quinta-feira, 16 de março de 2017

As Garras do T.I.G.R.E: Por Dentro da Unidade de Elite da Polícia Civil do Paraná (Parte 1)

Adaptação de artigo publicado por Anderson Subtil na Revista Soldiers RAIDS*.

Fotografia 1: Dupla de policiais do Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial (TIGRE) da Polícia Civil do Paraná, participam de adestramento de confronto a elementos adversos. (Fonte: Acervo de Anderson Subtil). 

A pequena cidade de Marechal Cândido Rondon fica localizada na parte oeste do estado do Paraná, a cerca de 700 km de distância da capital do estado (Curitiba). Como outras cidades da região sul do Brasil, sua população é majoritariamente de origem alemã, italiana ou polonesa, sendo a agricultura e pecuária as principais atividades econômicas, principalmente para exportação. As ruas da cidade geralmente são calmas e os níveis de criminalidade são insignificantes se comparados a grandes cidades como: Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Salvador. No entanto, no ano de 1995 este pequeno município viveu momentos de terror e medo. Na tarde de 24 de abril, por volta das 16 horas, três homens armados com revólveres e espingardas calibre 12, criminosos do estado vizinho de Santa Catarina, invadiram uma residência, tomando o empresário Roni Martins, sua família, seu assessor, e os empregados da casa como reféns. No dia seguinte, nas primeiras horas da manhã, enquanto as mulheres e as crianças permaneceram no interior da residência sob o olhar dos criminosos, o empresário e seu assessor foram liberados para buscar o resgate de quinhentos mil dólares, fato que alertou a polícia.
Mobilizando-se rapidamente, as autoridades policiais começaram o cerco à residência dando início às negociações. Para libertar os reféns, os criminosos requeriam cem mil dólares, um veículo blindado, além de armas automáticas, exigências que foram rejeitadas pela polícia. Com o objetivo de pressionar emocionalmente os ladrões e deixá-los cansados fisicamente, sob ameaça constante de invasão, a polícia manteve as sirenes e holofotes constantemente ligados. No dia 26, um médico foi autorizada pelos criminosos a entrar na residência a fim de examinar os reféns. Quando saiu da casa ele forneceu informações relevantes relacionadas à localização dos sequestradores e dos reféns. Com o projeto da residência em mãos, a polícia construiu uma cópia improvisada da residência, onde unidades de elite conduziram ações simuladas visando uma possível operação de resgate.


Figura 1: Emblema do TIGRE da Polícia Civil-PR. (Fonte: Acervo de Anderson Subtil).

Finalmente, na madrugada do quarto dia de sequestro, quando os criminosos ameaçaram matar os filhos do empresário caso suas exigências não fossem cumpridas, o governador do estado autorizou a invasão da residência. Várias ambulâncias, viaturas de polícia, além de um caminhão de bombeiros e um ônibus foram posicionados na frente de cativeiro. Em uma ação rápida, transmitida ao vivo para todo o Brasil por diferentes órgão de imprensa, vinte operadores deixaram o ônibus e invadiram a residência, atirando granadas de luz e som e disparando contra os criminosos, que foram mortos. Apenas um dos reféns foi ferido e levado para o hospital, onde recebeu tratamento médico e foi liberado dias depois.
Nesta ação, considerada como a primeira a empregar modernas técnicas de intervenção armada para resgatar reféns no Brasil, foi executada por duas unidades policiais especiais do estado do Paraná: o Comandos e Operações Especiais (COE) da Polícia Militar; o TIGRE (Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial) da Polícia Civil.
O TIGRE foi criado oficialmente em 30 de outubro de 1990 em resposta à onda crescente de sequestros no Brasil, denominada pelos jornalistas como “a indústria do sequestro”. O país vivia um período de crise econômica grave, com exponencial aumento das atividades criminosas, sendo o sequestro e a extorsão uma das principais práticas criminosas da época. Muitos criminosos que antes se envolviam em assaltos e roubos à banco passaram a executar sequestros, principalmente, devido à relativa simplicidade e baixo risco representado por esse tipo de crime.
Como unidade de elite da Polícia Civil do Paraná, o TIGRE desempenha funções múltiplas, sendo responsável não apenas por executar o resgate de reféns e outras missões de risco elevado (escolta e/ou prisão de suspeitos perigosos; proteção VIP; intervenção de amotinados encarcerados; entre outras), como também pela atividade de investigação desses crimes.  


Continua...


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