Constituídas de três a cinco operadoras, as
CSTs (Cultural Support Teams [Equipes
de Apoio Cultural]) do Exército norte-americano atuavam na Guerra do
Afeganistão (2001 até o presente) provendo o suporte às FOpEsp (Forças de
Operações Especiais) executando diferentes operações de campo, incluindo ações
de combate.
Conhecedoras da cultura e tradições locais,
cabia à essas militares a tarefa de interagir com a população feminina afegã,
sobretudo, nas denominadas VSO (Village
Stability Operations [Operações de Estabilidade de Aldeias]) conduzindo
programas de assistência médica, assistência humanitária, construção de
relacionamentos, além de coleta de dados de inteligência.
A presença das CSTs possibilitou que a Força
de Coalizão liderada pelos EUA rompesse uma barreira culturalmente
intransponível, uma vez que as mulheres afegãs eram impedidas de manter contato
com homens estranhos ao seu círculo familiar. O engajamento das operadoras no
conflito permitiu o acesso direto a uma importante parcela da população afegã (50%
dos afegãos são mulheres), considerada como elemento central na condução do lar
e na educação da família, possibilitando o alcance a importantes fontes de
informação até então inacessíveis às tropas.
O processo seletivo para as CSTs foi
conduzido pelo USASOC (US Army Special
Operations Command [Comando de Operações Especiais do Exército dos EUA]),
localizado em Fort Bragg, no estado da Carolina do Norte. Assim como ocorre com
qualquer programa de Operações Especiais para homens, a seleção para mulheres
foi constituída no decorrer de seis semanas de exigentes testes físicos e
intelectuais aplicados com o objetivo de avaliar as capacidades psicológicas
das candidatas para atuar em um ambiente norteado pela incerteza, elevado risco
e reduzido feedback. Coube ao Cultural Support Assessment and Selection Program (Programa de Avaliação e Seleção das Equipes de Apoio Cultural) a tarefa de eliminar àquelas candidatas
que não apresentavam perfil compatível com as exigências da demanda requerida.
Atuando como “facilitadoras” para ações
posteriores conduzidas pelas FOpEsp, as operadoras das CSTs engajaram-se no
Afeganistão com os quadros operacionais masculinos, conduzindo patrulhas,
realizando a limpeza de aldeias e, quando necessário, participando do confronto
armado. Lutando ombro à ombro com os operadores em operações de Ação Direta, as
integrantes das CSTs colocaram-se à prova no campo de batalha. Comprovando seu
valor como combatentes, elas fizeram cair por terra argumentos contrários à sua
presença nas funções típicas de infantaria, refutando a premissa da fragilidade
feminina, contestando a alegação de que seriam uma distração para seus
companheiros homens.
Sobre a interação entre militares de ambos
gêneros, uma questão que merece ser abordada refere-se aos relacionamentos afetivos
e/ou sexuais instituídos durante os engajamentos. Como uma característica intrínseca
da espécie humana, é fato que o instinto natural fará com que homens e mulheres
se relacionem independentemente do ambiente em que estejam vivenciando. Como
ocorre em todo ambiente profissional, a questão aqui não é evitar que as
relações entre os militares ocorram, mas sim que elas ocorram resguardando o profissionalismo
e atendendo às respectivas tarefas operativas. Um(a) operador(a) que não
consegue manter um relacionamento afetivo e/ou sexual no ambiente de trabalho enquanto
executa suas atividades profissionais está fadado a fracassar no desempenho de suas
funções, podendo comprometer a performance coletiva e o resultado das operações.
Outra questão fundamentalmente importante,
diz respeito à capacidade feminina de suportar os rigores do combate. Especificamente
no que concerne ao processo seletivo para as CSTs, estipulou-se que para se
qualificarem no programa as candidatas deveriam, independente das
características anatômicas e fisiológicas próprias de seu gênero, ter que se
adequar ao ambiente operativo. Assim, caberia a elas desempenhar um conjuntos
de tarefas árduas e sem qualquer concessão. No campo de batalha, homens e mulheres
devem ser capazes de responder igual e prontamente às severas exigências físicas,
intelectuais e psicológicas que lhes são impostas, e caso não demonstrem
predisposição para isso devem ser desconsiderados para missões dessa ordem.
Os efeitos da Guerra Global contra o
Terrorismo iniciada em 2001 após os atentados de 11 de Setembro, permitiu a
quebra de um paradigma que restringia a comunidade OpEsp ao gênero masculino. A
necessidade, motivada por particularidades culturais, possibilitou o ingresso
de mulheres nas unidades militares de elite, fato que potencializou a atuação
das tropas e contribuiu significativamente para conscientizar os decisores para
novas possibilidades de emprego.
Ainda que os EUA tenham se notabilizado pelo
desenvolvimento do programa CSTs, o emprego de mulheres no âmbito das tropas
especiais não é uma exclusividade norte-americana. Vinculada ao FSK (Forsvarets Spesialkommando [Comando de
Operações Especiais da Noruega]), a Jegertroppen
é considerada como a primeira FOpEsp constituída apenas por mulheres, sendo
responsável pela condução de Reconhecimento Especial em áreas urbanas. Assim
como ocorreu com as CSTs, a Jegertroppen também
foi empregada no Afeganistão basicamente da mesma forma como sua contraparte
estadunidense.
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