domingo, 28 de maio de 2017

Operações Policiais Especiais no Combate ao "Novo Cangaço" (Parte Final)

Texto elaborado por Laio GIORDANNI Evangelista Melo*.


Fotografia 4: Escudo humano constituído por imposição de assaltantes à banco com base no método violento do Novo Cangaço. (Fonte: Disponível em: http://www.lobonoticias.com.br/2016/03/ Acesso em: 27 mai. 2017).

A simples resposta às ações do Novo Cangaço, não necessariamente, é levada à efeito como uma Operação Especial (OpEsp), sendo recomendado que o combate à iniciativa criminosa seja desencadeado por tropas policiais convencionais. Nesse sentido, haverá uma OpEsp quando identificada a inaptidão dos contingentes policiais regulares em lidar com a ocorrência. Para que uma Operação Policial Especial seja conduzida adequadamente visando o enfrentamento à elementos adversos, é fundamentalmente importante dispor de suporte de Inteligência, mediante acesso a dados concisos e concretos, permitindo executar o planejamento de emboscadas/esperas nas denominadas ‘zona quentes”. Porém ações dessa ordem, embora mais eficientes e fáceis de realizar, são complexas e temerárias, pois podem colocar a população civil no meio do fogo cruzado. Particularmente nesses casos, o ideal é que as OpEsp sejam conduzidas valendo-se da combinação de diferentes recursos de Inteligência (humanos, de imagens, de sinais etc.), com ações de choque de modo a neutralizar o ímpeto dos criminosos ainda durante a fase de preparação do delito, antes que a quadrilha tenha condição de colocar suas intenções em prática.
No que concerne ao trabalho dos operadores policiais especiais que vivenciam sistematicamente a realidade do Novo Cangaço, uma questão relevante a ser considerada é: O que esses operadores poderiam fazer se suas deficiências fossem suprimidas? Essa pergunta refere-se a uma série de problemas relacionados à realidade policial nacional que merecem ser dissertados com mais detalhamento.
A primeira destas questões refere-se ao tipo de armamento empregado pelas Forças de Operações Policiais Especiais para enfrentamentos com quadrilhas equipadas com armamento de grande poder destrutivo. Para os operadores, dispor de máxima eficiência de fogo valendo-se de armas de pequeno volume e peso é um desafio permanente. Logo a expressão “armas de dotação padrão” não fazem nenhum sentido para as unidades policiais não convencionais. O armamento que atende aos requisitos das tropas vocacionadas para ações de retomada e resgate devem atender ao trinômio confiabilidade, discrição e potência, pois são enfretamentos caracterizados tanto pela intensidade quanto pela complexidade. A confiabilidade é essencial uma vez que o resultado da operação depende, em parte, da percepção do operador em relação à credibilidade e eficiência do armamento por ele utilizado. A discrição é relevante, pois nos estágios que antecedem o confronto direto, a prudência na execução das ações se torna um fator crítico, e o emprego de uma arma mais robusta pelos integrantes da equipe de assalto pode prejudicar a sequência da operação. Por sua vez, a potência requerida para os armamentos utilizados em situações dessa ordem deve ser àquela que dispersa energia necessária para eliminar a ameaça sem comprometer a segurança da equipe e/ou de reféns. 
Outra questão relevante refere-se à carência de investimentos das forças estaduais de segurança no que concerne à equipamentos de inteligência e vigilância que produzam fontes de informação, auxiliem no rastreamento, e venham a suprir eventuais vulnerabilidades.


Fotografia 5: Equipe de Rastreio do Grupamento de Ações Táticas Especiais (GATE) da Polícia Militar da Paraíba (PMPB) engajada em uma operação de combate a uma quadrilha do Novo Cangaço. (Fonte: Acervo do GATE da PMPB).  

Uma vez que missões como estas exigem o deslocamento de tropas visando a pronta resposta, também é importante atentar para a demanda de transporte aeromóvel, outra questão que fica muito aquém dos investimentos requeridos, Nesse contexto, o emprego de aeronave ainda facilitaria as perseguições a veículos nos cenários pós-ação criminosa.
Considerando que a ação das quadrilhas que atuam com base no modus operandi do Novo Cangaço, é imprescindível que sejam estabelecidas parcerias com as instituições bancarias, uma vez que elas muito podem contribuir para as Forças de Segurança Pública bem como para e a sociedade. No âmbito das parcerias interagências de segurança, o trabalho conjunto é cada vez mais necessário e relevante devido ao intrincado esforço demandado nas ações para coibir e enfrentar as quadrilhas adeptas da metodologia do Novo Cangaço.
Ainda que os problemas supracitados sejam contornados, os efeitos dessa transformação carecem de uma mudança de atitude por parte da sociedade em relação às Forças de Segurança Pública. Para que a população possa reconhecer e valorizar o trabalho realizado pelas Operações Policiais Especiais sem desvirtuá-lo, é fundamentalmente importante que a sociedade compreenda a que se destinam as tropas dessa ordem de modo a diferencia-las das unidades policiais convencionais. Nesse sentido, a transição do atual estágio de ignorância para com a atividade Policial Especial para um nível mais apurado de percepção somente será experimentado a médio e longo prazo, reconhecimento do qual se valerão, possivelmente, as futuras gerações de Operadores Policiais Especiais.


* O Capitão GIORDANNI pertence ao Quadro de Oficiais Combatentes da Polícia Militar da Paraíba (PMPB), ingressou nas fileiras em fevereiro de 2006 e em 2008 formou-se bacharel em Segurança Pública pela Academia Militar do Cabo Branco – PB. Logo em seguida exerceu atividade de oficial de operações na Tropa de Choque da PMPB até o ano de 2011, no início de 2012 concluiu o Curso de Ações Táticas Especiais daquela força integrando o Grupamento de Ações Táticas Especiais (GATE) da PMPB até os dias atuais. Em 2015 concluiu o Curso de Operações Especiais (COEsp) na Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG). Exerce atualmente a função de Comandante da Equipe de Atiradores Policiais de Precisão desta tropa especial. Concluiu, ainda, diversos cursos operacionais na área de segurança.


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