terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Emprego das Tropas Especiais do Exército Brasileiro na Intervenção Federal do Rio de Janeiro

Reprodução da primeira parte da matéria assinada por Vera Araújo, Fábio Teixeira e Rafael Galdo apresentada na edição de Domingo, 25/02/2018, do jornal O GLOBO.

Fotografia 1: Elementos de Operações Especiais do Exército Brasileiro participam de operação no Complexo de Favelas da Rocinha após confronto entre traficantes pelo controle de área. (Fonte: Fernando Frazão/Agência Brasil). 


“FANTASMAS” ESTÃO ENTRE NÓS
Tropa especial fará operações de alto risco
Grupo que chegou ao estado para enfrentar o tráfico e as milícias é comparado aos Seals da Marinha americana

Figura 1: Primeira parte da matéria sobre o emprego das Forças de Operações Especiais do Exército na Intervenção Federal do Rio de Janeiro. (Fonte: O GLOBO). 


Submetidos a treinamento de alto nível em Goiânia, os militares são comparados aos Seals da Marinha americana. Eles agiram no Alemão e na Maré, anteriormente, e estão de volta ao Rio Na linha de frente da intervenção federal na segurança do Rio estão militares que pertencem a um grupo de elite que atua em operações especiais, cercadas de sigilo. Preparados para ações antiterror e comparados aos Seals da Marinha americana, eles têm a tarefa de fazer o combate direto a traficantes fortemente armados. Usam equipamentos como óculos de visão noturna, explosivos, fuzis de assalto e metralhadoras .50, de longo alcance. Nos últimos anos, fizeram ações cirúrgicas nos complexos do Alemão e da Maré. Uma tropa que recebe treinamento de alto nível, com sede em Goiânia, chegou ao Rio para ficar na linha de frente da intervenção federal na área da segurança pública do estado, sob o comando do general Walter Souza Braga Netto. Na caserna, entre os militares, seus integrantes são chamados de "fantasmas" por atuarem nas sombras, em operações sempre cercadas de sigilo. O Batalhão de Forças Especiais do Exército conta com aproximadamente 2 mil homens. Não raro, eles são comparados aos Navy Seals da Marinha americana, que mataram Osama bin Laden no Paquistão em 2011. Esses militares, preparados para ações antiterror, têm nas mãos uma missão muito difícil: expulsar o tráfico e as milícias de algumas favelas cariocas.
Coronel da reserva e ex-integrante das Forças Especiais, Fernando Montenegro coordenou a ocupação do Complexo do Alemão, em 2010. Ele explica que o grupo tem um nível de preparo muito superior à média da tropa do Exército. Além de táticas de guerrilha, os "fantasmas" aprendem estratégias de combate à criminalidade urbana durante o período de formação: fazem treinamentos com oficiais do Bope da PM e com militares de unidades especiais de outros países.
É por isso que se espera, nas ruas, um resultado muito diferente dos obtidos até agora pelas operações de Garantia da Lei e da Ordem no Rio. Os integrantes das Forças Especiais passam por um rígido processo de seleção no Forte Imbuí, em Niterói, antes de seguirem para um mínimo de cinco anos de preparação em Goiânia.
- É incomparável a qualidade deles. Eles alcançam uma qualificação extrema não só em nível tático, recebem treinamento de ponta para ações de alto risco em áreas urbanas. Trabalham com inteligência e entendem como funcionam as forças de sustentação de uma guerrilha - afirma Montenegro, acrescentando que a formação visa, em condições normais, a proteger o país contra invasões. - É um treinamento que capacita o militar a suportar situações extremas. Cada integrante das Forças Especiais tem um nível de conhecimento que o permite planejar sabotagens em grandes instalações e até produzir explosivos de forma improvisada.

O símbolo das Forças Especiais foi criado para passar a imagem de que seus homens são os mais temidos do Exército. No brasão dos FEs, como são chamados, aparece uma mão empunhando uma faca. Não por acaso, ela está com uma luva, referência às ações sempre discretas, que não deixam rastros. A lâmina está manchada de vermelho. Até mesmo o fundo do desenho, na cor preta, tem um significado: a tropa, preferencialmente, age à noite. O primeiro grupo de FEs desembarcou no Rio no último dia 16, e, na madrugada de sexta-feira, fez uma incursão à Vila Kennedy antes da chegada de 3 mil homens do Exército à comunidade.

