Fotografia 1: Operador das Forças Especiais do Exército norte-americano. (Fonte: Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=sdSNuWOAleE Acesso em: 10 jul. 2017). |
Recentemente, quando trocava mensagens com
operadores de um grupo de WhatsApp do qual faço parte, surgiu uma questão que
demandou bastante tempo de conversa sem que chegássemos a um parecer
conclusivo. Na ocasião dessa confabulação, o assunto central versava sobre o
perfil do Elemento de Operações Especiais (ElmOpEsp), e a pergunta que norteava
nossa discussão indagava: Qual o perfil do profissional que opera em unidades
militares e/ou policiais de elite? Embora não tenhamos conseguido estabelecer
uma opinião consensual acerca do tema, uma preocupação comum aos debatedores daquele
grupo referia-se, especificamente, à efetividade dos processos de seleção de
ElmOpEsp no que concerne à capacidade de identificar os indivíduos que, de
fato, reúnem o conjunto de atributos necessários para desempenhar atividades
militares/policiais de natureza não convencional. Como pesquisador que se
dedica investigar o universo que permeia as Operações Especiais (OpEsp), a falta
de elementos que permitiam elucidar essa questão gerou certa frustração, fato
que fez com que me debruçasse sobre o assunto na tentativa de encontrar
respostas que possibilitem uma melhor compreensão sobre essa problemática.
A princípio é fundamentalmente importante
esclarecer sobre as particularidades que distinguem as OpEsp das operações
militares/policiais convencionais. Consideradas de forma bastante genérica, são
consideradas OpEsp as ações conduzidas por forças militares/policiais
especialmente organizadas, adestradas e equipadas, com a finalidade de alcançar
objetivos específicos valendo-se de métodos que fogem ao padrão regular
empregado por tropas convencionais. Consideradas em âmbito militar, as OpEsp
constituem ações não ortodoxas, realizadas por tropas com elevado nível de
aprestamento, realizadas em tempo de paz, de conflito e/ou crise, de forma
aberta, sigilosa ou coberta, buscando a consecução de objetivos políticos,
econômicos, psicossociais ou militares relevantes. Por sua vez, na esfera
policial, as OpEsp tratam de ações que extrapolam o padrão operacional
rotineiro, valendo-se de pessoal e material (armas e equipamento)
diferenciados, conduzidas em ambientes diversos (rural e/ou urbano), buscando a
solução de ocorrências críticas de forma técnica, ética e legal.
Fotografia 2: Alunos do Curso de Operações Especiais ICOESP) ministrado pelo COE (Comandos e Operações Especiais) da Polícia Militar do Paraná (PMPR). (Fonte: Acervo do COE da PMPR). |
Conforme é possível observar, guardadas as
diferenças existentes entre ambas atividades, tanto no contexto militar quanto
no policial, as OpEsp estão diretamente relacionadas à solução de situações de
risco elevado. Assim sendo, mostram-se aptos para o desempenho de tarefas dessa
ordem indivíduos que, somando ao domínio da técnica, reúnem o conjunto de
atributos humanos (físicos, psicológicos, intelectuais e morais) que os
capacitam a lidar de forma eficiente com eventos cuja criticidade os coloca
sistematicamente à prova.
No Brasil as particularidades culturais de
uma sociedade pouco familiarizada com as questões de Defesa e Segurança,
precariamente identificada com as Forças Singulares (Exército, Marinha e Força
Aérea) e Auxiliares (Polícias Federal, Rodoviária Federal, Militar e Civil),
representam um entrave significativo para atrair a categoria ideal de pessoas
dotadas com o rol de predicados necessários para compor as Forças de Operações
Especiais (FOpEsp). Em um cenário marcado pelo desinteresse e pela
desinformação, voluntariam-se para os programas de seleção e treinamento das
unidades militares e policiais de elite pessoas com perfis diversos: homens fascinados
pelo estereótipo do “super-soldado” explorado pela indústria do cinema, da TV
e/ou do vídeo game, indivíduos viciados nas elevadas cargas de adrenalina (hormônio
secretado pelo organismo que funciona como um estimulante natural) que
caracterizam atividades potencialmente arriscadas, sujeitos interessados apenas
em ostentar um brevê para se vangloriarem do mérito de terem cumprido com os requisitos
de um rigoroso programa de formação OpEsp. Assim sendo, pessoas conscientes de
suas reais capacidades em relação às demandas dos respectivos programas, além
de bem informadas acerca das exigências que lhe serão requeridas pelas
atividades OpEsp, candidatam-se aos processos seletivos como uma exceção à
regra.
Em uma país que não prima pela valorização de
suas FOpEsp, mesmo no seio da comunidade castrense, não é de surpreender que os
processos seletivos dos cursos de formação de operadores, sobretudo no que se
refere às Forças Auxiliares, deixassem a desejar em alguns aspectos. Um
problema recorrente trata da reprodução de modelos de formação que produzem bons resultados em determinado estado, mas que são impróprios ou ineficientes
em outras regiões do país em virtude das especificidades que as distinguem.
Nesse contexto, seria adequado que os respectivos Órgãos de Segurança Pública tivessem
o cuidado de estudar as demandas específicas de cada unidade OpEsp de modo a
promover cursos de formação continuada que atendessem aos requisitos da tropa
que opera naquela região do Brasil.
Outro agravante relacionado aos cursos de
formação de ElmOpEsp ministrados no Brasil trata da incapacidade de alguns
programas em identificar e suprimir previamente pessoas, que a longo prazo, não
trazem resultados efetivos para a unidade. Assim, conforme encontram-se
estruturados atualmente, alguns processos de seleção aprovam indivíduos que
conseguem vencer os rigores físicos e psicológicos do curso, mas que no
decorrer da carreira de operador não demonstram ter o comprometimento
necessário para com as obrigações da atividade OpEsp. Uma solução viável para
essa questão seria criar mecanismos que promovessem o Estudo Profissiográfico e
o Mapeamento de Competências dos candidatos antes que o curso de formação seja
iniciado.
