quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Informativo FOpEsp, nº 23

Formatura do CAMECO/C-Esp-MEC da Marinha do Brasil

Fotografia 1: Instrutores (parte superior) e alunos (parte inferior) durante cerimônia de brevetação do Turno 43 do CAMECO/C-EspMEC realizada no "Coliseu" local icônico para todos os integrantes da comunidade de Mergulhadores de Combate (MEC) da Marinha do Brasil. (Fonte: Foto de Rodney Alfredo P. Lisboa).

Na manhã do último dia 14/12/17, ocorreu, nas dependências da BACS (Base Almirante Castro e Silva) na Ilha de Mocanguê, região de Niterói-RJ, a cerimônia de formatura do Turno 43 do Curso de Aperfeiçoamento de Mergulhadores de Combate para Oficiais (CAMECO) e Curso de Especial de Mergulhadores de Combate (C-Esp-MEC). Conduzido pelo Centro de Instrução e Adestramento Almirante Áttila Monteiro Aché (CIAMA), o CAMECO/C-Esp-MEC é considerado como um dos mais intensos e prolongados cursos de capacitação de Elemento de Operações Especiais (ElmOpEsp) do país. 
Para conquistar o almejado brevê dos "tubarões", os candidatos tiveram que superar as três exigentes fases do curso (Mergulho Autônomo [incluindo a temida "Semana do Inferno"; Operações Terrestres; Sobrevivência, Fuga e Evasão) sendo levados aos limites de suas capacidades física e mental no intuito de selecionar àqueles que têm o conjunto de atributos necessários para cumprir com os objetivos estabelecidos, operando coletivamente em situações de extremo risco e sensibilidade.
Em conformidade com o percentual histórico de concluintes (25 a 30% do total de ingressantes), na cerimônia da turma de 2017, foram brevetados nove de um total de 38 candidatos que iniciaram o curso no Centro de Educação Física Adalberto Nunes (CEFAN) no distante mês de abril de 2017. 
O blog FOpEsp felicita o corpo de instrutores e parabeniza os mais novos MECs da Marinha do Brasil.


FORTUNA AUDACES SEQUITUR!


Fotografia 2: A bandeira do Turno 43 antes do descerramento da placa alusiva ao CAMECO/C-Esp-MEC 2017. (Fonte: Foto de Rodney Alfredo P. Lisboa).


Fotografia 3: As "cruzes" dispostas lado a lado representam cada um dos candidatos que desistiram do curso e ficaram pelo caminho. (Fonte: Foto de Rodney Alfredo P. Lisboa).


Publicação de Artigo


Fotografia 4: Quadros operacionais da 3ª Companhia de Forças Especiais (3ªCiaFEsp), também conhecida pelo termo FORÇA 3, em exercício de adestramento na região amazônica. (Fonte: Acervo da 3ªCiaFEsp).

Informo a todos os seguidores do blog FOpEsp que a Revista Segurança e Defesa em sua última edição (nº 128, p. 34-38), publicou artigo com o título:


"FORÇA 3: OpEsp do Exército na Amazônia"

Escrito em parceria com o Tenente Coronel Sérgio Oliveira, atual comandante da unidade, o presente artigo aborda os pormenores da 3ª Companhia de Forças Especiais (3ªCiaFEsp), bem como desafio de conduzir a modalidade de guerra não convencional na região amazônica, cujo vasto território, diversidade biológica e riquezas naturais são fundamentalmente importantes aos interesses estratégicos do Brasil.

Fotografia 5: Capa da edição nº 128 da Revista Segurança e Defesa. (Fonte: Acervo da Revista Segurança e Defesa).


Mensagem de Final de Ano


Prezados amigos, chegamos ao final de 2017 computando perdas e ganhos. No cálculo geral, ainda que o ano tenha se arrastado com causas constantes de desanimo e grandes dificuldades para a maioria dos brasileiros, ele chega ao fim indicando melhores perspectivas para 2018. O ano que se aproxima é significativamente importante para cada brasileiro, pois nos oferece uma sólida possibilidade de começar um processo de mudança. Nas urnas, teremos a possibilidade de assumir responsabilidades exercendo nossa cidadania de forma crítica e altruísta na tentativa de promover a evolução do nosso país e do nosso povo. Entretanto, é fundamentalmente importante que cada brasileiro saiba que essa transformação é um processo que se inicia de forma intrínseca, com a busca constante pelo autoconhecimento e auto aperfeiçoamento, que se reflete nas atitudes, opiniões e relações interpessoais. Nesse sentido, nossos modelos de referência moldam nosso caráter e ajudam a nortear nossas escolhas. Precisamos ter um somatório de conhecimentos que nos capacite a fazer nossas escolhas com profundidade analítica e objetivando o bem comum. O destino que ambicionamos depende das escolhas que fazemos e das decisões que tomamos!
Que este Natal seja a oportunidade de relembrar os obstáculos que enfrentamos, as dádivas, conquistas e experiências que vivenciamos, um momento de reflexão sobre a importância do comprometimento para conosco, nossas famílias, nossos amigos, nosso país e nosso futuro. Que nossos corações estejam abertos para o exercício da consciência crítica, da sabedoria, da tolerância e do perdão.  






