domingo, 20 de maio de 2018

No Coração da Selva: Ação dos Comandos Jungla da Policia Nacional da Colômbia

Texto elaborado por Francisco Paulo Costa da Silva*  


Fotografia 1: Os Comandos Junglas da Polícia Nacional da Colômbia são tradicionalmente suportados por helicópteros modelo Black Hawk. (Fonte: Disponível em: https://www.policia.gov.co/especializados/jungla Acesso em: 18 mai. 2018).

A Colômbia atualmente passa por um processo de consolidação de paz com o movimento guerrilheiro FARC (Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia]), que possivelmente levará a uma diminuição das ações insurrecionais na selva daquele país. É bem sabido que há muito tempo as forças policiais travam combates diuturnos contra a guerrilha e o tráfico de drogas, merecendo destaque especial os Comandos Junglas, unidade que tem como missão principal, planejar e executar operações contra o narcotráfico, capturar delinquentes das famosas Bandas Criminales (quadrilhas especializadas no tráfico de drogas) e combater as atividades guerrilheiras em meio rural.
A origem dos Comandos Jungla, remonta ao final da década de 80, no qual militares ingleses, especificamente membros do SAS (Special Air Service [Serviço Aéreo Especial]), das forças armadas Britânicas, vieram até à Colômbia com a finalidade de treinar policiais para combater a guerrilha e o narcotráfico utilizando-se de técnicas especiais. Nessa época, as ações de Pablo Escobar estavam se tornando mais ousadas, carecendo de um combate mais efetivo e profissional por parte das forças legais. Havia também rumores de que membros do IRA (Irish Republican Army [Exército Republicano Irlandês]), guerrilha separatista que lutava contra os ingleses na Irlanda do Norte, estavam realizando treinamento com as FARCs. A vinda dos militares ingleses foi uma decisão conjunta com o governo americano haja vista uma crescente influência dos EUA no cenário da política interna colombiana.


Fotografia 2: Quadros operacionais dos Comandos Jungla em procedimento de patrulha pelo interior da Colômbia na busca por laboratórios de processamento de cocaína. (Fonte: Disponível em: https://www.taringa.net/comunidades/colombia/6518572/Fuerzas-Especiales-Comandos-Jungla-Policia-Nacional.html Acesso em: 18 mai. 2018).

O curso de Comandos Jungla normalmente é divido em duas edições, a primeira, a nacional, direcionada exclusivamente para policiais colombianos, a segunda, foi efetivada após implementação do Plano Colômbia em 2002 (plano de ajuda econômica e militar dos EUA para combater grupos insurgente e o narcotráfico na Colômbia), com o lançamento do curso Comandos Jungla internacional que teve como objetivo capacitar policiais de países da América Latina nas técnicas de combate ao narcotráfico em ambiente de selva. O curso tem uma duração de quatro meses e meio, na CENOP (Escuela Internacional del Uso de la Fuerza Policial para la Paz [Escola Internacional do Uso da Força Policial para a Paz]) da Polícia Nacional, localizada em San Luis no departamento de Tolima. Os alunos passam por diversas instruções como: operações helitransportadas, operações de combate, patrulhas de reconhecimento especial, sobrevivência, combate em recinto fechado, armamento de dotação dos comandos, operações antidrogas, tomada de campo de cultivo ilícito de cocaína, patrulha rural, orientação e navegação terrestre e outras de interesse da formação dos novos comandos. O curso normalmente tem uma taxa de atrito de 35 a 40 % de desistência, demonstrando um grande nível de exigência em sua execução.


Imagem 1: Emblema dos Comandos Jungla da Polícia Nacional da Colômbia. (Fonte: Disponível em: https://twitter.com/comandosjungla Acesso em: 18 mai. 2018). 

Os Junglas são subordinados à Dirección de Antinarcóticos (Direção Antinarcóticos) da Polícia Nacional da Colômbia. Após o término do curso os novos comandos são distribuídos nas Companhias Antinarcóticos Junglas nas cidades de Bogotá, Santa Marta e Tuluá. Atualmente cada companhia conta com pelo menos 200 policiais. Também existe uma companhia de instrutores Junglas no centro de formação em São Luiz.
A mobilidade dos Comandos Jungla depende dos helicópteros Black Hawks da Polícia Nacional da Colômbia, que atualmente conta com 20 aeronaves, sendo a força policial que mais opera com helicóptero desse porte  no mundo.
Atualmente os Comandos Jungla são assessorados por militares do 7th SFG-A (7th Special Forces Group-Airborne [7º Grupo das Forças Especiais-Aerotransportadas]) do Exército norte-americano e pela DEA (Drug Enforcement Agency [Agência para o Controle/Combate às Drogas]) dos Estados Unidos. O sucesso do Programa Jungla é tão visível, que os antigos instrutores estadunidenses se tornaram assíduos observadores e aprendizes das técnicas de combate que os Comandos Jungla desenvolveram para o ambiente de selva. Juntando a capacidade de transporte fornecida pelos helicópteros Sikorsky UH-60 Black Hawks da polícia nacional com o planejamento detalhado em suas missões, os Junglas se tornaram experts em destruição de laboratório de cocaína, busca e prisão de chefes de cartéis de drogas e, ponta de lança nas operações de neutralização dos grandes líderes das FARCs.
Além das missões de destruição de laboratórios de processamento de coca, os Comandos Jungla se envolveram nas principais operações de neutralização dos chefes das FARC, contribuindo de sobremaneira para o enfraquecimento do grupo guerrilheiro.


