Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.
Fotografia 1: Operador do 5th SFG-A (5° Grupo de Operações Especiais-Aerotransportado) interagindo com tropas sul-vietnamitas. (Fonte: THOMPSON, 2002, p. 12). |
Para
que se possa contextualizar o histórico das Forças Especiais (FEsp) do Exército
dos EUA, primeiramente é necessário esclarecer alguns aspectos acerca da
terminologia. Para a sociedade civil e para considerável parcela da sociedade
militar, pouco familiarizadas com o ambiente das unidades militares de elite, o
termo Forças Especiais é empregado de forma análoga à expressão Operações
Especiais (OpEsp). Apesar da similaridade, uma vez que ambas estão relacionadas
às atividades militares de natureza não convencional, a definição contextual
delas é absolutamente distinta. As OpEsp englobam uma ampla diversidade de
tarefas, cuja singularidade, estão além das capacidades operacionais das tropas
convencionais. Por sua vez, as FEsp dedicam-se à categorias específicas de
OpEsp que enfatizam o método de Ação Indireta (quando não há contato direto com
as forças inimigas) no intuito de moldar o ambiente operacional e/ou prover
suporte (assessoramento/treinamento) para forças militares ou paramilitares de nações
amigas envolvidas em situações de crise e/ou conflito.
Embora
a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) balize o emprego sistemático de OpEsp
(Operações Especiais), foi durante a Guerra Fria (1947-1991) que as FFAA
(Forças Armadas) norte-americanas estabeleceram o conceito de emprego para suas
FEsp. O choque de ideias instaurado após a Segunda Guerra entre os blocos
capitalista (liderado pelos EUA) e socialista (liderado pela URSS [União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas]), acirrou os ânimos instigando uma atmosfera
de antagonismo ideológico ao redor do mundo. Em alguns casos, essa
incompatibilidade levou ao desencadeamento de lutas regionais (guerras de conquista)
ou violentas manifestações de insurgência (rebelião contra uma autoridade
constituída). Essa atmosfera belicosa conferia aos Estados vinculados a ambos
blocos a necessidade de dispor de organizações aptas a executar ações
clandestinas (realizadas de forma sigilosa, distante da opinião pública e sem
denunciar o envolvimento do país que as patrocina) nas regiões globais onde
fossem solicitadas.
Figura 1: Oficiais do Exército dos EUA considerados como fundador (McClure) e co-fundadores (Fertig, Volckman e Bank) das FEsp norte-americanas. (Fonte: Elaborado pelo autor). |
Nos
EUA, coube ao Brigadeiro General Robert Alexis McClure, comandante da OPW
(Divisão de Guerra Psicológica do Exército [Office
of Psychological Warfare]), a iniciativa de promover a criação de unidades vocacionadas
para este fim. Convicto de suas percepções, e enfrentando a resistência da ala
conservadora da Força Terrestre (cujo pensamento estava enraizado nos conceitos
da guerra clássica e direcionado para o contexto da guerra nuclear), em 1951
McClure acabou por instituir e vincular uma Seção de Operações Especiais ao
órgão que comandava. Liderada pelo Coronel Wendell Fertig, a Seção de Operações
Especiais (Special Operations Section)
da OPW passou a operar tendo os Coronéis Russel William Volckman e Aaron Bank, respectivamente,
como Oficial de Planejamento e Diretor de Operações. Veteranos da Segunda
Guerra, tanto Fertig, quanto Volckman e Bank, haviam prestado relevante
contribuição na assessoria a movimentos de guerrilha que se opunham às tropas
do Eixo nos teatros da Europa e do Pacífico. Adicionalmente, foram incorporados
à Seção de Operações Especiais antigos integrantes da OSS (Agência de Serviços
Estratégicos [Office of Strategic
Services]), serviço de inteligência dos EUA durante a Segunda Guerra, e dos
Merrill`s Maraunders, tropa norte-americana constituída entre 1943 e 1944 para
conduzir operações irregulares na Birmânia (atual Myanmar) contra os japoneses.
Embora
não tivesse oferecido condições para o desencadeamento de OpESp, a Guerra da
Coréia (1950-1953) teve importância como primeiro campo de experimentação para
a OPW.