segunda-feira, 20 de novembro de 2017

O Conceito de Alta Performance Aplicado à Atividade de Operações Especiais

Texto elaborado por Rodney Alfredo P. Lisboa



Fotografia 1: Quadros operacionais do Comando Especial das Forças Armadas (Forsvarets Spezialkommando [FSK]) da Noruega participam de um adestramento de ação contraterrorista. (Fonte: Disponível em: http://www.difesaonline.it/mondo-militare/siria-la-norvegia-schiera-60-operatori-dei-reparti-speciali Acesso em: 18 nov. 2017).


Na acepção do termo a expressão “alta performance” refere-se ao comportamento do indivíduo ao realizar determinada atividade, sendo esse comportamento influenciado por fatores intrínsecos e extrínsecos, valendo-se do máximo potencial das capacidades humanas para a execução das tarefas a serem efetuadas. No contexto das Operações Especiais (OpEsp), o alto desempenho envolve, sobretudo mas não somente, o conjunto de capacidades humanas (física, intelectual e psicológica), que somado ao agrupamento de valores morais, conferem ao Elemento de Operações Especiais (ElmOpEsp) o cabedal formativo necessário para que possa conduzir ações de natureza crítica e arriscada.  
Independentemente da forma como os Estados patrocinadores consideram o emprego de suas FOpEsp (Forças de Operações Especiais), dos procedimentos doutrinários adotados por cada unidade, ou do aparato tecnológico (armas e equipamentos) que lhes é disponibilizado, a eficiência das OpEsp está centrada na capacidade do indivíduo operar em favor da equipe em que encontra-se inserido visando a consecução dos objetivos que lhes são atribuídos.
Em se tratando de OpEsp, a alta performance do ElmOpEsp é fruto de uma intrincada combinação de fatores que envolve: o conjunto de experiências assimiladas pelo indivíduo ao longo da vida; o processo de seleção e treinamento bem estruturado; o sistema de formação progressiva e continuada (sistemática); o estabelecimento de vínculos de comprometimento nos níveis individual, coletivo e institucional; o desenvolvimento de uma profunda coesão (confiança) com os companheiros de equipe; além de engajamentos reais que permitam experimentações variadas em diferentes cenários.
É imperativo esclarecer que a eficiência das FOpEsp depende, fundamentalmente, de outros componentes e não se limita apenas aos aspectos inerentes à tropa, por mais bem preparada e motivada que ela se mostre ser. Para que as competências dos ElmOpEsp sejam exploradas no mais alto nível de rendimento, é imperativo: que a tropa comprometa-se com operações que estejam em conformidade com o nível de condução do enfrentamento (político; estratégico; operacional; tático) para o qual é vocacionada; adote doutrinas de emprego compatíveis com a tipologia dos engajamentos em que se envolve; tenha à sua disposição recursos tecnológicos de última geração (estado da arte); desenvolva capacidade para operar suportando ou sendo suportada por forças convencionais; atue de forma combinada em um sistema que integra expertises de agências distintas (militares e civis); opere valendo-se de capacidade C2 (Comando e Controle) de modo a assegurar um gerenciamento operacional adequado aos requisitos da missão; bem como da relação entre o volume, a intensidade, e o tempo de engajamento.  

Fotografia 2: Operadores da 26ª Unidade Expedicionária de Fuzileiros Navais com Capacidade de Operações Especiais (26th Marine Expeditionary Unit Special Operations Capable [26th MEU SOC]) durante exercício de tiro com pistola na Jordânia em 2013. (Fonte: Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/26th_Marine_Expeditionary_Unit Acesso em: 18 nov. 2017). 

