Formulado
por James F. Dunnigan, historiador e analista-político militar norte-americano,
o termo “soldado perfeito” é empregado em referência a uma categoria de militar
cujo rigoroso padrão de preparação o capacita a desempenhar as missões mais
exigentes, em qualquer ambiente (terrestre, aéreo e/ou marítimo), de forma mais
eficiente e com menos recursos (humanos e materiais) que o soldado convencional.
Quando considerado pela perspectiva de Dunnigan, a constituição do soldado
perfeito, expressão empregada em analogia ao ElmOpEsp (Elemento de Operações
Especiais), é reflexo de uma combinação de fatores: disponibilidade de investimento do Estado
patrocinador, efetividade e paciência na condução do processo de seleção e
treinamento, disponibilidade de fornecer aparato tecnológico no “estado da
arte”, liderança com capacidade de gerenciar habilidades distintas em um
sistema de responsabilidade compartilhada. Conforme é possível notar na série
de fatores mencionados, Dunnigan aprofundou-se na análise de componentes extrínsecos
(aspectos políticos, históricos, doutrinários, entre outros), mas mostra-se
comedido (talvez intencionalmente) ao considerar os elementos intrínsecos
(capacidades físicas, psicológicas e intelectuais) relacionados ao indivíduo
que dispõe do conjunto de atributos que o habilitam a se tornar um ElmOpEsp.
Embora
todos os fatores apontados por Dunnigam sejam de fundamental importância para
promover a formação dos quadros operacionais das FOpEsp, são as capacidades
humanas que determinam a predisposição ou não de um indivíduo para desempenhar esta
ou àquela atividade. Nesse contexto, devemos entender disposição como uma
característica geneticamente determinada que favorece o desenvolvimento ou
aquisição de certa qualidade (física) ou traço (personalidade). Conforme
apresentada, a predisposição para desempenhar determinada atividade está
diretamente relacionada ao talento, entendido como sendo um grau muito elevado
de aptidão que é favorecido por estruturas físicas (anatômicas; fisiológicas;
motoras) e psicológicas desenvolvidas desde o nascimento, que influenciadas por
características ambientais (aspectos socioculturais), favorecem a aquisição e
diversificação de conhecimentos relacionados a atividades específicas.
Como
todas as tarefas desempenhadas pela espécie humana, sejam elas de natureza
simples ou complexa, as capacidades que orientam/direcionam nossa aptidão para desempenhar
uma determinada atividade não se manifestam repentinamente por ocasião do
desejo (em geral os candidatos às FOpEsp são voluntários) e/ou da competência
do processo formativo. Assim como ocorre com qualquer outra atividade
profissional, tornar-se um ElmOpEsp é resultado da conciliação favorável entre características
individuais com condições ambientais, de modo que o indivíduo demonstre ser
possuidor dos predicados básicos necessários quando lhe for dada a oportunidade
de explorá-las e desenvolvê-las.
Tais
predicados manifestam-se por ocasião da exploração de características
intrínsecas (inerentes ao indivíduo), as quais encontram-se distribuídas em
três categorias distintas:
Figura 1: Características intrínsecas aos seres humanos. (Fonte: Elaborado pelo autor). |
Embora
seja um processo extremamente rigoroso, que busca explorar os limites das
capacidades físicas e psicológicas dos candidatos objetivando detectar e
eliminar indivíduos que não apresentem os requisitos exigidos, os programas de
formação de ElmOpEsp não estão isentos de promover pessoas que dispõem das
capacidades individuais requeridas, mas apresentam problemas com relação aos
aspectos de ordem extrínsecas (influenciadas pelo ambiente no qual o indivíduo
se desenvolve).
As
características extrínsecas encontram-se sujeitas a uma série de variáveis que
influenciam na formação da personalidade (individualidade), determinando o modo
como as pessoas pensam e/ou agem. Nesse aspecto, os estímulos sociais
vivenciados no decorrer da vida são imprescindíveis para a constituição do
caráter. Por ser o ethos das tropas
especiais um conjunto de hábitos e costumes extremamente respeitado pelos
integrantes da comunidade OpEsp, responsável por criar uma intensa relação de
pertencimento e camaradagem, indivíduos que não coadunam com esses princípios
demonstram grandes dificuldades em compreender e/ou se adaptar ao meio em
questão.
Na
tarefa de detectar indivíduos dotados de capacidades individuais e princípios
morais compatíveis com as exigências dos programas de avaliação, seleção e
treinamento de ElmOpEsp, seria oportuno que o processo de formação de
operadores, além de sistemático, diversificado e continuado (mantendo-os atualizados
com as TTP [Táticas, Técnicas e Procedimentos] e os materiais [armas e
equipamentos empregados]), dispusesse de uma equipe interdisciplinar
(Psicólogo; Profissional de Educação Física; Assistente Social; entre outros)
em condições de oferecer o suporte necessário para que os requisitos
intrínsecos e extrínsecos sejam plenamente observados na busca pela excelência postulada
pelas unidades militares e policiais de elite.
A
contextualização do soldado perfeito demanda padrões de desempenho que não se
manifestam apenas por ocasião do processo de seleção e treinamento de alta
performance, por mais eficiente que eles sejam. A despeito de representar um
ativo importante, para que possam se valer de toda sua competência, os recursos
humanos carecem de apoio logístico e protocolos de atuação especializados para
cada situação específica. Nesse contexto, configura-se o tripé que alicerça o
ofício do ElmOpEsp: capacitação; logística apropriada; protocolos operacionais.
Outra
questão fundamentalmente importante diz respeito ao perfil do ElmOpEsp. Por ser
um profissional altamente especializado, que em determinadas situações
envolve-se em operações altamente sensíveis, o recomendável é que seu
engajamento ocorra apenas em operações que sejam compatíveis com suas
habilidades não convencionais. Embora os ElmOpEsp disponham de competência para
desempenhar funções de natureza convencional, e se esmerem para fazê-lo da
melhor forma possível (por ocasião das sensações de comprometimento e lealdade
próprios de seu ethos), empregá-los
em operações convencionais representa um desperdício de capacidade, uma vez que
suas habilidades e conhecimentos singulares estão sendo subutilizados.
Para
que a comunidade OpEsp atraia o perfil de indivíduos dotados com o conjunto de
atributos, que após serem devidamente lapidados, produzam a mão de obra
altamente especializada requerida pelas unidades militares de elite, é
imprescindível que os órgãos governamentais que as patrocinam, sejam eles da
natureza federal ou estadual, promovam políticas de valorização, que considerando
as habilidades superiores desenvolvidas por estes profissionais, acarretem reconhecimento
e gratificações (financeiras) compatíveis com as exigências das atividades singulares
às quais se destinam.
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