
sequestro de Miklós Horthy Jr. (filho do regente Húngaro Miklós Horthy) por
homens das unidades SS Friedenthal lideradas por Otto Skorzeny, com o objetivo
de impedir que a Hungria abandonasse a aliança com o Eixo no intuito de
aproximar-se dos Aliados. A ação de resgate de reféns ocorrida por ocasião da
Operação Thunderbolt (4 de julho de 1976), em virtude da via diplomática
(negociação) aparentemente ter se esgotado tornando o uso da força por
integrantes do Sayeret Matkal (unidade das Forças de Defesa de Israel) a melhor
alternativa estratégica para a solução do problema.
Ponderando sobre a utilidade estratégica de
um componente militar, é necessário esclarecer que a verdadeira utilidade estratégica
desse componente para o poder nacional é calcada nas suas capacidades de
projetar ou defender os interesses nacionais. Nesse contexto, para que uma FOpEsp
possa ser empregada de forma estratégica é necessário que a unidade em questão
tenha um valor substantivo no exercício desse papel. Sobre a relevância
estratégica das FOpEsp, Colin S. Gray, professor de Relações Internacionais e
Estudos Estratégicos da Universidade de Reading (Reino Unido) afirma:
As Forças de Operações Especiais são um ativo da grande estratégia nacional: elas constituem uma ferramenta de política que pode ser empregada cirurgicamente em apoio à diplomacia, assistência estrangeira (de inúmeras formas), bem como um das forças militares regulares, ou como uma arma independente.
Ponderando sobre a utilização das FOpEsp em
favor da Grande Estratégia dos Estados (utilização de todos os instrumentos de
poder disponíveis para a conquista e/ou manutenção de objetivos políticos),
Gray evidencia as unidades de elite como um importante instrumento do Poder
Militar que pode ser empregado em favor dos interesses estatais (política). As
campanhas levadas a efeito por FOpEsp na Guerra do Kosovo (1999) e na Guerra do
Afeganistão (2001), são exemplos do emprego estratégico das unidades de elite
em favor dos interesses dos Estados, uma vez que os resultados obtidos
conscientizaram as autoridades estatais que grandes objetivos políticos podem
ser alcançados por Elementos de Operações Especiais (ElmOpEsp) organizados em pequenas
unidades e sem a onerosa necessidade de utilizar os grandes contingentes das
tropas convencionais.
É pertinente enfatizar que o aprimoramento
das políticas e estratégias nacionais de Defesa de um determinado Estado deve
ser compatível com os propósitos estabelecidos por ele. Por estarem os temas
atinentes à Defesa Nacional relacionados à integridade territorial, à soberania
nacional e aos interesses essenciais de uma nação, questões inerentes ao
reconhecimento e incremento das capacidades das Forças Singulares (Exército,
Marinha e Força Aérea), sendo incluídas nesse contexto as competências das FOpEsp.
No decorrer desse processo de valorização, dois fatores têm importância
fundamental: envolvimento da sociedade e a adoção de medidas efetivas.
Sobre o envolvimento da sociedade
considera-se que a Educação desempenha um papel indispensável na formação de
cidadãos (militares e civis) envolvidos com a temática da Defesa.
Por sua vez, a adoção de medidas efetivas
requer a Formulação de políticas e estratégias de Defesa; alocação de recursos
financeiros conforme as necessidades de Defesa do país; planejamento conjunto
de Defesa envolvendo todos os níveis institucionais; solidez das instituições
militares; preparo e equipamento adequados das Forças Armadas (FFAA); inclusão
da temática OpEsp nas estruturas curriculares das escolas de formação militar
(para oficiais e praças); desenvolvimento de estudos científicos pertinentes ao
setor de Defesa; implementação de um sistema
eficiente de mobilização nacional; construção e manutenção de uma Base
Industrial de Defesa (BID).
No que concerne às OpEsp realizadas pelas
tropas especiais brasileiras, a questão central que incita a reflexão refere-se
a necessidade/viabilidade de se estabelecer, de forma singular e/ou conjunta, estruturas
de Comando que, respeitando as particularidades de cada um de seus componentes,
sejam capazes de organizar e integrar as unidades de elite a elas vinculadas.
Para tanto, é imprescindível que a sociedade castrense brasileira, assim como
ocorreu com a comunidade militar de países como EUA, Reino Unido, França,
Canadá e Austrália, compreenda as características contemporâneas do conflito, cujas
ameaças, diferente do perfil predominantemente estatal (militar) do passado, não
se restringem ao modelo clássico da Guerra de Atrito, conduzida por tropas
convencionais de Estados adversários que se confrontam (respeitando as Leis da
Guerra e a Convenção de Genebra) em espaços geográficos previsíveis, a fim de
reduzir a eficiência de combate do inimigo (destruição dos meios físicos [humanos
e materiais] do oponente).
Mesmo que o Estado brasileiro estivesse em
condições de formular estratégias e políticas de Defesa compatíveis com as
reais necessidades do país, promovendo junto à sociedade uma cultura de
valorização de questões atinentes ao tema, atendê-los não acarretaria em uma
alteração automática no modo como nossas FOpEsp são empregadas, uma vez que o
pensamento vigente e plural entre os militares de nossas FFAA continua sendo
influenciado pelo conceito operacional que predominou no século passado, projetando
o emprego das unidades de elite apenas como uma alternativa tática, com efeitos
de suas ações restritos ao campo de batalha. A realidade dos conflitos atuais, que valoriza
as unidades especializadas em confrontar ameaças que lançam mão de métodos não
convencionais de enfrentamento, requer por parte dos militares brasileiros uma
percepção totalmente nova, fazendo com que as FOpEsp sejam consideradas não
apenas como um recurso tático, mas como um expediente estratégico que busca
obter efeitos político-militares amplos, prolongados e decisivos.
Militares da PM pode vim a fazer o curso e posteriormente participar COpEsp?
ResponderExcluirPrezado Guilherme, respondendo ao teu questionamento, p/ pleitear os cursos ministrados pelo Centro de Instrução de OpEsp que formam os operadores do EB (Comandos e Forças Especiais), o candidato deve ser. obrigatoriamente, militar vinculado ao Exército. Forte abraço!!!
ExcluirCreio que não amigo pelo menos no CIOPESP(Centro de Instrução das Op Espec) do rio os requisitos são de ser um militar concursado , exemplo : formado 3ºSGT na ESA ou tenente formado na AMAM , creio eu que possa ser apenas militares do exército.
ResponderExcluirBravo Zulu, Mestre Rodney.
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