O alto desempenho operativo que caracteriza uma diversidade de unidades especiais que atuam no cenário internacional ocorreu a partir de um gradativo processo de transformação da percepção e atitude, partindo dos ElmOpEsp para com eles próprios e posteriormente da sociedade militar para com a atividade OpEsp. O sentimento mútuo de desprezo entre os quadros operacionais das OpEsp e das tropas regulares que, não sem motivo, caracterizou as relações passadas, sofreu um revés quando as unidades de elite tiveram que  ser suportadas por forças convencionais devido às exigências do engajamento. O conceito de Special Forces Centric Warfare (Guerra Centrada nas Forças de Operações Especiais) difundido, principalmente, por ocasião da Guerra Global contra o Terrorismo, conduzida pelos EUA e seus aliados após os atentados de 11 de Setembro de 2001, arrefeceu as diferenças históricas que caracterizavam as relações entre as OpEsp e as tropas convencionais, levando os Estados engajados no conflito a adaptarem-se à nova realidade, criando condições para que as forças regulares desenvolvessem competências que permitisse mobilizar toda sua panóplia militar em favor do desempenho das FOpEsp. Por sua vez, coube aos ElmOpEsp a incumbência de assumir sua conduta prepotente despojando-se da convicção autossuficiente, de modo a reconhecer a extrema relevância do apoio ofertado pelas tropas convencionais à atividade OpEsp.  
Em última análise, assim como ocorre em qualquer segmento profissional, no que concerne às OpEsp, operar em alta performance consiste no esforço para mobilizar todos os recursos (do indivíduo, da equipe, da unidade, da instituição, e do Estado) no intuito de alcançar os objetivos/atribuições reduzindo ao máximo as possibilidades de fracasso.






domingo, 12 de novembro de 2017

Informativo FOpEsp, nº 22

I Curso de Operações Especiais da Polícia Militar do Piauí
I COESP/PMPI

Fotografia 1: I Curso de Operações Especiais da Polícia Militar do Piauí (I COESP/PMPI). (Fonte: Acervo do Batalhão de Operações Policiais Especiais [BOPE] da PMPI).

A Polícia Militar do Piauí (PMPI), por meio do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), está realizando o I COESP (Curso de Operações Especiais) com a finalidade de qualificar os alunos a conduzir ação policiais de natureza não convencional de modo a formar os quadros operacionais que irão compor o efetivo do BOPE/PMPI e unidades análogas de outros estados brasileiros que se fazem representar no curso. Com duração de quatro meses e meio, o COESP/PMPI iniciou suas atividades contando com 43 alunos oriundos dos estados Piauí, Acre, Pará, Mato Grosso e Amazonas, e encontra-se estruturado em 4 módulos distintos ministrados em diferentes regiões do país:

1° Módulo (BOPE/PMDF [Brasília]) -  Instruções de atendimento de ocorrências com explosivos, arrombamento com cargas explosivas e operações subaquáticas, com técnicas de orientação submersa, técnicas de varreduras e mergulho em águas profundas.

2° Módulo (BOPE e GRAER/PMGO [Goiânia]) – Operações helitransportadas, tiro policial de precisão, além de intercâmbio com o Comando de Operações Especiais (COpEsp) do Exército Brasileiro.

3° Módulo (BOPE/PMMG {Belo Horizonte]) – Instrução de contraterrorismo contendo as com as seguintes expertises: fenômeno do terrorismo, ameaças e proteção QBRN (Química, Bacteriológica, Radiológica e Nuclear), técnicas de entrevista, interrogatório, vigilância e intervenção tática contraterror.

4° Módulo (BOPE/PMBA [Salvador]) – Instruções de Montanha, Paraquedismo, além de assalto tático a tubulares (avião e metrô).


Fotografia 2: Professor Rodney Lisboa (editor do blog FOpEsp) assiste a uma instrução do 3° módulo do I COESP/PMPI (contraterrorismo)ministrada nas dependências do BOPE da Polícia Militar de Minas Gerais em Belo Horizonte. (Fonte: Acervo de Rodney Alfredo P. Lisboa).

 Ao final do curso, já ostentando o almejado conjunto de brevê (distintivo) e título de “Caveira”, o operador policial estará apto a operar em ocorrências complexas  de alto risco características da região Nordeste, tais como: roubos de caixas eletrônicos com uso de explosivos; roubos a bancos com presença de reféns; rebeliões em presídios com presença de reféns; apoio às unidades de área ou junto a outras organizações policiai que requeiram o emprego de tropa especializada.