Preparo para Ação em Área de Mata

Os FEs integram uma unidade do Comando da Brigada de Operações Especiais do Exército, que tem em seu brasão uma faca enfiada numa caveira, desenho que inspirou o símbolo do Bope. Mas, enquanto os homens do batalhão da PM inspiraram os filmes da franquia "Tropa de elite", os FEs atuam cercados de mistérios. Fontes ouvidas pelo GLOBO revelam que eles são submetidos a situações extremas durante o processo de formação: chegam, por exemplo, a ser atacados por veteranos que usam óculos de visão noturna em salas escuras, onde os novatos têm o desafio de encontrar uma saída enquanto tentam reagir.
Só militares de carreira podem ser FEs. Se o candidato à tropa de elite do Exército for um sargento, além do período de cinco anos na Academia Militar, ele precisará de mais dois para concluir sua formação. Há ainda três cursos obrigatórios. O primeiro é o básico de paraquedista, que dura seis semanas. Em seguida, começa o de comandos, com carga horária de 800 horas, distribuídas ao longo de quatro meses, durante os quais são ensinadas técnicas de uso de explosivos e de combate e infiltração. A etapa final exige 1.200 horas de treinamento, num período de cinco meses. Montenegro diz que, por mais estranho que possa parecer, a aptidão dos FEs para combates na selva poderá fazer a diferença no Rio:
- Há vários treinamentos que, à primeira vista, parecem não fazer sentido no contexto atual, como salto de paraquedas e mergulho. Mas, no Rio, há grandes extensões de mata nos morros. A polícia não possui a capacidade dos "fantasmas" para atuar nessas áreas. As Forças Especiais têm preparo e equipamentos para isso, como óculos que detectam movimentos em meio à escuridão. Especialistas em helicópteros, eles também têm a habilidade de um sniper para atirar de uma aeronave.
Os FEs são treinados para atuar com discrição absoluta, mas a tropa especial já foi acusada de perder o controle da situação e provocar uma explosão de violência. A tropa foi colocada sob suspeita de envolvimento na morte de oito pessoas no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, em novembro do ano passado. O Comando Militar do Leste, no entanto, nega a participação de "fantasmas" no caso.

Fim da Matéria

Algumas considerações sobre a primeira parte da matéria publicada pelo O GLOBO: 
1°. Os autores citam os SEALs da Marinha norte-americana devido à publicidade angariada pela unidade de elite da Força Naval estadunidense, sobretudo por ocasião da operação que resultou na morte de Osama bin Laden, líder da al Qaeda, organização fundamentalista que perpetrou o atentado terrorista ao território dos EUA em 11 de setembro de 2001. Contudo, os "fantasmas" a que eles se referem em alusão às Forças de Operações Especiais (FOpEsp) da Força Terrestre brasileira têm mais familiaridade com os Rangers e as Special Forces (também conhecidos como Green Berets [Boinas Verdes]), ambas tropas especiais vinculadas ao Exército norte-americano.
2°.  Ao mencionarem o efetivo do 1° BFEsp (1° Batalhão de Forças Especiais) os autores cometem um equivoco, uma vez que o efetivo de 2.000 homens refere-se ao numero de militares à serviço do COpEsp (Comando de Operações Especiais) do Exército Brasileiro, que por sua vez é integrado pelo 1º BFEsp, 1º Batalhão de Ações de Comandos (1º BAC), Batalhão de Apoio às Operações Especiais (BtlApOpEsp), 3ª Companhia de Forças Especiais (3ª CiaFEsp), Companhia de Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear (CiaDQBRN), além do Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOpEsp).
3°. A Brigada de Operações Especiais mencionada pelos autores foi elevada à categoria de Comando de Operações Especiais (COpEsp) em 2014.
4°. O Coronel da Reserva Fernando MONTENEGRO, citado no texto, não coordenou a ocupação do Conjunto de Favelas do Alemão em 2010. Na ocasião sua função foi a de comandar a Força-Tarefa Sampaio, incumbida de pacificar os Complexos do Alemão e da Penha.
5°. Diferente do que destaca o texto do jornal O GLOBO, são os oficiais e não os sargentos que cursam os 5 anos de Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). 
6°. No último parágrafo do texto, os autores salientam que apesar do treinamento para atuar com discrição absoluta, as FOpEsp do Exército já foram acusadas de "perder o controle da situação e provocar uma explosão de violência", sendo colocada como suspeita de envolvimento em ocorrências que ocasionaram à morte em operação levada à efeito no Complexo do Salgueiro, região de São Gonçalo-RJ, em novembro do ano passado. Como parece ser recorrente nas pautas dos grandes veículos midiáticos nacionais, os responsáveis pela matéria apelam para o sensacionalismo, talvez na tentativa de desgastar a imagem das Forças Armadas (FFAA) por motivos ideológicos. É imperativo esclarecer que, ainda que as ações levadas à efeito pelos quadros operacionais das unidades de elite possam incorrer em algum "efeito colateral", devido à natureza absolutamente imprevisível de algumas variáveis envolvidas, as Operações Especiais (OpEsp) requerem um nível tão elevado de aprestamento dos recursos humanos e materiais, além de minucioso processo de coleta de dados de inteligência, planejamento e execução da ação, que o denominado "efeito real" deve ser o mais coincidente possível com o "efeito desejado", reduzindo ao máximo a possibilidade de haver situações adversas que possam comprometer a operação ou mesmo arruiná-la. 