Fotografia 3: Dupla de operadores Jungla durante operação de destruição de laboratórios de processamento de cocaína enviada pelos narcotraficantes até as fronteiras com o Brasil e a Venezuela. (Fonte: Disponível em: https://www.infobae.com/america/america-latina/2016/08/03/comandos-jungla-colombianos-destruyeron-104-laboratorios-para-el-procesamiento-de-cocaina/ Acesso em: 18 mai. 2018).

Após quase 30 anos de sua criação os Comandos Jungla vêm se colocando à prova a cada ameaça que surge à segurança colombiana. Depois da assinatura do tratado de paz com as FARCs em 2017, outras ameaças assimétricas surgiram como resultado da desmobilização dos narcoguerrilheiros dissidentes, que não entregaram as armas e continuam a delinquir comercializando drogas com os cartéis mexicanos. Alguns paramilitares desmobilizados na década passada, hoje formam várias Bandas Criminales, que cartelizam toda a produção de drogas em algumas regiões da Colômbia, principalmente na região do Caribe. Uma das maiores ameaças da atualidade é o bando dos Urabenhos, cartel chefiado pelo criminoso de nome Otoniel, que atualmente aterroriza a região, promovendo atos violentos contra à polícia e à população do país. Diante da nova situação de segurança interna, desafios novos e antigos se apresentam aos Comandos Jungla: Operações de destruição de laboratórios de cocaína; Engajamento em operações urbanas; Combate aos cartéis organizados e as guerrilhas remanescentes.
A expertise do programa Jungla está sendo difundida para países conflagrados pelo tráfico de drogas, tais como: Honduras, Panamá e México. Com a ajuda técnica de membros do 7th SFG-A, os Comandos Jungla difundem táticas e técnicas especiais no combate ao narcotráfico, ajudando essas nações a combater esse grande flagelo que assola à sociedade nos dias atuais.
Apesar da diminuição da plantação de hectares de coca na Colômbia, o comércio dessa droga ainda figura como um dos negócios mais lucrativos do mundo. Diante disso, novos atores surgirão para disputar esse importante mercado para suprir as necessidades dos cartéis mexicanos em traficar para os EUA. Diante desse cenário, a Colômbia continua figurar como fonte de disputas pela produção da droga.


Fotografia 4: Quadros operacionais do Comandos Jungla embarcados em uma das aeronaves Black Hawk que fornecem apoio aéreo à unidade. (Fonte: Disponível em: https://www.taringa.net/comunidades/colombia/6518572/Fuerzas-Especiales-Comandos-Jungla-Policia-Nacional.html Acesso: 18 mai. 2018).


Vídeo 1: Apresentação em vídeo sobre os Comandos Jungla da Polícia Nacional da Colômbia. (Fonte: Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-6_kLfrvU-g Acesso em: 18 mai. 2018).


Francisco Paulo Costa da Silva é policial federal desde 2004, ano em que concluiu o curso de papiloscopista na Academia Nacional de Polícia. Atualmente exerce a função de líder da equipe de operadores aerotáticos (atiradores da porta do helicóptero) da CAOP (Coordenação de Aviação Operacional) da Polícia Federal (PF). É graduado em História pela Universidade de Pernambuco e cursa pós-graduação em Relações Internacionais pela Damásio Educacional. Na PF participou do curso de operações aerotáticas, bem como do curso de atirador designado aerotático. Frequentou o Curso de Comandos Jungla (Polícia Nacional da Colômbia) além do curso de operações antidrogas pela School of the Americas (Escola das Américas) atual WHINSEC (Western Hemisphere Institute for Security Cooperation, ou Instituto do Hemisfério Ocidental para Cooperação em Segurança). Cursou o Estágio de Operação e Sobrevivência em Área de Caatinga (72º BIMtz [72º Batalhão de Infantaria Motorizada]) do Exército Brasileiro e o Estágio de Atirador de Precisão do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais da PM-RJ). 





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