Figura 1: Emblema do BOPE/PMPI. (Fonte:Acervo do BOPE/PMPI). 






terça-feira, 31 de outubro de 2017

Operações da Blackwater Aviation Durante a Guerra do Iraque (2003-2011)

Texto elaborado por Francisco Paulo Costa da Silva*  

Fotografia 1: Helicópteros modelo MD 500 Little Bird empregado pela Blackwater Aviation no Iraque como plataforma de Apoio de fogo (Fonte: Disponível em: https://www.rt.com/usa/189684-blackwater-private-army-isis/ Acesso em: 19 set. 2017).           

A partir da eclosão da guerra do Iraque em 2003, as Companhias Militares Privadas (Private Military Companies [PMC]) alcançaram um nível de protagonismo nunca visto antes em conflitos modernos. Após contratos assinados entre o governo americano e seus altos executivos, essas empresas executaram tarefas dignas de forças armadas. Escolta de comboios e segurança em embaixadas foram as missões mais visíveis, dada a exposição que tiveram na grande imprensa, fruto de episódios controversos que essas empresas protagonizaram naquele momento. Entretanto, houve o serviço de escolta e apoio aéreo aproximado levado a cabo pela Blackwater Aviation Unit, unidade de aviação operacional da antiga Blackwater, que, apesar de ser um serviço bem menos visível, impactou fortemente na execução de ações de segurança privada naquele teatro de operações.
Em 2011, a empresa foi vendida para um grupo de investidores privados que mudou seu nome para Academi. Com isso, a Blackwater Aviation tornou-se EP Aviation, associando-se ao grupo Constellis Holding que junto a Triple Canopy tornaram-se os maiores conglomerados de segurança privada, amealhando os principais contratos de segurança dentro do Departamento de Estado e de Defesa dos EUA.
A divisão aérea da Blackwater foi criada para prover apoio aéreo às operações conduzidas no Iraque e em outros cenários, onde o esforço de guerra ao terror era necessário. A frota era dividida em esquadrão de asas fixas e de asas rotativas, com o objetivo de proporcionar transporte de pessoal e apoio de fogo, respectivamente. Nos últimos anos, a empresa comprou um avião Super Tucano para as operações de contra insurgências no Afeganistão e aeronaves de transporte para apoio logístico nos diversos teatros de operações, especialmente nas ações no Oriente Médio e África. 
A maioria dos pilotos e operadores contratados pela antiga Blackwater era oriunda de equipes especiais das forças armadas e das polícias dos EUA. Geralmente, eram ex-militares com experiência em pilotagem de combate ou mesmo policiais que tenham pertencido a alguma unidade aérea de natureza policial. No caso dos Operadores Aerotáticos (atiradores de porta), dava-se preferência a ex-integrantes de unidades de operações especiais que, de certo modo, tivessem experiência com helicópteros. Membros do 160° Regimento de Aviação de Operações Especiais do Exército norte-americano (160th Special Operation Aviation Regiment [160th SOAR]), e Pararescue Jumper (PJ), os famosos paraquedistas de resgate da Força Aérea dos EUA (US Air Force [USAF]), eram os mais cotados para preenchimento de vagas na empresa. Contudo, Rangers e Special Forces (Boinas Verdes) do Exército e os SEALs da Marinha eram bem aceitos também.
O armamento utilizado nos helicópteros, basicamente, eram fuzis calibre 5.56 mm e a famosa metralhadora leve M 249 MINIMI, no mesmo calibre. Cada operador portava uma M 249 em ambas as portas da aeronave. Os pilotos também portavam um fuzil como backup.
A equipe básica embarcada consistia em dois pilotos e dois operadores para cada helicóptero.
Em 2003, os helicópteros foram utilizados para promover segurança em larga escala a comboios em que estava o administrador especial do Iraque, Paul Bremer, ou a outros membros do corpo diplomático cobertos pelos contratos. Basicamente, a operação consistia em dois veículos blindados Hunvees tomando a segurança à frente e dois à retaguarda. A autoridade se posicionava no veículo blindado ao centro. A missão dos dois helicópteros era de prever quaisquer contingências no percurso, escolher uma rota alternativa ou, caso o comboio fosse atacado, extrair a autoridade para um outro lugar.
Segundo procedimentos-padrões da empresa, os disparos de arma de fogo eram realizados somente de forma defensiva para  rechaçar ameaças armadas e proporcionar uma estração  segura ao VIP (Very Important Person).  Essa concepção de missão é semelhante à usada pela Coordenação de Aviação Operacional (CAOP), unidade aérea da Polícia Federal (DF) do Brasil em operações de escolta de comboios.