Para tentar trazer alguma luz à forma como as FFAA devem proceder na Intervenção Federal do Rio de Janeiro, apresentamos trechos da entrevista concedida pelo General-de-Exército da reserva Augusto HELENO Ribeiro Pereira ao programa GloboNews Painel exibido no dia 17/02/2018. O General HELENO foi o primeiro comandante militar da Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (MINUSTAH) no período de junho de 2004 a setembro de 2005.



Obs. A Segunda parte da matéria publicada pelo O GLOBO aborda o emprego das OpEsp do Exército Brasileiro nos Complexos de Favelas do Alemão e da Maré. Por serem temas já debatidos optamos por não reproduzir esse conteúdo, nos atendo apenas à primeira parte do texto. 


sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Informativo FOpEsp, nº 24

Pré-venda do Livro "GUARDIÕES DE NETUNO"


O Blog FOpEsp informa que o livro: 

GUARDIÕES DE NETUNO:
Origem e Evolução do Grupamento de Mergulhadores de Combate da Marinha do Brasil

já está disponível para os interessados no sistema de pré-venda (valor estipulado de R$80,00 [despesas de correio não incluídas]). Publicado com a chancela da Marinha do Brasil, o livro foi escrito por iniciativa do Prof. Rodney Lisboa (editor de conteúdo do Blog FOpEsp) e editado pela Diagrarte Editora. Fracionado em três seções distintas, a primeira parte aborda os pressupostos atinentes às Operações Especiais, a segunda parte narra os eventos significativos que balizaram a atividade MEC em âmbito internacional no decorrer dos diferentes períodos históricos, enquanto a terceira parte apresenta um relato de mais de 50 anos do MEC no Brasil (1964-2018). O livro dedica-se ainda a apresentar uma cronologia fotográfica com 54 imagens que ilustram momentos distintos de uma das unidades de elite brasileiras mais respeitadas no cenário doméstico e estrangeiro, além de uma Timeline que abrange toda historiografia do GRUMEC até 2018.

Fotografia 1: Detalhe da capa do livro "Guardiões de Netuno: Origem e Evolução do Grupamento de Mergulhadores de Combate da Marinha do Brasil" escrito pelo Prof. Rodney Lisboa com a chancela da Marinha do Brasil. (Fonte: Acervo da Diagrarte Editora).

A obra, em fase final de edição, tem seu lançamento previsto para o próximo mês de março (data a definir) com previsão de entrega dos exemplares com início a partir do dia 02/04/2018, sendo distribuídos conforme ordem de aquisição. Salientamos que o livro tem sua publicação limitada ao número de 1.000 (mil) exemplares sem estimativa de reedição. Portanto, para àqueles que se mostrarem interessados em adquirir um ou mais exemplares, sugerimos que o(s) adquira(m) com antecedência antes que a publicação se esgote. Interessados em adquirir este livro favor manifestar sua intenção de compra nos e-mails: rodneymec27@gmail.com ou contato@diagrarte.com.br

Características:

Número de páginas: 272
Tamanho: 16 X 23cm
Cores: Capas coloridas com miolo em preto e branco
Tiragem: 1.000 exemplares




segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Arquivo Histórico FOpEsp nº 5: Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) da PMRJ durante a Copa do Mundo FIFA (2014)

Texto e arte elaborados por Anderson Subtil*.


Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) da PMRJ


No início da tarde de 12 de junho do ano 2000, Sandro Barbosa do Nascimento se apoderou do ônibus do transporte coletivo da cidade do Rio de Janeiro que fazia a linha 174 (Central do Brasil até a Gávea). Vários ocupantes do veículo conseguiram escapar, mas onze passageiros foram tomados como reféns. Um dos momentos de maior tensão ocorreu quando o sequestrador enrolou um lençol na cabeça da refém Janaína Neves e simulou disparar contra sua cabeça, ameaçando depois que iria matar outras pessoas. Não obstante a libertação de dois dos sequestrados, as negociações seguiram conturbadas, mesmo porque uma rápida solução com tiro de precisão acabou descartada pelas autoridades governamentais.   Após horas de tensão, Sandro decidiu abandonar o ônibus, usando uma das reféns, a professora Geísa Firmo Gonçalves como escudo. Logo na porta, um policial do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) da Polícia Militar do estado do Rio de Janeiro (PMRJ) tentou alveja-lo com um disparo de submetralhadora, mas acabou atingindo de raspão o queixo da professora Geísa. A reação de Sandro foi abaixar-se e disparar três vezes a queima roupa contra as costas da refém, matando-a. Depois de dominado, o próprio sequestrador acabou morto por asfixia na viatura policial que o retirou do local.
O sequestro do ônibus 174, além de ter sido um dos episódios mais marcantes da crônica policial carioca, também demonstrou que a tropa de elite da PMRJ não dispunha de treinamento necessário para agir naquele tipo de situação. Como resultado de tal constatação, ainda naquele ano, o BOPE começou a dar forma a Unidade de Intervenção Tática (UIT), especialmente organizada e adestrada para intervir em situações que envolvem reféns. A expertise acumulada no decorrer de inúmeras ocorrências desde o fatídico evento com o ônibus 174, tornaram o BOPE da PMRJ uma referência nacional e internacional em procedimentos de progressão em áreas de alto risco. 
Para situações desta ordem a UIT encontra-se estruturada como uma das companhias do BOPE, sendo comandada por um Capitão e reunindo cerca de 75 militares, organizados em uma Equipe de Negociadores, uma muito bem treinada Equipe de Atiradores, formada por snipers policiais altamente capacitados, e um Grupo de Resgate e Retomada (GRR), constituído por quatro times táticos, cada um com oito policiais preparados para intervenções de alto risco. A UIT esteve presente nos esquemas de segurança dos grandes eventos realizados em território brasileiro desde os Jogos Mundiais Militares em 2011, a saber: na Jornada Mundial da Juventude em 2013; na Copa das Confederações 2013; na Copa do Mundo FIFA em 2014; além dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos em 2016.


Operador do BOPE da PMRJ participa do esquema de segurança realizado na capital fluminense durante a Copa do Mundo promovida pela FIFA em 2014. (Ilustração: Anderson Subtil, para a seção "Arquivo Histórico FOpEsp").

Este graduado do GRR está vestido com o Army Combat Uniform (ACU) na cor preta, comum a todos os quadros operacionais do BOPE, sobre o qual utiliza um colete a prova de balas Nível III e uma veste tática tipo MOLLE (Modular Light-weight Load-Carrying Equipment, ou Sistema Modular de Transporte Leve), com fixações, entre outras coisas, para munição 5,56mm e seu equipamento de comunicação. Sobre o cinto de lona pendem uma bolsa para a máscara contra gases e um coldre tático para a pistola, ambos presos às pernas por correias de lona. O restante do equipamento individual inclui luvas próprias para ações táticas, balaclava e capacete balístico tipo RBR Mach III. Seu armamento compreende uma pistola Taurus PT-100 no calibre policial .40 S&W e a arma longa preferida da UIT, a carabina norte-americana Colt M4 Commando, que dispara projeteis calibre 5,56mm OTAN, neste caso equipado com um visor holográfico EOTech 552 montado em um adaptador sobre a alça de transporte.


Materiais utilizados na confecção da ilustração: A técnica utilizada para o desenho do operador utiliza canetas esferográficas e aquarela líquida preta, posteriormente colorido em computação gráfica (tratamento em CorelDraw).

* Anderson Subtil é natural de Curitiba-PR, onde estudou na Escola de Música e Belas-artes do Paraná. Trabalha como Artista Gráfico, Arte Finalista e Produtor Gráfico, tanto no mercado editorial quanto na indústria gráfica. Atua, paralelamente, como pesquisador autodidata de assuntos militares e de Defesa, com especial interesse na história da Segunda Guerra Mundial, tropas de relevância histórica e unidades especiais. Compõe o grupo de colaboradores das revistas Tecnologia e Defesa e Tecnologia e Defesa  Segurança, respondendo ainda pela correspondência da afamada revista Espanhola Soldiers RAIDS no Brasil.