sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Concepção e Engajamento das Forças Especiais do Exército dos EUA no Conflito do Vietnã (Parte Final)

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.


Fotografia 1: Operador do 5th SFG-A posa para foto com combatentes montagnards recrutados para o programa CIDG (Grupo de Defesa Irregular Civil) responsável por confrontar o vietcongue e o EVN (Exército do Vietnã do Norte) na região das montanhas centrais vietnamitas. (Fonte: Disponível em: http://seanlinnane.blogspot.com.br/2011/11/special-forces-equals-green-berets-got.html Acesso em: 17 ago. 2016). 

Dividida em cinco territórios distintos, compreendendo a Cochinchina, Annan e Tonquim (regiões sul, central e norte do Vietnã, respectivamente), além do Laos e do Camboja, a Indochina Francesa (assim conhecida por ocasião dos eventos ocorridos durante a Segunda Guerra do Ópio [1856-1860]) foi palco de um dos maiores conflitos armados travados na segunda metade do século XX. Localizada na região sudeste da Ásia, a Indochina viu arrefecer a administração francesa no decorrer da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) quando a França foi levada a render-se perante a ameaça representada pela Alemanha Nazista. Estando o governo francês isolado na cidade de Vichy (cidade sede das Forças Livres Francesas que lutavam contra a ocupação do país pelos alemães), a administração colonial na Indochina mostrava-se frágil e deteriorada em virtude da incapacidade do governo central de prover qualquer auxílio às possessões asiáticas.
Aproveitando-se da fragilidade francesa na região, o Japão, que juntamente com a Alemanha e a Itália compunha as forças do Eixo, tomou o controle da Indochina em março de 1945. Posteriormente, com a rendição das tropas japonesas, que colocou ponto final nas hostilidades da Segunda Grande Guerra, movimentos nacionalistas, que haviam se unido para criar a Frente pela Independência do Vietnã (Vietminh), invadiram a cidade de Hanói (futura capital do Vietnã do Norte) assumindo o controle sobre região norte do país e proclamando a República Democrática do Vietnã em setembro de 1945.
Através da Conferência de Potsdam (Alemanha) realizada em 1945, as grandes potências concordaram que tropas britânicas (ao sul) e chinesas (ao norte) fossem encarregadas de organizar a retirada das tropas japonesas da Indochina. Contando com a colaboração britânica, a França foi reintroduzida no território indochinês retomando a administração na região sul. Embora incomodado com a presença francesa, Ho Chi Minh (líder do Partido Comunista e chefe do governo norte-vietnamita) fez um acordo com a França, permitindo a presença temporária de tropas no sul desde que os franceses reconhecessem a legitimidade da República Democrática do Vietnã e estabelecessem um prazo para a retirada de suas tropas. Entretanto, esse tratado foi ignorado em virtude da persistência francesa em manter um governo colonial na Cochinchina. A posição tomada pela França foi o estopim para o conflito entre as tropas francesas e o Vietminh, que recebeu apoio substancial da China e da URSS.



Figura 1: Insígnia de ombro usada pelos operadores das Forças Especiais do Exército dos EUA. (Fonte: Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Special_Forces_(United_States_Army) Acesso em: 17 ago. 2016).