O Estudo Profissiográfico refere-se ao
levantamento prévio dos requisitos básicos necessários para o desempenho de tarefas
específicas, bem como à identificação das condições que podem favorecer ou
dificultar sua execução. Investigações profissiográficas contribuem para o
planejamento estratégico institucional, servindo como referência para processos
de recrutamento, seleção, capacitação, avaliação de desempenho, além de
colaborarem para a análise da estrutura dos cursos de formação e
aperfeiçoamento.
Por sua vez, o Mapeamento de Competências busca
identificar, analisar e determinar o conjunto de capacidades profissionais
(técnicas e comportamentais) requeridas para o bom desempenho das tarefas
inerentes à atividade a ser desempenhada. A partir desse processo é possível
perceber eventuais lacunas existentes entre as capacidades apresentadas pelos candidatos
e as competências requeridas para a consecução dos objetivos a serem alcançados
nos diferentes processos seletivos.
|
Com base no que foi apresentado até o
momento, devo externar aqui minha opinião pessoal. Como profissional de
Educação Física que atuou por 15 anos em instituições de ensino superior,
especificamente em disciplinas relacionadas à Motricidade Humana e à Formação
Esportiva, acrescendo os oito anos em que venho me dedicando à pesquisar o universo relativo às tropas especiais, acredito que nas OpEsp, assim como em qualquer outra atividade
inerente ao ser humano, o talento individual para o desempenho de determinada tarefa encontra-se diretamente relacionado à "predisposição" (característica
geneticamente determinada que favorece a aquisição e o desenvolvimento de certas
capacidades). Nesse sentido, por mais que a habilidade técnica seja adquirida e
aprimorada por ocasião do treinamento sistemático, não existe adestramento, por
mais eficiente que seja, capaz de produzir talento em um indivíduo sem tal
predicado. Na prática, o operador talentoso possui, intrinsecamente desde a
infância, um conjunto de atributos físicos, motores, neurológicos e psicológicos, somados à valores éticos obtidos por influência do meio (social), que favorecem o desempenho optimizado das atividades
relacionadas às OpEsp. Uma questão relevante e que merece profunda reflexão refere-se
ao fato de que em sendo o talento fruto de herança genética, existem indivíduos
com genuína vocação para compor os quadros operacionais das unidades
militares/policiais de elite que por falta de instrução e/ou oportunidade
acabaram não ingressando em um programa de formação OpEsp, motivo que relegou
esse talento à condição de estado latente permanente devido à falta de estímulos
que fizessem aflorar capacidades ocultas (não manifestadas).
Sinceramente, um dos melhores textos que já li sobre o assunto. Muito interessante pra todos que queiram criar grupos de Operações Especiais.
ResponderExcluirAgradeço pelas palavras de incentivo. Estímulos como este nos ajudam a continuar trabalhando em favor das OpEsp mesmo diante dos obstáculos. Forte abraço!!!
ExcluirPrezado Professor Rodney;
ResponderExcluirA obra Psicologia Militar (Kennedy, Zillmer) da Bibliex aborda, em um de seus capítulos, com muita clareza o processo de seleção de elementos de operações especiais. É uma excelente leitura para os interessados na temática.
Atenciosamente,
Carlos
Obrigado pela contribuição Carlos. Grande abraço!!!
ExcluirConcordo plenamente com o texto.Apenas acrescento que, de acordo com minha realidade, a valorização de atributos morais como coragem, honestidade e espírito de corpo têm nos balizado melhor para uma seleção desejável ao preenchimento de nossos quadros operacionais.As características físicas e técnicas são importantes também mas desde que observados esses valores morais nos aluno/candidato a operador.Não adianta termos um baita operador, nos níveis físico e tático se o mesmo promove discórdia no grupo, não tem disciplina consciente em algum grau ou compactua com desvios éticos.
ResponderExcluirMais uma vez parabéns ao Prof Rodney pelo texto, que nos faz refletir como aperfeiçoarmos nossos processos de seleção.Um grande abraço!
Agradeço as palavras de incentivo Francisco. Fico satisfeito em saber que meu trabalho contribui p/o desenvolvimento dos operadores especiais militares/policiais de nosso país. QUEM OUSA VENCE!!!
ExcluirMais uma vez um excelente texto.
ResponderExcluirAgradeço o apoio e incentivo. Forte abraço!!!
ExcluirExcelente texto, e no meu ponto de vista, principalmente pelo final (... existem indivíduos com genuína vocação para compor os quadros operacionais das unidades militares/policiais de elite que por falta de instrução e/ou oportunidade acabaram não ingressando em um programa de formação OpEsp, ...). Sempre tive a perspectiva da probabilidade da existência desses indivíduos em tropas convencionais, mas que possuem desempenhos acima da média para suas unidades, mas justamente por isso trazem diferencial a suas unidades, o que acarreta na disseminação, não organizada, porém intrinseca por suas atitutes, da mentalidade de operações especiais a unidaddes convencionais. Ler seu texto e ver que meus raciocínios a respeito do assunto não é tão empírico me deixa feliz nas minhas concepções e me dar mais vontade de continuar pesquisando e lendo a respeito do assunto. De antemão poderia sugerir um texto sobre "a influência da unidade de operações especiais sobre unidades convencionais".Forte abraço.
ResponderExcluirAgradeço as observações e fico satisfeito que meu texto coincida com suas opiniões. Sugestão anotada!Forte abraço!!!
Excluir