Em
abril de 1980, os rigores do deserto impuseram uma série de transtornos aos
helicópteros RH-53 Sea Stallion que transportavam os quadros operacionais do
1st SFOD-D (1° Destacamento
Operacional de Forças Especiais-Delta (Delta Force]), forçando o cancelamento da
operação de resgate de 53 reféns norte-americanos capturados pela Guarda
Revolucionária Iraniana (leal ao Aiatolá Khomeini [líder da Revolução Iraniana
de 1979]) e mantidos em cativeiro na embaixada dos EUA em Teerã, capital do Irã.
O fracasso da denominada “Operação Eagle
Claw”, motivado principalmente por ocasião da inépcia na condução de C2
(Comando e Controle), bem como na coordenação interagências, forçou o governo
estadunidense a reestruturar suas FOpEsp (Forças de Operações Especiais), que
desde a conclusão da Guerra do Vietnã (1955-1975) vivenciavam um período de
forte declínio. Esta decisão acabaria por dar origem ao USSOCOM (Comando de
Operações Especiais dos EUA), organismo criado em 16 de abril de 1987 como um
CmdoCjOpEsp (Comando Conjunto de Operações Especiais), responsável por
gerenciar, no nível do DOD (Departamento de Defesa), as FOpEsp vinculadas às
FFAA (Forças Armadas) daquele país. Na
esteira desta iniciativa, cada uma das FFAA norte-americanas optou por
estabelecer CmdoSgOpEsp (Comandos Singulares de Operações Especiais) subordinados
ao USSOCOM (A Marinha, o Exército e a Força Aérea instituíram seus CmdoSgOpEsp
ainda na década de 1980, enquanto os Fuzileiros Navais [Marines] somente tomaram essa iniciativa em 2005).
A
realidade do cenário de enfrentamento internacional contemporâneo, balizado por
um amálgama de ameaças clássicas (estatais) e novas ameaças (não estatais), proporcionam
às OpEsp (Operações Especiais), em virtude de sua especificidade (são
extremamente bem preparadas, a relação custo-benefício é satisfatória (oferecem
resposta de baixa intensidade, com custos reduzidos [quando comparadas às
tropas convencionais] e danos colaterais minorados), uma possibilidade de
projeção histórica até então inédita, uma vez que nações como Reino Unido,
França, Canadá e Austrália, seguindo a tendência norte-americana, também
optaram por instituir CmdoCjOpEsp devidamente ajustados às particularidades e
necessidades das estruturas de Defesa de cada Estado.
Assim
como ocorre com qualquer país em desenvolvimento, o Brasil possui inúmeros
desafios a superar tanto em âmbito doméstico quanto externo. Nesse sentido,
cabe ao Estado brasileiro a tarefa de criar mecanismos que permitam desenvolver
a capacidade de reagir positivamente aos desafios de sua ascensão. Portanto,
promover o incremento constante de sua política e estratégia de Defesa, de modo
a permitir que o país disponha da capacidade necessária para enfrentar
adversários diversos que muitas vezes operam de maneira difusa, é apenas um
entre os múltiplos desafios que se impõem para que o Brasil possa respaldar a
soberania de suas decisões atuando de forma mundialmente mais destacada.
No
que concerne à organização de suas FOpEsp, o Brasil tem apresentado avanços,
com a instituição do COpEsp (Comando de Operações Especiais [criado em 2002
como Brigada de Operações Especiais) na estrutura organizacional do Exército, e
a constituição, mesmo que em caráter temporário, de uma FCjOpEsp (Força
Conjunta de Operações Especiais), subordinada a um CTOp (Comando do Teatro de
Operações) ou a um Comando Operacional designado para a realização de ações
específicas, como nos esquemas de segurança dos grandes eventos ocorridos em
território nacional. Embora a percepção em relação ao emprego das OpEsp tenha progredido,
a evolução não se mostra suficiente para garantir uma integração duradoura que
permita com que as FOpEsp brasileiras operem valendo-se do conceito exato do
termo “interoperabilidade”, pois atuam conjuntamente em situações esporádicas.
Fotografia 2: EqMEC (Equipe de Mergulhadores de Combate) posicionada de maneira a prover a guarnição de perímetro em ambiente de selva. (Fonte: Acervo do GruMec). |
Os
desafios impostos ao Brasil no que se refere à complexidade dos cenários
relacionados às suas áreas e assuntos de interesse, requer que as FFAA
nacionais tenham organização, versatilidade e flexibilidade para confrontar de
forma coordenada ameaças convencionais e não convencionais. Englobadas nesse
contexto, as FOpEsp das três Forças Singulares devem contribuir ininterruptamente
para essa demanda, valendo-se se suas habilidades ímpares no desempenho de
tarefas que lhes são intrínsecas e lhes atribuem identidade. Contudo,
falta-lhes uma estrutura integradora permanente que lhes possibilite trabalhar
de modo a promover a interação de potencialidades com vias ao emprego conjunto
seja em tempos de guerra, crise, ou em períodos de paz. Podendo ser
concretizado em um CmdoCjOpEsp (com ou sem forças adjudicadas [opção que
demanda uma análise extremamente criteriosa e em conformidade com a realidade
brasileira]), instituído na estrutura organizacional do MD (Ministério da
Defesa), a criação de um órgão dessa natureza não apenas promoveria o
aprimoramento das FOpEsp, como também produziria efeitos substanciais na forma
como os decisores pensam projetar o emprego (em todos os níveis de conduta da
guerra/conflito [político; estratégico; operacional; tático]) das OpEsp.
Pensando
de forma integradora, é significativamente importante que a Marinha e a Força
Aérea, estejam
propensas a promover mudanças conceituais e organizacionais expressivas, de
modo a considerar o emprego das OpEsp como uma importante alternativa
estratégica, e como consequência dessa filosofia de emprego possam formalizar a
concepção de CmdoSgOpEsp diretamente subordinados aos respectivos Comandos
Operacionais.
Para
que sejam instituídas estruturas de Comando que sejam capazes de organizar e
integrar as unidades de elite a elas vinculadas, é imprescindível que a
sociedade castrense brasileira, assim como ocorreu com a comunidade militar dos
países citados anteriomenter, compreenda as características contemporâneas do
conflito, cujas ameaças, diferente do perfil predominantemente estatal
(militar) do passado, não se restringem ao modelo clássico da Guerra de Atrito,
conduzida por tropas convencionais de Estados adversários que se confrontam
(respeitando as Leis da Guerra e a Convenção de Genebra) em espaços geográficos
previsíveis, a fim de reduzir a eficiência de combate do inimigo (destruição
dos meios físicos [humanos e materiais] do oponente).
Seria
valioso para o desenvolvimento de uma consciência nacional voltada para o
emprego de FOpEsp, que as autoridades brasileiras (civis e militares)
compreendessem como as FOpEsp estrangeiras encontram-se estruturadas, visando
erigir, mediante aprofundamento teórico, uma filosofia autóctone compatível com
um pensamento estratégico, que após ser revisto, prestigie o engajamento das
tropas especiais como alternativa apropriada para lidar com situações de
natureza não convencional em todos os níveis de condução da guerra/conflito.
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