Nos primeiros anos da década de 1950, o impasse gerado pela divisão do território vietnamita em dois governos antagonistas (a República Democrática do Vietnã no norte e o governo colonial francês no sul) levou as tropas francesas a conduzirem uma ofensiva que confrontaria o poder de fogo francês contra a capacidade de um exército formado essencialmente por camponeses. Contudo, em maio de 1954, os franceses foram subjugados pelos vietcongues na pista de pouso de Dien Bien Phu, localizada a 300km a oeste de Hanói. Finalmente, em julho do mesmo ano, por ocasião da Conferência de Genebra (Suíça), tratativas entre a França e o Vietminh acabaram por definir um acordo militar que dividia o Vietnã na altura do paralelo 17, originando a República do Vietnã (Vietnã do Sul [sob controle francês]) e a República Democrática do Vietnã (Vietnã do Norte [sob autoridade de Ho Chi Minh]).
Iniciada a década de 1960, John Fitzgerald Kennedy, então presidente dos EUA, mostrava-se preocupado com a crescente influência comunista no Vietnã. A formação da FNL (Frente Nacional para Libertação do Vietnã [cujos combatentes ficaram conhecidos pelo termo “vietcongue”) tornou ainda mais frágil à situação sociopolítica do Vietnã do Sul, à medida que os vietcongues atacavam guarnições de segurança do governo principalmente nas regiões mais afastadas das grandes cidades. A vulnerabilidade do autoritário e incipiente governo sul-vietnamita levou o presidente Ngo Dinh Diem a decretar estado de emergência e solicitar maior apoio militar aos EUA.
Atendendo ao apelo do governo sul-vietnamita, em 1961 Kennedy enviou quadros operacionais do 1st SFG-A para treinar o exército daquele país em táticas de guerrilha. Embora tenham desembarcado oficialmente em solo vietnamita apenas no final da década de 1950, quadros operacionais das FEsp (Forças Especiais) estadunidenses já atuavam na região provendo consultoria ao ERV (Exército da República do Vietnã) desde o início dos anos 1950.
Para se prepararem adequadamente para o conflito, as FEsp norte-americanas absorveram os ensinamentos do GCMA (Grupamento de Comandos Mistos Aerotransportados [Groupement de Commandos Mixtes Aéroporté]) francês nas ações levadas à efeito por ocasião da Primeira Guerra da Indochina (1946-1954), bem como da luta contra insurgente efetuada pelo destacamento de Malayan Scouts e operadores do SAS (Serviço Aéreo Especial [Special Air Service]) britânico na Malásia. A expertise francesa evidenciou a relevância da organização de guerrilhas étnicas, enquanto a experiência britânica apresentou-lhes as bases da doutrina insurrecional, segundo a qual era necessário reunir a população nativa em aldeias denominadas “povoados estratégicos”, para, posteriormente, cortar as linhas de suprimentos dos insurretos, levando o combate para o coração da selva onde os nativos recrutados dominavam o terreno.  

Fotografia 2: Operador do 5th SFG-A atuando como consultor das tropas do ERV (Exército da República do Vietnã) em uma patrulha ribeirinha conduzida nas proximidades da fronteira com o Camboja. (Fonte: WIEST; McNAB, 2016, p. 33).

Com a morte de Kennedy em 1963, Lyndon Johnson assumiu a presidência dos EUA focando a questão do Vietnã como decisiva para conter o avanço do comunismo na Ásia. Ele não apenas intensificou o auxílio militar dado ao Vietnã do Sul, como também autorizou ações clandestinas de tropas norte-americanas contra alvos do Vietnã do Norte. O envolvimento efetivo dos EUA na Guerra do Vietnã (1955-1975) deu-se a partir de 30 de julho de 1964, em virtude de um suposto ataque realizado por forças norte-vietnamitas contra o USS Maddox, contratorpedeiro estadunidense que patrulhava o golfo de Tonquim. Em represália, a Força Aérea norte-americana (US Air Force) bombardeou o território do Vietnã do Norte dando início à guerra aérea.
O Vietnã era constituído, em grande parte, por minorias étnicas tribais que eram ignoradas pelo governo do Vietnã do Sul. Valendo-se dessa fragilidade, o vietcongue impunha sua autoridade explorando e cooptando essas minorias. Com o intuito de minimizar a influência inimiga, expandir a presença do governo, e trazer a população carente para a luta nacional, as forças de defesa optaram por empregar ElmOpEsp (Elementos de Operações Especiais) norte-americanos para organizar forças locais de autodefesa compostas por membros dessas comunidades tribais.
No Vietnã as atividades das FEsp norte-americanas concentravam-se em duas áreas principais: ações nas montanhas da região central do Vietnã; operações secretas conduzidas no Laos e no Camboja (em um tratado formalizado em 1962, os EUA e o Vietnã do Norte se comprometiam a respeitar a neutralidade desses dois países asiáticos). Em 1964, ano em que a guerra começou a se intensificar, o contingente de tropas especiais dos EUA presente no Vietnã já havia treinado cerca de 1.900 montagnards (termo usado para designar os povos nativos da região das montanhas centrais do Vietnã) com o objetivo de emprega-los no programa CIDG (Grupo de Defesa Irregular Civil [Civilian Irregular Defense Group]), destinado a defender as aldeias e emboscar o movimento vietcongue e o EVN (Exército do Vietnã do Norte).
No ano seguinte, as FEsp organizaram a primeira “Força MIKE” (Força de Ataque Móvel [Mobile Strike Force Command]), composta por 1.800 guerreiros tribais mais bem preparados que os integrantes das CIDG. Agindo como uma força de reação rápida, cabia à Força MIKE a execução de patrulhas de reconhecimento, busca e destruição de tropas/alvos inimigos.
No início da guerra, os ElmOpEsp do 1st, 5th e 7th SFG-A foram engajados no conflito. Contudo, a partir de 1965 todas as OpEsp à cargo do Exército passaram a ser de responsabilidade do 5th SFG-A. Ainda que tenham se envolvido em inúmeras situações de combate, as FEsp também dedicaram-se às ações de desenvolvimento social (construção de rodovias, pontes, postos de saúde, entre outros), a maior parte delas realizadas na região das montanhas centrais com o objetivo de garantir suporte às tribos montagnards.
Enquanto durou a guerra, o Exército dos EUA e suas FEsp valeram-se de métodos distintos para o desempenho de suas funções. Enquanto o Exército posicionava-se de maneira favorável ao governo sul-vietnamita para ganhar apoio da população civil, as FEsp, por sua vez, operando em uma região onde o governo tinha pouco controle, acabavam por ocupar o papel que, na teoria, seria do governo, fato que fez com que as FEsp angariassem a simpatia e o apoio das populações tribais.