Figura 1: Esquema de manobra de uma missão de segurança de comboio realizada pela Blackwater Aviation durante a Guerra do Iraque (2003-2011). (Fonrte: Disponível em: https://pt.slideshare.net/b-cool/mission-impossible-or-what-it-takes-to-protect-ambassador-in-iraq Acesso em: 26 set. 2017).

A seguir são elencadas duas das principais missões executadas pelos operadores da Blackwater Aviation:

Resgate do embaixador da Polônia: No dia 3 de outubro de 2007, em Bagdá, o comboio do embaixador da Polônia no Iraque foi atacado com explosões de artefatos explosivos improvisados e disparos de fuzis, o que resultou na morte de um segurança, deixou nove feridos, bem como deixou 40% do corpo do embaixador queimado. Embora a Blackwater não fosse a responsável pela segurança do comboio, eles foram acionados e realizaram um ousado resgate em meio ao perigo de serem alvejados por foguetes e por fogos de armas leves.

Fotografia 2: Contratistas da Blakwater engajados na operação de resgate do embaixador polonês. (Fonte: Disponível em: http://blackwaterbirds.blogspot.com.br Acesso em: 20 set. 2017).

Operação de ressuprimento e combate nos céus de Najaf, Iraque: No dia 04 de abril e 2004, a cidade de Najaf, um centro de peregrinação Xiita, foi  afetada por uma grande revolta contra a ocupação americana no Iraque, conduzida  pelo clérigo  Muqtada Al Sadr, religioso muito influente na cidade. Uma das principais missões da Blackwater era de promover a segurança predial da sede regional da autoridade iraquiana, alvo da revolta dos militantes Xiitas. Passadas várias horas de combate, os contratistas e militares ficaram sem munição, precisando urgentemente de ressuprimento e de evacuação aeromédica de um Fuzileiro Naval (Marine) norte-americano. Após contato com o centro de comando e controle foi autorizado o voo de três helicópteros para levar munição e efetivos para o telhado do escritório da ocupação. Pela primeira vez, militares e contratista combateram lado a lado contra um inimigo comum.

Fotografia 3: Aeronave à serviço da Blackwater Aviation efetua operação de ressuprimento aéreo para os contratistas posicionados nos telhados de edificações da cidade de Najaf, Iraque. (Fonte: Disponível em: http://wealllook.blogspot.com.br/2005/08/blackwater-contractors-in-najaf.html Acesso em: 26 set. 2017).            

Em 23 de janeiro de 2007, uma equipe da Blackwater que estava escoltando autoridades americanas até a Zona Verde em Bagdá foi atacada por militantes islâmicos com fogos de várias armas semiautomáticas. Após pedido de ajuda ao centro de comando e controle da empresa, foram enviados dois helicópteros para apoiar a equipe terrestre. Ao chegar no local do ataque, um dos helicópteros envolveu-se em um intenso tiroteio, vindo a fazer um pouso forçado, enquanto um dos atiradores do segundo helicóptero foi atingido mortalmente com tiro de armas leves. De acordo com militares que chegaram ao lugar da queda do primeiro helicóptero, foi observado que todos os contratistas estavam com marcas de tiros pelo corpo, não sabendo se foram atingidos ainda no ar ou após a caída da aeronave.
Por um lado, o desempenho da Blackwater Aviation no Iraque foi deveras positivo em vista de seu objetivo, que era prover segurança a membros do Departamento de Estado dos EUA. Mostrou também que bons equipamentos alinhados ao emprego de ex-membros de forças especiais se constituiu uma fórmula de sucesso, a qual proporcionou coesão e espírito de corpo a essas empresas, a despeito de suas características privada e comercial. Analisando-se alguns aspectos doutrinários, houve um grande avanço acerca do emprego de pequenas frações helitransportadas em ambientes conflagrados, colocando em evidência um dos conceitos que mais cresce no ambiente das Operações Especiais (OpEsp), que é a capacidade de unidades aéreas conduzirem OpEsp, apesar de sua característica de apoio.

Fotografia 4: Aeronave CASA 212 utilizada pela Blackwater Aviation sobrevoa o Afeganistão lançando suprimento para as tropas americanas. (Fonte: Disponível em: https://inlightofrecentevents.wordpress.com/american-empire-the-costs-etc/blackwater-or-xe-and-other-affiliate-and-mercenaries/ Acesso em: 21 set. 2017).

