A Colômbia atualmente passa por um processo
de consolidação de paz com o movimento guerrilheiro FARC (Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia [Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia]), que possivelmente levará a uma diminuição das
ações insurrecionais na selva daquele país. É bem sabido que há muito tempo as
forças policiais travam combates diuturnos contra a guerrilha e o tráfico de
drogas, merecendo destaque especial os Comandos Junglas, unidade que tem como
missão principal, planejar e executar operações contra o narcotráfico, capturar
delinquentes das famosas Bandas
Criminales (quadrilhas especializadas no tráfico de drogas) e combater as
atividades guerrilheiras em meio rural.
A origem dos Comandos Jungla, remonta ao
final da década de 80, no qual militares ingleses, especificamente membros do
SAS (Special Air Service [Serviço
Aéreo Especial]), das forças armadas Britânicas, vieram até à Colômbia com a
finalidade de treinar policiais para combater a guerrilha e o narcotráfico
utilizando-se de técnicas especiais. Nessa época, as ações de Pablo Escobar
estavam se tornando mais ousadas, carecendo de um combate mais efetivo e
profissional por parte das forças legais. Havia também rumores de que membros
do IRA (Irish Republican Army
[Exército Republicano Irlandês]), guerrilha separatista que lutava contra os
ingleses na Irlanda do Norte, estavam realizando treinamento com as FARCs. A
vinda dos militares ingleses foi uma decisão conjunta com o governo americano
haja vista uma crescente influência dos EUA no cenário da política
interna colombiana.
O curso de Comandos Jungla normalmente é
divido em duas edições, a primeira, a nacional, direcionada exclusivamente para
policiais colombianos, a segunda, foi efetivada após implementação do Plano
Colômbia em 2002 (plano de ajuda econômica e militar dos EUA para combater
grupos insurgente e o narcotráfico na Colômbia), com o lançamento do curso
Comandos Jungla internacional que teve como objetivo capacitar policiais de
países da América Latina nas técnicas de combate ao narcotráfico em ambiente de
selva. O curso tem uma duração de quatro meses e meio, na CENOP (Escuela Internacional del Uso de la Fuerza
Policial para la Paz [Escola Internacional do Uso da Força Policial para a
Paz]) da Polícia Nacional, localizada em San Luis no departamento de Tolima. Os
alunos passam por diversas instruções como: operações helitransportadas,
operações de combate, patrulhas de reconhecimento especial, sobrevivência,
combate em recinto fechado, armamento de dotação dos comandos, operações
antidrogas, tomada de campo de cultivo ilícito de cocaína, patrulha rural,
orientação e navegação terrestre e outras de interesse da formação dos novos
comandos. O curso normalmente tem uma taxa de atrito de 35 a 40 % de
desistência, demonstrando um grande nível de exigência em sua execução.
Imagem 1: Emblema dos Comandos Jungla da Polícia Nacional da Colômbia. (Fonte: Disponível em: https://twitter.com/comandosjungla Acesso em: 18 mai. 2018). |
Os Junglas são subordinados à Dirección de Antinarcóticos
(Direção Antinarcóticos) da Polícia Nacional da Colômbia. Após o término do
curso os novos comandos são distribuídos nas Companhias Antinarcóticos Junglas
nas cidades de Bogotá, Santa Marta e Tuluá. Atualmente cada companhia conta com
pelo menos 200 policiais. Também existe uma companhia de instrutores Junglas no
centro de formação em São Luiz.
A mobilidade dos Comandos Jungla depende dos
helicópteros Black Hawks da Polícia Nacional da Colômbia, que atualmente conta com 20
aeronaves, sendo a força policial que mais opera com helicóptero desse
porte no mundo.
Atualmente os Comandos Jungla são
assessorados por militares do 7th SFG-A (7th
Special Forces Group-Airborne [7º Grupo das Forças Especiais-Aerotransportadas])
do Exército norte-americano e pela DEA (Drug
Enforcement Agency [Agência para o Controle/Combate às Drogas]) dos Estados
Unidos. O sucesso do Programa Jungla é tão visível, que os antigos instrutores
estadunidenses se tornaram assíduos observadores e aprendizes das técnicas de
combate que os Comandos Jungla desenvolveram para o ambiente de selva.