Fotografia 3: Quadros operacionais do 5th SFG-A e nativos montagnards da 5ª Força MIKE. Na imagem, os tribais apresentam armas inimigas capturadas aos militares norte-americanos. (Fonte: ROTTMAN; VOLSTAD, 1999, p. 48). 

Operações de inteligência conduzidas pela CIA (Agência Central de Inteligência [Central Intelligence Agency]) identificaram a existência de tropas norte-vietnamitas operando em terreno laociano e cambojano. Essa descoberta precipitou a necessidade de dispor homens para confrontar as forças inimigas além das fronteiras do Vietnã do Sul com o Laos e o Camboja (países considerados neutros). Para esse fim, em 1964 seria constituído o SOG (Grupo de Estudo e Observação [Studies and Observations Group]), unidade dirigida pelo MACV (Comando Militar de Assistência ao Vietnã [Military Assistance Command, Vietnam]). Composta de forma heterogênea, o SOG era composto por dois ou três militares norte-americanos qualificados como FEsp, responsáveis por recrutar e treinar dezenas de habitantes locais para que pudessem realizar missões de reconhecimento e sabotagem contra os vietcongue e o EVN. As missões desempenhadas pelos membros do SOG no Laos e no Camboja eram designadas por seu nome código, Daniel Boone (posteriormente Salem House) para o Laos, e Pikes Hill para o Camboja.
Criadas em decorrência do programa Phoenix, idealizado pela CIA no intuito de identificar e eliminar a organização político-administrativa vietcongue), as PRU (Unidades de Reconhecimento Provisórias [Provisional Reconnaissance Units]) tinham a tarefa de recrutar e formar, valendo-se de operadores SEAL e FEsp norte-americanos, pequenas unidades compostas por nativos, mercenários e desertores da FNL para eliminar integrantes e militantes do vietcongue.
A partir de 1970, o 5th SFG-A começou a reduzir gradativamente suas atividades operacionais, dando início ao processo de retirada de seu contingente do território vietnamita, fato que ocorreria definitivamente em março do ano seguinte. Entretanto, operadores da unidade continuariam a participar de operações de inteligência até a derrocada do governo sul-vietnamita, ocorrida no final de abril de 1975.

Referências

ROTTMAN, Gordon L.; VOLSTAD, Ron. US Army Special Forces 1952-84. Elite Series 4. Oxford: Osprey Publishing, 1999.

THOMPSON, Leroy. U.S. Special Operations Forces in the Cold War. The G.I. Series. London: Greenhill Books, 2002.

WIEST; Andrew; McNAB, Chris. A História da Guerra do Vietnã. São Paulo: M. Books, 2016.




Um comentário:

  1. Meu nome é joão paulo, sou um patriota, meu pais(Brasil) esta nas mãos dos comunistas desde 1985, vejam no que se transformou!!!é justo?, não esta na hora de prende-los? tenho noção de como atirar,e estou a disposição do exercito, lembrando que a comunistas estão entre vcs, eles terão que ser identificados, to cansado dessa putaria!!! eu amo o meu Brasil contato email-jpdrun@yahoo.com.br

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