A partir de outro ponto de vista, a participação da Blackwater no esforço de Guerra no Iraque foi, em grande medida, bastante controversa. Houve várias denúncias de violações de direitos humanos cometida por seus empregados, tendo como consequência o julgamento de alguns contratistas pelo episódio da praça Nisour, ocorrido em 16 de setembro de 2007 em Bagdá, ocasião em que 17 civis iraquianos foram mortos por guardas da Blackwater que estavam escoltando um comboio diplomático. Entretanto, não devemos esquecer que o serviço militar privado será cada vez mais demandado para realizar tarefas que exércitos formais não gostariam de fazer, ou mesmo para preencher lacunas no campo de batalha. Afinal, uma das grandes características das guerras de 4ª geração é a atuação de agentes não estatais no conflito. Sabe-se bem que isso já é uma tendência que mostra a evolução do combate nos tempos modernos, em que o poder militar e agentes privados civis estarão cada vez mais juntos utilizando-se da expertise, táticas e técnicas de ex-membros de forças especiais como forma de conter ameaças assimétricas e consequentemente lograr êxito em seus objetivos estratégicos.


Francisco Paulo Costa da Silva é policial federal desde 2004, ano em que concluiu o curso de papiloscopista na Academia Nacional de Polícia. Atualmente exerce a função de líder da equipe de operadores aerotáticos (atiradores da porta do helicóptero) da CAOP (Coordenação de Aviação Operacional) da Polícia Federal (PF). É graduado em História pela Universidade de Pernambuco e cursa pós-graduação em Relações Internacionais pela Damásio Educacional. Na PF participou do curso de operações aerotáticas, bem como do curso de atirador designado aerotático. Frequentou o Curso de Comandos Jungla (Polícia Nacional da Colômbia) além do curso de operações antidrogas pela School of the Americas (Escola das Américas) atual WHINSEC (Western Hemisphere Institute for Security Cooperation, ou Instituto do Hemisfério Ocidental para Cooperação em Segurança). Cursou o Estágio de Operação e Sobrevivência em Área de Caatinga (72º BIMtz [72º Batalhão de Infantaria Motorizado do Exército Brasileiro) e o Estágio de Atirador de Precisão (BOPE [Batalhão de Operações Policiais Especiais da PM-RJ). 




segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Informativo FOpEsp, nº 21

HANGOUT Bad Boy Tactical e NT2 
Tema: COMBATE URBANO II



Informamos que no próximo dia 25/10/17 (Quarta-Feira), a partir das 20:00hs, ocorrerá o 3º HANGOUT promovido pela Bad Boy Tactical e NT2, reunindo as maiores referências do Brasil para novamente expor o tema COMBATE URBANO. Na ocasião do evento, desenvolvido de forma ON-LINE, AO VIVO e GRATUITA (na FanPage Bad Boy Tactical e NT2 [Facebook Live]), o presente tema será abordado com o devido embasamento jurídico, com exposição pelo renomado Juiz e Presidente do Tribunal de Júri do Estado do Rio de Janeiro Dr. Alexandre Abraão.
Cada um debatendo o referido tema em éreas de atuação específicas, participarão da conferência os seguintes profissionais: 

Dr. Alexandre ABRAHÃO (Abordagem: A evolução do crime organizado no Rio de Janeiro)
Nascido e criado em uma família de policiais, o juiz de Direito Alexandre Abrahão Dias Teixeira é um estudioso das organizações criminosas no Brasil. Presidente do 3º Tribunal do Júri do Município do Rio de Janeiro, Alexandre Abrahão é responsável por julgamento de processos contra os mais perversos narcotraficantes brasileiros, instalados, notadamente, na capital carioca. Foi dele a extraordinária decisão que determinou o arquivamento do Inquérito que envolvia os policiais civis na morte do bandido Márcio José Sabino Pereira, o Matemático.


Cel Alessandro VISACRO (Abordagem: Guerra Irregular)
Oficial do Exército Brasileiro, atualmente desempenha a função de Chefe do estado-maior do Comando de Operações Especiais (COpEsp) do Exército Brasileiro, sediado em Goiânia-GO. Graduado pela turma de 1991 da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), possui os seguintes cursos militares: Curso de Ações de Comandos; Curso de Forças Especiais; Curso de Infantaria da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais;  Curso de Altos Estudos Militares da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército; Curso de Mestre de Salto Paraquedista;


Prof. Ms. Rodney  LISBOA (Abordagem: Preparação humana [física, psicológica e intelectual] do ElmOpEsp)
Professor universitário; Pós-graduado em História Militar; Mestre em Estudos Marítimos (área de concentração: Segurança, Defesa e Estratégia Marítima); Sócio correspondente do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (IGHMB); Colaborador da Revista Segurança & Defesa para o seguimento Operações Especiais; Consultor do site Plano Brasil (Defesa e Geopolítica) em assuntos relacionado às Operações Especiais; Autor de diversos artigos sobre Operações Especiais e Guerra Irregular.


