Tal como ocorre em qualquer atividade que
realizamos rotineiramente, a eficiência dos resultados obtidos depende do
conhecimento que temos em relação ao método (técnica) e do conjunto de
habilidades que nos tornam capaz de executá-las. Contudo, ainda que seja relegada
ao esquecimento, principalmente pelos integrantes da sociedade ocidental,
constantemente suscetíveis ao desenrolar de tarefas múltiplas e simultâneas, a
capacidade de alcançar e manter o foco no cumprimento de uma ação figura como
uma condição imprescindível na busca pela consecução dos objetivos propostos.
Seja na ação de lavar um prato, pintar um quadro, modelar uma escultura, ou
executar a complexa sequência de movimentos de uma coreografia, o sucesso da
prática dependerá do elo mental estabelecido entre o executante e a tarefa por
ele executada.
Por mais que as atividades humanas requeiram
capacidades físicas e cognitivas que nos possibilitem executar tarefas com
níveis satisfatórios de desempenho, elas somente estarão em condições de alcançar
a alta performance quando o indivíduo que a executa dispõe toda sua capacidade
de concentração na atividade por ele realizada.
Analisadas pela perspectiva oriental
japonesa, as atividades da vida diária, sejam elas de natureza simples ou
complexa, necessariamente devem ser realizadas estando a mente do executante
totalmente voltada para a prática em questão, com a finalidade de maximizar os
efeitos dela obtidos. Nesse contexto, as artes marciais nipônicas evidenciam no
conceito de Zanshin o estado mental
que possibilita constituir uma percepção espaço-temporal (consciência situacional)
que conecta o executante de uma técnica de luta, não apenas ao adversário que
encontra-se em seu angulo de visão, mas aos vários adversários que,
eventualmente, possam estar dispostos pelo ambiente.
Ainda que a maioria das pessoas não se
preocupem em buscar a alta performance na execução de suas práticas diárias,
existem obrigações cuja natureza do desafio requer nada menos que o máximo
desempenho para que os objetivos sejam alcançados.
Como profissional de Educação Física que se
dedica investigar processos de formação esportiva, saliento que um dos
principais desafios dos atletas e equipes de alta performance encontra-se
diretamente relacionado à capacidade de sustentar a mente focada no decorrer de
uma prova, partida ou combate. Assim, quando um atleta olímpico perde o foco ou
se mostra desconcentrado, o resultado de sua desatenção, quando considerado um
resultado negativo extremo, pode ocasionar “apenas” em uma derrota desportiva
sem maiores riscos à sua segurança. Todavia, em se tratando de alto desempenho,
o mesmo não se aplica às práticas esportivas de aventura.
Nos esportes de aventura o termo “radical”
que popularmente é empregado para descrevê-los não é usado de forma aleatória,
uma vez que serve, entre outras aplicações, para definir os riscos extremados
aos quais os praticantes das modalidades dessa ordem se submetem. Nesse
sentido, para os atletas que se arriscam na prática desse gênero esportivo, a
capacidade de manter-se compenetrado controlando sua habilidade para solucionar
eventuais adversidades é uma questão de sobrevivência. Qualquer descuido, por
menor que seja, representa risco de morte.
Voltando nossa atenção para as atividades
militares/policiais de natureza especial, é possível fazer uma analogia da
tenacidade mental requerida do Elemento de Operações Especiais (ElmOpEsp) com a
capacidade de concentração dos atletas de aventura de alto rendimento.
Por serem consideradas como ações de natureza
crítica aos interesses dos Estados que as patrocinam dependendo do modo como
são empregadas e conduzidas, as Operações Especiais (OpEsp), necessariamente,
devem ser executadas pelos quadros operacionais da(s) unidade(s) engajada(s)
com o maior zelo e aplicação possível devido ao caráter sensível das implicações
envolvidas. Desse modo, dispor de uma mente focada na execução de suas tarefas
e no cumprimento dos objetivos estabelecidos é uma condição indispensável para
o ElmOpEsp.
Como se não bastasse o elevado nível de
criticidade e a tensão gerada por ele, no desempenho de suas tarefas operativas
os operadores são submetidos a uma grande diversidade de agentes estressores
que sistematicamente colocam todas suas capacidades (incluindo a concentração)
à prova.
Estudado e denominado por cientistas
ocidentais como "Flow" (Estado de Fluxo), esta condição específica da consciência
humana, desejável por ocasião da sensação de profundo envolvimento e controle
que proporciona, levando o indivíduo a alcançar o ápice de sua performance
física e psicológica, caracteriza-se pelo advento de algumas manifestações: clareza
mental; distanciamento emocional; capacidade de tomar decisões em conformidade
com o nível de complexidade da tarefa executada; distorções relacionadas à
percepção do tempo (minutos parecem durar uma fração de segundo enquanto poucos
minutos parecem durar longas horas).
No desempenho das tarefas operativas à cargo
dos quadros operacionais das FOpEsp, seria conveniente que cada operador
buscasse desenvolver capacidades psicológicas que fomentem a manifestação deste
estado mental enquanto realiza as obrigações que lhe foram conferidas, não
importando se a missão em questão é de natureza simples ou complexa, se é
definida como sendo de alta criticidade ou não.
Por mais que as manifestações desse estado de
consciência sejam, na maioria dos casos, experimentadas diariamente por cada um
de nós de forma absolutamente efêmera, arrefecendo de forma tão repentina e
surpreendente quanto surgiram, o que se deseja para o ElmOpEsp é que cada
operador (considerando o princípio da individualidade), consciente das
especificidades de sua profissão, encontre caminhos que favoreçam sua
capacidade de controlar o surgimento e o desaparecimento dessas manifestações
conforme sua vontade, ligando-as e desligando-as como faz com um interruptor de
corrente elétrica. Cabe a cada um trilhar o próprio caminho para explorar o
máximo potencial de suas capacidades humanas (físicas, intelectuais e
psicológicas) no intuito de encontrar esse estado mental de superação dos
limites e realização de proezas extraordinárias.
Reputo de fundamental importância a prática de meditação para desenvolver habilidades como foco e consciência situacional.Qualidades essenciais para um bom desempenho das atividades de operações especiais.No meio operacional já existem técnicas de respiração e concentração que vão ao encontro dessas necessidades.Parabéns pelo texto Prof Rodney!
ResponderExcluirObrigado camarada Francisco!
Excluir