Juntando a capacidade de transporte fornecida pelos helicópteros Sikorsky UH-60
Black Hawks da polícia nacional com o planejamento detalhado em suas missões,
os Junglas se tornaram experts em destruição de laboratório de cocaína, busca e
prisão de chefes de cartéis de drogas e, ponta de lança nas operações de
neutralização dos grandes líderes das FARCs.
Além das missões de destruição de
laboratórios de processamento de coca, os Comandos Jungla se envolveram nas
principais operações de neutralização dos chefes das FARC, contribuindo de sobremaneira
para o enfraquecimento do grupo guerrilheiro.
Após quase 30 anos de sua criação os Comandos
Jungla vêm se colocando à prova a cada ameaça que surge à segurança
colombiana. Depois da assinatura do tratado de paz com as FARCs em 2017, outras
ameaças assimétricas surgiram como resultado da desmobilização dos
narcoguerrilheiros dissidentes, que não entregaram as armas e continuam a
delinquir comercializando drogas com os cartéis mexicanos. Alguns paramilitares
desmobilizados na década passada, hoje formam várias Bandas Criminales, que cartelizam toda a produção de drogas em
algumas regiões da Colômbia, principalmente na região do Caribe. Uma das
maiores ameaças da atualidade é o bando dos Urabenhos, cartel chefiado pelo
criminoso de nome Otoniel, que atualmente aterroriza a região, promovendo atos
violentos contra à polícia e à população do país. Diante da nova situação de
segurança interna, desafios novos e antigos se apresentam aos Comandos Jungla:
Operações de destruição de laboratórios de cocaína; Engajamento em operações
urbanas; Combate aos cartéis organizados e as guerrilhas remanescentes.
A expertise do programa Jungla está sendo
difundida para países conflagrados pelo tráfico de drogas, tais como: Honduras,
Panamá e México. Com a ajuda técnica de membros do 7th SFG-A, os Comandos
Jungla difundem táticas e técnicas especiais no combate ao narcotráfico,
ajudando essas nações a combater esse grande flagelo que assola à sociedade nos
dias atuais.
Apesar da diminuição da plantação de hectares
de coca na Colômbia, o comércio dessa droga ainda figura como um dos negócios
mais lucrativos do mundo. Diante disso, novos atores surgirão para disputar
esse importante mercado para suprir as necessidades dos cartéis mexicanos em
traficar para os EUA. Diante desse cenário, a Colômbia continua figurar como fonte de
disputas pela produção da droga.
Vídeo 1: Apresentação em vídeo sobre os Comandos Jungla da Polícia Nacional da Colômbia. (Fonte: Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-6_kLfrvU-g Acesso em: 18 mai. 2018).
* Francisco Paulo Costa da Silva é policial federal desde 2004, ano em que concluiu o curso de papiloscopista na Academia Nacional de Polícia. Atualmente exerce a função de líder da equipe de operadores aerotáticos (atiradores da porta do helicóptero) da CAOP (Coordenação de Aviação Operacional) da Polícia Federal (PF). É graduado em História pela Universidade de Pernambuco e cursa pós-graduação em Relações Internacionais pela Damásio Educacional. Na PF participou do curso de operações aerotáticas, bem como do curso de atirador designado aerotático. Frequentou o Curso de Comandos Jungla (Polícia Nacional da Colômbia) além do curso de operações antidrogas pela School of the Americas (Escola das Américas) atual WHINSEC (Western Hemisphere Institute for Security Cooperation, ou Instituto do Hemisfério Ocidental para Cooperação em Segurança). Cursou o Estágio de Operação e Sobrevivência em Área de Caatinga (72º BIMtz [72º Batalhão de Infantaria Motorizada]) do Exército Brasileiro e o Estágio de Atirador de Precisão do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais da PM-RJ).