Cap PM Victor BOMFIM (Mediador)
Oficial da Polícia Militar de Santa Catarina, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Graduado em Direito, Pós-Graduado em Segurança Pública e Pós-Graduando em História Militar, possuí os seguintes cursos militares: Curso de Operações Especiais (PMRO); Curso de Operações de Choque (PMPI); Curso de Patrulhamento Tático Móvel (PMRO); Curso de Patrulhamento em Ambiente Rural (PMMT); Curso de Paraquedismo Operacional (PMDF); Curso de Mergulhador Policial (PMDF).


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terça-feira, 26 de setembro de 2017

Comandando a Tropa no Campo de Batalha: Atribuições de Liderança no Âmbito das Operações Especiais

Texto elaborado por Rodney Alfredo P. Lisboa


Fotografia 1: Cena do filme "Falcão Negro em Perigo" (2001) destacando o confronto entre os operadores do 1º Destacamento Operacional de Forças Especiais-Delta (1st Special Forces Operational Detachment-Delta [1st SFOD-D]) do Exército dos EUA e a milícia somali nas ruas de Mogadiscio em 1993. (Fonte: Disponível em: http://www.thefocuspull.com/features/africa-in-cinema-somalia-and-black-hawk-down/Acesso em: 25 set. 2017). 

No mundo contemporâneo caracterizado pela competitividade em todas as esferas de atuação, questões relacionadas à liderança devem ser profundamente analisadas por pessoas e instituições que atribuem à função do líder uma considerável parcela de responsabilidade pelos bons resultados obtidos seja em âmbito pessoal ou coletivo. Seja a liderança conquistada de maneira formal (por merecimento ou eleição) ou informal (que surge de forma absolutamente natural), e ainda que o ofício de líder possa variar conforme a atividade desempenhada, a ação de liderar está intrinsecamente relacionada à capacidade de comandar, gerenciar e influenciar pessoas.
Ainda que o desenvolvimento e/ou aprimoramento das capacidades de liderança sejam desejáveis, sobretudo, em atividades profissionais que dependem da dinâmica do trabalho realizado em grupos para alcançar os resultados almejados, o tipo de liderança a que nos referimos aqui é uma categoria peculiar, exercida em situações de criticidade, pressão e risco elevados, às quais exploram o máximo das competências (moral, intelectual e psicológica) do indivíduo que lidera.
Considerando que a presente abordagem enfoca a liderança no contexto das atividades militares, é imprescindível esclarecer que qualquer análise, necessariamente, deve levar em conta o tripé formado pelo líder; seus seguidores e ambiente organizacional, para que o desenvolvimento dessa relação ocorra de forma harmônica evitando desproporções (discrepâncias). Diferente do que acontece nas tropas convencionais, onde a liderança é exercida com base em um sistema de relações hierárquicas (normalmente o exercício da liderança é atribuído às patentes mais elevadas), no contexto das Forças de Operações Especiais (FOpEsp), ainda que a hierarquia necessariamente tenha que ser respeitada, há uma flexibilidade própria da atividade que possibilita ao operador se valer de sua liberdade intelectual e experiência pessoal como prerrogativa para o exercício de liderança, mesmo que pontual, independente da patente ostentada.
Como convém a qualquer FOpEsp, é essencial que todos os integrantes do destacamento operacional/ equipe tática inserida na Área de Operações (AO) possuam o conjunto de predicados que os capacitem a exercer liderança. No decorrer dos engajamentos conduzidos com base no método de Ação Direta, por mais que o comando das ações táticas esteja à cargo do militar mais graduado da equipe, caso ele seja impossibilitado de continuar a comandar a função de líder é prontamente assumida pelo segundo operador na cadeia de comando e assim sucessivamente. Essa forma de liderança decorre de maneira circunstancial, surgindo a partir de situações que oportunizam ao militar, por ocasião de sua graduação e/ou capacidades específicas, exercer momentaneamente a função de líder.

