Adaptação de artigo publicado por Anderson
Subtil na Revista Soldiers RAIDS*.
A pequena cidade de Marechal Cândido Rondon fica
localizada na parte oeste do estado do Paraná, a cerca de 700 km de distância
da capital do estado (Curitiba). Como outras cidades da região sul do Brasil,
sua população é majoritariamente de origem alemã, italiana ou polonesa, sendo a
agricultura e pecuária as principais atividades econômicas, principalmente para
exportação. As ruas da cidade geralmente são calmas e os níveis de
criminalidade são insignificantes se comparados a grandes cidades como: Rio de
Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Salvador. No entanto,
no ano de 1995 este pequeno município viveu momentos de terror e medo. Na tarde
de 24 de abril, por volta das 16 horas, três homens armados com revólveres e espingardas
calibre 12, criminosos do estado vizinho de Santa Catarina, invadiram uma
residência, tomando o empresário Roni Martins, sua família, seu assessor, e os
empregados da casa como reféns. No dia seguinte, nas primeiras horas da manhã,
enquanto as mulheres e as crianças permaneceram no interior da residência sob o
olhar dos criminosos, o empresário e seu assessor foram liberados para buscar o
resgate de quinhentos mil dólares, fato que alertou a polícia.
Mobilizando-se rapidamente, as autoridades
policiais começaram o cerco à residência dando início às negociações. Para libertar
os reféns, os criminosos requeriam cem mil dólares, um veículo blindado, além
de armas automáticas, exigências que foram rejeitadas pela polícia. Com o objetivo
de pressionar emocionalmente os ladrões e deixá-los cansados fisicamente, sob
ameaça constante de invasão, a polícia manteve as sirenes e holofotes constantemente
ligados. No dia 26, um médico foi autorizada pelos criminosos a entrar na
residência a fim de examinar os reféns. Quando saiu da casa ele forneceu
informações relevantes relacionadas à localização dos sequestradores e dos
reféns. Com o projeto da residência em mãos, a polícia construiu uma cópia
improvisada da residência, onde unidades de elite conduziram ações simuladas
visando uma possível operação de resgate.
Finalmente, na madrugada do quarto dia de
sequestro, quando os criminosos ameaçaram matar os filhos do empresário caso
suas exigências não fossem cumpridas, o governador do estado autorizou a
invasão da residência. Várias ambulâncias, viaturas de polícia, além de um
caminhão de bombeiros e um ônibus foram posicionados na frente de cativeiro. Em
uma ação rápida, transmitida ao vivo para todo o Brasil por diferentes órgão de
imprensa, vinte operadores deixaram o ônibus e invadiram a residência, atirando
granadas de luz e som e disparando contra os criminosos, que foram mortos.
Apenas um dos reféns foi ferido e levado para o hospital, onde recebeu
tratamento médico e foi liberado dias depois.
Nesta ação, considerada como a primeira a
empregar modernas técnicas de intervenção armada para resgatar reféns no
Brasil, foi executada por duas unidades policiais especiais do estado do Paraná:
o Comandos e Operações Especiais (COE) da Polícia Militar; o TIGRE (Tático Integrado
de Grupos de Repressão Especial) da Polícia Civil.
O TIGRE foi criado oficialmente em 30 de
outubro de 1990 em resposta à onda crescente de sequestros no Brasil,
denominada pelos jornalistas como “a indústria do sequestro”. O país vivia um
período de crise econômica grave, com exponencial aumento das atividades
criminosas, sendo o sequestro e a extorsão uma das principais práticas
criminosas da época. Muitos criminosos que antes se envolviam em assaltos e
roubos à banco passaram a executar sequestros, principalmente, devido à
relativa simplicidade e baixo risco representado por esse tipo de crime.
Como unidade de elite da Polícia Civil do
Paraná, o TIGRE desempenha funções múltiplas, sendo responsável não apenas por
executar o resgate de reféns e outras missões de risco elevado (escolta e/ou
prisão de suspeitos perigosos; proteção VIP; intervenção de amotinados
encarcerados; entre outras), como também pela atividade de investigação desses
crimes.
Continua...
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