quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Evolução do Submarino como Plataforma de Apoio às Operações Especiais

Texto adaptado da dissertação de mestrado de Rodney Alfredo Pinto Lisboa.


Fotografia 1: Operador SEAL da Marinha dos EUA em procedimento de infiltração submarina. (Fonte: Disponível em: http://www.inquisitr.com/3096309/u-s-navy-will-review-training-procedures-after-third-trainee-dies-in-california-pool-during-training-exercise/ Acesso em: 9 ago. 2016).

O submarino é uma máquina de guerra projetada com o objetivo de transportar sua tripulação abaixo da superfície dos mares e oceanos, para que possa, valendo-se dos aparatos tecnológicos que lhes forem disponibilizados, alvejar alvos inimigos localizados na água e/ou na terra.
Diferente do que ocorre com os navios de superfície, o submarino tem a capacidade singular de controlar sua flutuabilidade, submergindo ou emergindo conforme a necessidade. No contexto estratégico, é a capacidade ímpar de ocultação (navegando submerso por longos períodos sem que o inimigo perceba sua presença) que confere ao submarino uma significativa vantagem em relação às embarcações de superfície. Essa particularidade, essencial para o desempenho das OpEsp (Operações Especiais) subaquáticas, sobressai a plataforma submarina como o principal vetor de infiltração/exfiltração de unidades de elite que operam como MECs (Mergulhadores de Combate).
Embora tenham sido empregados de forma rudimentar no decorrer da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), foi somente durante a Segunda Grande Guerra (1939-1945) que os submarinos passaram a ser empregados sistematicamente como plataforma de apoio às OpEsp. Destacados como precursores no desenvolvimento de métodos de infiltração/exfiltração e sabotagem submarina, os MECs italianos da Xª MAS (10ª Flotilha de Meios de Assalto [Xª Flottiglia Mezzi d'Assalto]) eram lançados dos submarinos italianos das Classes Perla (Ambra e Iride) e Adua (Gondar e Scirè), com o objetivo de penetrar os portos ocupados (Malta, Gibraltar e Alexandria) por tropas britânicas no mar Mediterrâneo a fim de assediar os navios lá atracados fixando ogivas explosivas nas partes imersas dos cascos dessas embarcações.


Fotografia 2: Maquete do USS Dallas (SSN-700), Submarino Nuclear de Ataque da classe Los Angeles. Conforme é possível observar, esse modelo transporta (sobre o casco, à ré da vela) um sistema DDS com capacidade para abrigar um SDV vocacionado para conduzir infiltração/exfiltração de MECs. (Fonte: Maquete desenvolvida pela Antares Maquetes, empresa especializada em arte naval e militaria [www.antaresmaquetes.com]).
 


Para o desempenho de suas funções como plataforma de lançamento/recolhimento de MECs, os submarinos italianos eram dotados com a capacidade de liberar os quadros operacionais da Xª MAS em posição mergulhada (imersão), valendo-se de uma guarita de lançamento (câmara estanque) cujo ambiente permitia realizar os procedimentos de inundação e equalização gradativa, possibilitando que os operadores se familiarizassem com o meio aquático circundante. Por possuírem tal capacidade, os submarinos italianos receberam de três a quatro contentores estanques cilíndricos aptos a acomodar um veículo de transporte de MECs (denominado Maiale) por contentor. Esses compartimentos foram incorporados às embarcações a fim de favorecer o transporte dos Maiale e facilitar sua liberação junto ao ambiente oceânico.
A técnica desenvolvida pelos MECs italianos era tão eficiente, que os procedimentos de lançamento/recolhimento subaquático de operadores levados à efeito em períodos posteriores à Segunda Guerra constituíam modernizações da metodologia por eles desenvolvida no conflito da década de 1940.
O fim da Guerra Fria (1947-1991) e os efeitos da globalização favoreceram o surgimento de novos atores (sem nenhum vínculo estatal) no cenário internacional, muitos dos quais acabaram por optar pela violência sem observar qualquer regra ou restrição para alcançar seus objetivos. Por ameaçarem as linhas de circulação do comércio marítimo de modo e comprometer a economia mundial, a comunidade internacional considera a pirataria, o terrorismo e os conflitos locais como sendo o maior risco à segurança das navegações. Assim, impossibilitadas de negligenciar a possibilidade de se envolverem em um conflito simétrico contra outros Estados soberanos, e tendo que se adaptar à nova modalidade de enfrentamento perpetrada de forma assimétrica pelas denominadas “novas ameaças” (insurreições; crime organizado; narcotráfico; pirataria; terrorismo; entre outros), as Forças Navais nacionais tiveram que se organizar para assegurar a presença e a vigilância constantes nas áreas marítimas próximas ao litoral, conduzindo uma reação adequada em caso de necessidade.




