Texto adaptado da dissertação de mestrado de Rodney Alfredo Pinto Lisboa.
O
submarino é uma máquina de guerra projetada com o objetivo de transportar sua
tripulação abaixo da superfície dos mares e oceanos, para que possa, valendo-se
dos aparatos tecnológicos que lhes forem disponibilizados, alvejar alvos
inimigos localizados na água e/ou na terra.
Diferente do que ocorre com os navios de superfície, o submarino tem a
capacidade singular de controlar sua flutuabilidade, submergindo ou emergindo
conforme a necessidade. No
contexto estratégico, é a capacidade ímpar de ocultação (navegando submerso por
longos períodos sem que o inimigo perceba sua presença) que confere ao
submarino uma significativa vantagem em relação às embarcações de superfície.
Essa particularidade, essencial para o desempenho das OpEsp (Operações
Especiais) subaquáticas, sobressai a plataforma submarina como o principal
vetor de infiltração/exfiltração de unidades de elite que operam como MECs
(Mergulhadores de Combate).
Embora
tenham sido empregados de forma rudimentar no decorrer da Primeira Guerra
Mundial (1914-1918), foi somente durante a Segunda Grande Guerra (1939-1945)
que os submarinos passaram a ser empregados sistematicamente como plataforma de
apoio às OpEsp. Destacados como precursores no desenvolvimento de métodos de
infiltração/exfiltração e sabotagem submarina, os MECs italianos da Xª MAS (10ª Flotilha de Meios de Assalto [Xª Flottiglia Mezzi d'Assalto])
eram lançados dos submarinos italianos das Classes Perla (Ambra e Iride) e Adua
(Gondar e Scirè), com o objetivo de penetrar os portos ocupados (Malta,
Gibraltar e Alexandria) por tropas britânicas no mar Mediterrâneo a fim de
assediar os navios lá atracados fixando ogivas explosivas nas partes imersas
dos cascos dessas embarcações.
Para
o desempenho de suas funções como plataforma de lançamento/recolhimento de
MECs, os submarinos italianos eram dotados com a capacidade de liberar os
quadros operacionais da Xª MAS em posição mergulhada (imersão), valendo-se de
uma guarita de lançamento (câmara estanque) cujo ambiente permitia realizar os
procedimentos de inundação e equalização gradativa, possibilitando que os
operadores se familiarizassem com o meio aquático circundante. Por possuírem
tal capacidade, os submarinos italianos receberam de três a quatro contentores
estanques cilíndricos aptos a acomodar um veículo de transporte de MECs
(denominado Maiale) por contentor.
Esses compartimentos foram incorporados às embarcações a fim de favorecer o transporte
dos Maiale e facilitar sua liberação
junto ao ambiente oceânico.
A
técnica desenvolvida pelos MECs italianos era tão eficiente, que os
procedimentos de lançamento/recolhimento subaquático de operadores levados à
efeito em períodos posteriores à Segunda Guerra constituíam modernizações da
metodologia por eles desenvolvida no conflito da década de 1940.
O
fim da Guerra Fria (1947-1991) e os efeitos da globalização favoreceram o
surgimento de novos atores (sem nenhum vínculo estatal) no cenário internacional,
muitos dos quais acabaram por optar pela violência sem observar qualquer regra
ou restrição para alcançar seus objetivos. Por ameaçarem as linhas de
circulação do comércio marítimo de modo e comprometer a economia mundial, a
comunidade internacional considera a pirataria, o terrorismo e os conflitos
locais como sendo o maior risco à segurança das navegações. Assim, impossibilitadas
de negligenciar a possibilidade de se envolverem em um conflito simétrico
contra outros Estados soberanos, e tendo que se adaptar à nova modalidade de
enfrentamento perpetrada de forma assimétrica pelas denominadas “novas ameaças”
(insurreições; crime organizado; narcotráfico; pirataria; terrorismo; entre
outros), as Forças Navais nacionais tiveram que se organizar para assegurar a
presença e a vigilância constantes nas áreas marítimas próximas ao litoral,
conduzindo uma reação adequada em caso de necessidade.
Com
a alteração do cenário de ação migrando das águas oceânicas (predominantes no
período da Guerra Fria) para as proximidades do litoral, evidenciou-se a
necessidade de empregar submarinos menores e mais versáteis (dotadas com maior
controle de velocidade e navegabilidade) para realizar o tipo de operação
requerido nesse cenário.
No
início do século XXI, devido à GWOT (Guerra Global contra o Terrorismo [Global War on Terrorism])
iniciada pelo governo norte-americano do presidente George W. Bush após a série
de atentados contra os EUA realizados pela al-Qaeda em 11 de setembro de 2001,
o modus operandi do submarino como
plataforma de apoio às atividades conduzidas pelas FOpEsp (Forças de Operações
Especiais) sofreu grande incremento. Com o objetivo principal de combater os
membros da al-Qaeda e do Talebã, o governo dos EUA mobilizou seu aparato
militar para eliminar a ameaça terrorista em uma sucessão de Operações
Militares Centradas em FOpEsp (Special
Forces Centric Warfare). Como consequência desse processo, a AQN-ExOrd
(Ordem de Execução da Rede al-Qaeda), emitida secretamente por Donald Rumsfeld
(então secretário de Defesa dos EUA) em 2004, autorizava as FOpEsp a realizar
campanhas contra o terrorismo em qualquer parte do mundo onde se suspeitasse
que membros da al-Qaeda atuassem ou se mantivessem refugiados.
Adequando-se a doutrina de condução da GWOT, em 2005 a Marinha dos
EUA criou o Centro de Submarinos para Operações de Contraterrorismo (Center
of Submarine Counter-terrorism Operations) com o propósito de reconfigurar
SSBN (Submarino com Propulsão Nuclear Armado com Mísseis Balísticos) da classe
Ohio capacitando-os a operar como SSGN (Submarino com Propulsão Nuclear Armado
com Mísseis de Cruzeiro), de modo a fornecer suporte aos quadros operacionais
das FOpEsp. Para tanto, além da capacidade para receber o VLS (Sistema de
Lançamento de Mísseis Tomahawk [Tomahawk Vertical Launch System]), as embarcações são
capazes de transportar, em uma interface modular reconfigurável, cargas
alternativas nos tubos anteriormente reservados para os mísseis balísticos.
Entre essas cargas alternativas destacam-se, principalmente: o conjunto de
sensores externos capaz de ampliar o campo de observação do submarino (área a
qual a embarcação é capaz de observar e/ou coletar dados); o equipamento a ser
utilizado em missão por um destacamento FOpEsp embarcado de até 66 operadores.
Outra inovação, incorporada a bordo sobretudo em decorrência do desenvolvimento
das embarcações norte-americanas da classe Virginia, foi a criação de um Centro
de Gerenciamento de Batalha (Battle Management Center), ambiente apto
para conduzir o planejamento, comando e controle das operações realizadas pelo
destacamento FOpEsp. Também é digna de nota a capacidade dos SSGN de hospedar,
sobre a estrutura do casco atrás do torreão, um mini submarino ASDS (Sistema
Avançado de Transporte de Mergulhadores [Advanced SEAL Delivery System])
ou até dois DDS (Casulo Externo Resistente à Pressão [Dry Deck Shelter])
com capacidade para armazenar, lançar e/ou recolher um SDV (Veículo de
transporte de MECs [SEAL Delivery Vehicle]) por compartimento.
Mestre Rodney sempre redigindo excelentes matérias sobre Operações Especiais.
ResponderExcluirParabéns Rodney.
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