terça-feira, 5 de junho de 2018

Emprego da Doutrina F3EAD em Apoio às Operações Especiais (Parte 1)

Adaptação do texto escrito originalmente por Charles Faint & Michael Harris, publicado em 31 de janeiro de 2012 no Small Wars Journal. (Disponível em: http://smallwarsjournal.com/jrnl/art/f3ead-opsintel-fusion %E2%80%9Cfeeds%E2%80%9D-the-sof-targeting-process Acesso em: 28 mai. 2018). 


Fotografia 1: Cena do filme "12 Heróis" (12 Strong, 2018), que retrata a história da primeira equipe de Special Forces (Forças Especiais) do Exército dos EUA enviada ao Afeganistão após os atentados de 11 de setembro de 2001, com a finalidade de convencer os líderes da Aliança do Norte a unirem forças no combate ao Talebã e à al-Qaeda. (Fonte: Disponível em: http://www.sky.com/movie/12-strong-2018 Acesso em: 30 mai. 2018). 

Projetada para ser utilizada pelas FOpEsp (Forças de Operações Especiais) norte-americanas em missões de Ação Indireta, a doutrina F3EAD (Find, Fix, Finish, Exploit, Analyze and Disseminate [Localizar, Ajustar, Finalizar, Explorar, Analisar e Disseminar]) surgiu para contrariar a crescente ameaça comunista na América Latina na década de 1980
Também conhecida pelo termo “Feed”, esta metodologia é uma versão da doutrina Targeting (Segmentação), processo pelo qual ocorre a seleção de alvos a serem engajados dentro da Área de Responsabilidade (área geográfica associada na qual um comandante combatente geográfico tem autoridade para planejar e conduzir operações) ou Áreas de Influência (área geográfica em que um comandante é diretamente capaz de influenciar operações por manobras ou sistemas de apoio de fogo normalmente exercendo comando ou controle) de um componente militar em decorrência de um conflito e/ou crise.
Operando em rede, a doutrina Targeting enfatiza a identificação dos HPT (High Payoff Target [Alvos de Prejuízo Elevado]) combinando um conjunto de ações letais e não-letais apropriadas para cada um desses alvos no intuito de criar efeitos específicos e desejados compatíveis com os requisitos operacionais e em conformidade com os objetivos do Comandante. Cabe à esse sistema, a tarefa de identificar e selecionar recursos que proporcionam maior vantagem ao inimigo e os quais as forças adversárias não podem se dar ao luxo de perder. Além disso, é de responsabilidade do método Targeting a tarefa de vincular os efeitos desejados às ações a serem desempenhadas pelas Forças Amigas.


Figura 1: As cinco fases que compõem o "Ciclo de Inteligência". (Fonte: Disponível em: https://countuponsecurity.com/2015/08/15/the-5-steps-of-the-intelligence-cycle/ Acesso em: 30 mai. 2018).

Por sua vez, a doutrina F3EAD é um sistema de rede que permite às FOpEsp a capacidade de antecipar e prever ações realizadas por tropas inimigas, identificando, localizando e direcionando forças mediante exploração de dados de inteligência (potencial de combate adversário) obtidos por ocasião da captura de pessoal e material. A base para o êxito da metodologia F3EAD consiste na simbiose entre as funções de Inteligência e Operacional em todo os processos conduzidos pelas FOpEsp. Nesse sentido, os decisores estabelecem alvos prioritários, a função de Inteligência fornece o direcionamento para o alvo, enquanto a função Operacional executa as ações levadas à efeito como uma (OpEsp) Operação Especial.
Esta relação simbiótica, permite que a função de Inteligência compreenda, antecipe e busque atender às necessidades da função Operacional de modo a favorecer a agilidade das ações, permitindo aos decisores, em todos os níveis de condução da guerra/crise (Político, Estratégico, Operacional e Tático), dispor das condições necessárias para planejar e executar operações contra o inimigo sem que o mesmo possa reagir adequadamente. Dispondo dessa capacidade, as Forças Amigas têm condições de ditar o ritmo e definir as condições operacionais.
O F3EAD é uma evolução natural do Targeting, combinando aspectos do ciclo de inteligência e planejamento operacional convencionais com o conjunto de técnicas e táticas emergentes, assimilados em procedimentos desenvolvidos em operações de contingência realizadas em todo o mundo.


Fotografia 2: Operador das Special Forces (Forças Especiais) do Exército norte-americano emprega dispositivo de comunicação multicanais de alto desempenho no campo de batalha. (Fonte: Disponível em https://americansecuritytoday.com/harris-wins-us-special-ops-contract-next-gen-manpack-radios-video/ Acesso em: 30 mai. 2018). 

Embora as FOpEsp estejam melhor preparadas para se valerem das vantagens ofertadas pelo método F3EAD (devido à sua adaptabilidade organizacional, treinamento especializado e recursos exclusivos), essa metodologia não é inovadora nem exclusiva das unidades militares de elite. Nos EUA, o F3EAD constitui parte dos programas básicos de treinamento visando a formação de pessoal na especialidade Inteligência.
Uma diferença fundamental entre a doutrina convencional de Targeting e a F3EAD refere-se ao fato de que a metodologia convencional concentra-se, sobretudo, nas operações de Ação Direta (AD) executadas contra HPTs (levadas à efeito com a finalidade de causar efeitos letais de modo a ocasionar ao inimigo grande dano ou destruição/eliminação), enquanto o método F3EAD adequa-se tanto às AD quanto às Ações Indiretas (AI), que por sua vez priorizam os efeitos não letais. Ao contrário das metodologias tradicionais de Targeting, que direcionam esforços para a etapa "finalizar", uma vez que os conflitos passados buscavam a destruição física das forças inimigas e sua infraestrutura à fim de minar com sua vontade de resistir, o principal esforço do método F3EAD encontra-se voltado para as etapas “explorar, analisar e disseminar”. Nesse contexto, é essencial reconhecer que a natureza da guerra mudou e encontra-se em constante evolução.
Na denominada “Era da Informação” os conflitos se prolongam e o espectro da ameaça apresenta caráter variável, alternando oponentes que lançam mão de métodos adaptativos e assimétricos e adversários que dispõem de poder de combate suficiente para empreender formas convencionais e simétricas de enfrentamento. Nesse cenário, destacam-se a guerra em rede, os atores não-estatais e a aversão ao risco, como determinantes para que o esforço principal não pode se limite à “derrota” das forças inimigas no sentido tradicional da “Guerra de Atrito”.
No âmbito da guerra travada no século XXI, é importante perceber o processo F3EAD como uma rede com os diferentes elementos do processo ligados diretamente uns aos outros e em fusão com as funções de Inteligência e Operacional. O ciclo é contínuo, mas não necessariamente congruente, e as etapas geralmente são omitidas ou encurtadas para que o processo acompanhe a “velocidade” da guerra.

Figura 2: Etapas do processo F3EAD. (Fonte: Disponível em: http://smallwarsjournal.com/jrnl/art/f3ead-opsintel-fusion %E2%80%9Cfeeds%E2%80%9D-the-sof-targeting-process Acesso em: 28 mai. 2018). 

Continua...





Nenhum comentário:

Postar um comentário