Com a alteração do cenário de ação migrando das águas oceânicas (predominantes no período da Guerra Fria) para as proximidades do litoral, evidenciou-se a necessidade de empregar submarinos menores e mais versáteis (dotadas com maior controle de velocidade e navegabilidade) para realizar o tipo de operação requerido nesse cenário.
No início do século XXI, devido à GWOT (Guerra Global contra o Terrorismo [Global War on Terrorism]) iniciada pelo governo norte-americano do presidente George W. Bush após a série de atentados contra os EUA realizados pela al-Qaeda em 11 de setembro de 2001, o modus operandi do submarino como plataforma de apoio às atividades conduzidas pelas FOpEsp (Forças de Operações Especiais) sofreu grande incremento. Com o objetivo principal de combater os membros da al-Qaeda e do Talebã, o governo dos EUA mobilizou seu aparato militar para eliminar a ameaça terrorista em uma sucessão de Operações Militares Centradas em FOpEsp (Special Forces Centric Warfare). Como consequência desse processo, a AQN-ExOrd (Ordem de Execução da Rede al-Qaeda), emitida secretamente por Donald Rumsfeld (então secretário de Defesa dos EUA) em 2004, autorizava as FOpEsp a realizar campanhas contra o terrorismo em qualquer parte do mundo onde se suspeitasse que membros da al-Qaeda atuassem ou se mantivessem refugiados.


Fotografia 3: Submarino Nuclear de Ataque USS California (SSN-781). As embarcações da classe Virginia, da qual faz parte o USS California, foram desenvolvidas para atender à demanda da "Guerra de Litoral" e são vocacionadas para operar em apoio às FOpEsp valendo-se de recursos como  um Centro de Gerenciamento de Batalha e a hospedagem dos sistemas ASDS e SDV. (Fonte: Disponível em: https://www.navy.com/about/gallery.html Acesso em: 9 ago. 2016). 

Adequando-se a doutrina de condução da GWOT, em 2005 a Marinha dos EUA criou o Centro de Submarinos para Operações de Contraterrorismo (Center of Submarine Counter-terrorism Operations) com o propósito de reconfigurar SSBN (Submarino com Propulsão Nuclear Armado com Mísseis Balísticos) da classe Ohio capacitando-os a operar como SSGN (Submarino com Propulsão Nuclear Armado com Mísseis de Cruzeiro), de modo a fornecer suporte aos quadros operacionais das FOpEsp. Para tanto, além da capacidade para receber o VLS (Sistema de Lançamento de Mísseis Tomahawk [Tomahawk Vertical Launch System]), as embarcações são capazes de transportar, em uma interface modular reconfigurável, cargas alternativas nos tubos anteriormente reservados para os mísseis balísticos. Entre essas cargas alternativas destacam-se, principalmente: o conjunto de sensores externos capaz de ampliar o campo de observação do submarino (área a qual a embarcação é capaz de observar e/ou coletar dados); o equipamento a ser utilizado em missão por um destacamento FOpEsp embarcado de até 66 operadores. Outra inovação, incorporada a bordo sobretudo em decorrência do desenvolvimento das embarcações norte-americanas da classe Virginia, foi a criação de um Centro de Gerenciamento de Batalha (Battle Management Center), ambiente apto para conduzir o planejamento, comando e controle das operações realizadas pelo destacamento FOpEsp. Também é digna de nota a capacidade dos SSGN de hospedar, sobre a estrutura do casco atrás do torreão, um mini submarino ASDS (Sistema Avançado de Transporte de Mergulhadores [Advanced SEAL Delivery System]) ou até dois DDS (Casulo Externo Resistente à Pressão [Dry Deck Shelter]) com capacidade para armazenar, lançar e/ou recolher um SDV (Veículo de transporte de MECs [SEAL Delivery Vehicle]) por compartimento.




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