A Guerra Global contra o Terrorismo (GWOT [Global War on Terrorism]), levada à
efeito em países como Afeganistão, Iraque, Paquistão, Iêmen, Somália e Síria,
foi marcada por uma infinidade de OpEsp (Operações Especiais) cujo elevado grau
de sensibilidade impede que os pormenores a elas relacionados sejam
publicamente revelados. Manter resguardados os detalhes de missões consideradas
como sendo de natureza crítica para os interesses e a segurança do Estado que
as patrocinou é fundamentalmente importante, inclusive, para garantir a
confidencialidade dos operadores que dela participaram de modo a evitar
associações indesejáveis e possíveis riscos à sua segurança pessoal e familiar.
Muito embora mantenham suas identidades
protegidas sob a égide do segredo, é de conhecimento público que inúmeros
operadores especiais lotados em diferentes FOpEsp (Forças de Operações
Especiais) de várias nacionalidades tomaram parte das sucessivas campanhas
realizadas em decorrência da GWOT. Certamente há, nesse aglomerado de
informações sigilosas, uma série de relatos evidenciando personagens que de uma
forma ou outra se destacaram no cumprimento das tarefas a eles atribuídas.
Seguramente desponta entre esses atores de destaque, a figura inusitada do “cão
de combate”, introduzido no campo de batalha como um elemento de suporte às
ações dos quadros operacionais das unidades militares de elite.
A participação ativa desses animais na GWOT é
destacada nos dois livros escritos por Matt Bissonnette (sob pseudônimo Mark
Owen), ex-operador do DEVGRU (Naval
Special Warfare Development Group [Grupo de Desenvolvimento de Guerra
Especial Naval]) da Marinha norte-americana, que atuou na operação militar que
culminou com a morte de Osama bin-Laden, líder da organização fundamentalista (al-Qaeda)
que perpetrou os atentados terroristas contra o território estadunidense na
manhã de 11 de setembro de 2001. Tanto em “Não há dia Fácil” (2012) quanto em
“Não há Heróis” (2015), Bissonnette destaca o apoio ofertado pelos animais nas
ações táticas desempenhadas pelo DEVGRU.
O emprego de cães por FOpEsp não representa
nenhuma inovação no campo de batalha, uma vez que registros das antigas
civilizações egípcia e grega apontam a utilização de cachorros em situações de
enfrentamento. No decorrer das duas Guerras Mundiais ocorridas no século XX,
esses animais desempenharam funções distintas, tais como: localização de
feridos em combate; detecção de minas explosivas; auxiliando na instalação de
fios de telégrafo; transportando kits de primeiros-socorros e correspondência.
Por disporem de capacidade visual, olfativa e
sensorial mais desenvolvida que os padrões da espécie humana, os cães de
combate empregados pelas tropas especiais são adestrados para desempenhar uma
série de ações de modo a oferecer contribuições significativas, tais como: promover o
reconhecimento e/ou rastreamento do terreno, de modo a assessorar na condução
de patrulhas ou em procedimentos de varredura; subjugar ou intimidar elementos
adversos com força não-letal. Por ocasião da diversidade de tarefas que
caracterizam a atividade OpEsp, os animais que delas participam devem ter a
capacidade de desempenhar múltiplas funções, sendo necessário reunir condições
físicas e traços de personalidade compatíveis com as exigências das ações a
serem desempenhadas por eles. Nesse sentido, considerando o conjunto de
atributos (resistência física; agressividade; inteligência; lealdade) que
distingue cada espécie canina, raças como Pastor Alemão, Pastor Holandês e Pastor
Belga Malinois, têm a preferência para operar provendo o suporte às unidades
militares de elite.
Gostaria de fazer aqui um adendo, sobre cães de combate: Na Segunda Guerra Mundial, os russos treinaram unidades caninas para explodir tanques alemães, além de outras missões, como mensageiros e resgate de soldados perdidos na neve. E muito antes disso, durante as Guerras Púnicas, no Século III A.C., Aníbal, general do reino africano de Cartago, dispunha de formidáveis cães de guerra, os quais combatiam usando pesadas couraças de metal e espadas nas costas, para passar por baixo da cavalaria romana e cortar as barrigas das montarias.
ResponderExcluirEntre esses cães, haviam dois especiais: BAAL, de cor clara (não há registros de qual cor exatamente), destinado a proteger Aníbal durante o dia, e Astarte, totalmente negro, cuja tarefa era a de proteger Aníbal à noite.
O treinamento desses cães tem sua origem na distante Anatólia e os dois cães, especificamente, eram irmãos, nascidos durante o assédio de Sagunto, na Espanha. Eles eram treinados mais ou menos como algumas pessoas fazem hoje com os pit bulls.
Aníbal usava mastins espanhóis de 50kg, nessas campanhas, e seus favoritos Baal e Astarte eram de outra raça, da qual nunca consegui obter documentação. As únicas referências que vi foi que eram molossos da Moldávia, e em outra publicação, pastores da Anatólia. Não consegui confirmar, mas a segunda teoria é mais provável, é documentado que a avó dos cães era da Anatólia.
Com esses dois animais e mais alguns de igual valor, as forças de Aníbal causaram muitos estragos entre a tropas romanas, até que os próprios romanos adaptaram a modalidade e passaram a usar poderosos mastins napolitanos e outros cães oriundos da Germânia, antepassados do atual rotweiller.
Todos os formidáveis cães de guerra de Aníbal foram mortos na batalha de Zama, em 19 de outubro de 202 A.C. No meio artístico, a única referência conhecida aos cães de guerra de Aníbal é uma história em quadrinhos publicada pelo italiano Andrea Pazienza, intitulada "LA STORIA DI ASTARTE", publicada na revista Animal, em julho de 1988.
Esta HQ se tornou um marco no ramo das HQs épicas. Infelizmente, Pazienza morreu antes de publicar as últimas dez páginas da obra.