Em junho de 1952, sob o comando do Coronel
Aaron Bank, foi criado o 10th SFG-A (10° Grupo de Operações
Especiais-Aerotransportado [10th Special Forces Group-Airborne]) foi ativado. A
unidade recém instituída reunia um grupo heterogêneo de voluntários oriundos de
diferentes unidades do Exército, incluindo soldados jovens inexperientes e
veteranos de conflitos passados.
A eclosão de uma revolta trabalhista,
perpetrada por operários da construção civil na Alemanha Oriental em junho de
1953, tornou-se generalizada incitando a população contra o governo. Ainda que
o levante tenha sido rápida e violentamente reprimido pelas autoridades locais
(com ajuda de forças soviéticas), o evento despertou a atenção do Exército
norte-americano para a necessidade de dispor de tropas na Europa a fim de
responder prontamente às situações de crise. Diante dessa exigência, grande
parte do contingente do 10th SFG-A foi desdobrado para a Alemanha, permanecendo
nos EUA um pequeno grupo de oficiais e graduados (sargentos), além de soldados
recém-integrados e/ou com pouco treinamento. Em setembro do mesmo ano, esses
remanescentes acabariam por constituir o 77th SFG-A (para adequar-se à
configuração estabelecida pelo Exército, essa unidade seria redesignada como
7th SFG-A em maio de 1960).
Historicamente, desde sua gênese, os SFGs
foram estruturados de forma particular, sendo organizados em diferentes equipes
denominadas ODA (Destacamento Operacional Alpha [Operational Detachment Alpha]). Também conhecidos como “A-Team”, cada ODA era
constituído por 12 homens distribuídos conforme sua MOS (Especialidade
Ocupacional Militar [Military
Occupational Specialty]): operações; inteligência; armamentos;
comunicações; engenharia; saúde. Além de suas especialidades, cada operador
deveria ser versado em operações
de contra insurreição, recrutamento político de população civil, instrução
militar de guerrilheiros e incursões de profundidade na retaguarda do inimigo
com o suporte de irregulares locais. Na estrutura organizacional dos SFGs,
quatro ODA reunidos formavam um ODB ou B-Team, enquanto três ODB compunham um
ODC ou C-Team.
A partir da segunda metade da década de 1950,
temendo os reflexos dos movimentos insurrecionais de libertação na região
sudeste do continente asiático, muitos dos quais eram motivados pela crescente
influência soviética, o governo norte-americano decidiu enviar homens do 77th
SFG-A para operar em diferentes países da Ásia. Nesse período seria ativado na cidade japonesa de Okinawa o 1st SFG-A.
Foi
durante o governo do presidente John Fitzgerald Kennedy (1961-1963) que as FEsp
norte-americanas sofreram grande incremento. Em 1961, em uma visita oficial a
Fort Bragg, Kennedy mostrou-se positivamente impressionado com as capacidades
na condução da modalidade de guerra não convencional demonstradas pelo 7th
SFG-A. Convicto de que àquela modalidade
de enfrentamento era a mais adequada para o tipo de guerra que se configurava
no cenário internacional, o presidente determinou a expansão das Forças
Especiais. A iniciativa presidencial deu origem ao 5th SFG-A (1961), 3th, 6th e
8th SFG-A (1963). A visita do presidente Kennedy acabou por formalizar o uso da simbólica “boina verde”, usada até então pelos
quadros operacionais das FEsp de forma não-oficial.
Instituídas em 1959 inicialmente
como tropas inativas (reserva) do Exército e da Guarda Nacional (força militar de
reserva estacionada em todos os estados do país sob comando dos respectivos
governadores) pequenas unidades de FEsp sofreram uma expansão em 1961 por
ocasião da decisão presidencial, passando a formar o 2nd; 9th, 11th, 12th,
13th, 17th e 24th SFG-A da reserva do Exército, além do 16th, 19th, 20th e 21st
SFG-A da reserva da Guarda Nacional. Posteriormente (1966), esses grupos
acabariam se fundindo para formar o 11th e 12th SFG-A da reserva do Exército,
além do 19th e 20th SFG-A da Guarda Nacional.
Continua...
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