Fotografia 2: Cena do Filme "O Homem mais Procurado do Mundo" (2012) retratando o Briefing realizado com os integrantes do Grupo de Desenvolvimento de Guerra Especial Naval (Naval Special Warfare Development Group [DEVGRU]) que participaram da Operação Lança de Netuno (Operation Neptune Spear) que culminou com a morte de Osama bin Laden. (Fonte: Disponível em: http://www.cine-vue.com/2012/12/film-review-code-name-geronimo.html Acesso em: 25 set. 2017).

Em virtude da necessidade de capacitar todos os Elementos de Operações Especiais (ElmOpEsp) no ofício de liderar, cabe aos processos seletivos e cursos de formação de operadores o desafio de abranger em sua estrutura curricular a aquisição/aprimoramento dos atributos de liderança juntamente com as demais qualidades essenciais à atividade OpEsp, a saber: agressividade controlada; estabilidade emocional; disciplina consciente; espírito de corpo; flexibilidade; honestidade; iniciativa; lealdade; perseverança; versatilidade.
Por ocasião das ações levadas à efeito como uma operação de natureza especial, é fundamentalmente importante que o militar que lidera tenha conhecimento das diferentes Técnicas, Táticas e Procedimentos (TTP), bem como das características relacionadas à tríade: líder; grupo; situação. Na condução das atividades operativas, é pouco provável que a equipe cumpra com seu(s) objetivo(s) tendo um líder tecnicamente despreparado, que ignora as capacidades de seus comandados, e que não esteja devidamente adaptado à situação que a ele se apresenta. Assim, é imprescindível que o líder faça um diagnóstico do grupo sob seu comando de modo a adequá-lo à ocorrências e ambientes distintos.
Uma questão que merece ser debatida refere-se ao sentimento mútuo de pertencimento e camaradagem que o líder e os comandados nutrem para com sua equipe. Constituída com base em fenômeno da Psicologia denominado “Instinto Gregário”, a personalidade do grupo de operadores que compõem a equipe fundamenta-se na combinação de personalidades dos militares que a integram, levando o ElmOpEsp a substituir a percepção individual (eu) por uma percepção coletiva (nós) que cria uma profunda ligação de respeito, confiança e senso de objetivo comum, enquanto evidencia uma sensação de incompletude quando o indivíduo se sente só.
No que concerne ao papel do líder de OpEsp, o comportamento pessoal é uma “ferramenta” crucial para estabelecer e cultivar uma relação de vínculo com os comandados. Assim, ainda que o carisma pessoal contribua para despertar a empatia, as atribuições de liderança são legitimadas quando o líder adota uma conduta apropriada (liderar pelo exemplo), postando-se, relacionando-se e comunicando-se de forma direta e transparente com seus subordinados.


Figura 1: O atributo da liderança na percepção do General (Ref.) Stanley McChrystal, oficial das Forças Especiais dos EUA que comandou as Forças de Coalizão dos EUA e da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no Afeganistão entre 2009 e 2010. (Fonte: Arte elaborada por Rodney Alfredo P. Lisboa).

 O caráter muitas vezes sensível e urgente das OpEsp não dá margem para dúvidas ou hesitações. Assim, tão importante quanto a precisão das ações executadas no curso da operação, é tarefa do líder tomar decisões críticas que podendo resultar em ameaça à interesses político-estratégicos e/ou risco de morte, forçando-o a assumir os encargos que lhe cabem por ocasião dos resultados obtidos no desfecho da missão (Responsabilidade de Comando).
Por mais que os atributos de liderança possam ser adquiridos (mediante processos distintos) por um indivíduo que não tenha manifestada tal predisposição, a classe de líderes inatos que nascem com tal predicado e promovem o aprimoramento dessa virtude no decorrer de sua vida operativa sempre produzirá comandantes mais apurados.
Em uma palestra ministrada em fevereiro de 2012 para um público de seiscentas pessoas no auditório da Stanford Graduate School of Business, Stanley Allen McChrystal, General de quatro estrelas (reformado) do Exército norte-americano que entre 2003 e 2006 comandou o Comando de Operações Especiais Conjuntas (Joint Special Operations Command [JSOC]) dos EUA, declarou que o exercício da liderança não é fruto de um dom ou talento mas a consequência de uma escolha. Ponderando acerca da afirmação feita pelo General McChrystal, é possível presumir que pessoas que manifestam essa virtude podem, por opção, falta de conhecimento ou oportunidade, não exercitá-la. Entretanto, àqueles que optarem pela prática da liderança, independente desta manifestar-se de forma inata (dom) ou adquirida (talento), devem prepara-se sistemática e convenientemente para essa difícil incumbência.