A
história nos apresenta inúmeros exemplos de unidades militares de elite que
obtiveram sucesso na condução da modalidade de guerra assimétrica, na qual
tropas de pequeno efetivo (extremamente bem preparadas e equipadas) subjugaram
contingentes inimigos numericamente superiores e com maior poder de fogo. Por
ocasião de suas capacidades singulares e elevado nível de aprestamento, as
FOpEsp são capazes de executar missões altamente complexas com maior
desenvoltura que as unidades regulares. Entretanto, as habilidades ímpares, o
treinamento diferenciado e constante, bem como o aparato tecnológico no “estado
da arte” (mais alto nível de aprimoramento), têm pouca utilidade sem que haja
um planejamento prévio e coerente que norteie a condução da missão que se pretende
realizar.
Especificamente, para o Ministério da Defesa (2015, p. 206) o planejamento constitui:
Especificamente, para o Ministério da Defesa (2015, p. 206) o planejamento constitui:
Ato ou efeito de idealizar e fixar, com maior ou menor grau de detalhes, a ação, operação ou atividade a ser realizada, por meio da determinação e ordenação de um conjunto de ações que permitem atingir certo objetivo. Compreende a identificação: do que; de quando; de como deve ser feito; e de quem deve fazê-lo.
Devido
à complexidade das ações relacionadas às OpEsp, muitas delas sendo de grande
criticidade para o Estado que as patrocina, as missões nas quais se envolvem demandam
de intenso e meticuloso planejamento, o qual requer, considerando as
especificidades da operação (natureza Direta ou Indireta), informações
específicas e confiáveis acerca: das particularidades do terreno; das condições climáticas; do potencial de combate
das forças inimigas; das características político-econômicas e socioculturais
da região compreendida pela AO (Área de Operações), entre outros aspectos.
Esses dados são imprescindíveis para que seja realizado um estudo no qual serão
identificadas condições (coordenar C2 [Comando e Controle]; identificar a necessidade
de moldar o ambiente operacional; estabelecer requisitos para garantir a
segurança da operação; determinar a presença de tropas amigas e/ou forças de
apoio; selecionar métodos de treinamento [o treinamento constitui parte
significativamente importante da fase de planejamento]; escolher procedimentos de
infiltração/exfiltração; promover a triagem de equipamentos apropriados; definir
regras de engajamento a serem adotadas; organizar o suporte logístico e apoio
de fogo; etc.) que orientem na elaboração de um planejamento ajustado à
realidade.
Assim como um planejamento bem estruturado fornece elementos que
contribuem para o desfecho favorável da operação, planejamentos inadequados e/ou
realizados às pressas (negligenciando ou desconsiderando variáveis inerentes à
missão em questão) têm grande probabilidade de redundar em fracasso. Apenas
para citar como exemplo, em 1983 o desempenho do 1st SFOD-D (1° Destacamento Operacional de
Forças Especiais-Delta [Força Delta]) por ocasião da “Operação Urgent Fury” (invasão da ilha de Granada
em por tropas internacionais lideradas pelos EUA em resposta a um golpe de
estado) foi comprometido, sobretudo, em virtude da falta de planejamento. Os
operadores da Força Delta responsáveis por liberar prisioneiros políticos retidos
na prisão de Richmond Hill se depararam com uma série de problemas de toda
ordem (ignorados na fase de planejamento), que devido aos entraves criados, acabaram
levando ao cancelamento da missão.
Embora não assegure a consecução dos objetivos estabelecidos, um planejamento
bem elaborado, desenvolvido e executado potencializará as chances da operação
ter sucesso. A fase de planejamento antecede qualquer engajamento, mesmo
àqueles que não se distinguem pelo alto grau de sensibilidade (pois ao se
tornarem público podem comprometer o Estado que o patrocina), ou requerem preparações
extremamente complexas. O planejamento, normalmente, exige um longo processo de
estudo, que dependendo dos requisitos exigidos, pode se estender por vários
dias. No decorrer desse processo, todos os pormenores relacionados à missão
devem ser considerados e sua viabilidade analisada. Todavia, o resultado desse
estudo deve ser traduzido, não em informações demasiadamente detalhadas que
restringem possibilidades de mudança e limitam a capacidade de decisão in loco, mas em um conjunto relativamente
simples de instruções, a serem transmitidas de forma clara e objetiva para
todos os membros do destacamento que participará da operação. É imprescindível
que todos os membros do destacamento compreendam exatamente como, quando e onde
devem agir, estabelecendo, em caso de necessidade de confronto, sua
superioridade em relação ao inimigo.
Devido à valorizada capacidade de avaliarem criticamente as
situações que lhes são apresentadas, os quadros operacionais das FOpEsp,
independente da patente que ostentam, são incitados a participar dos
planejamentos com liberdade de julgamento (opinião), uma vez que a percepção
individual dos ElmOpEsp (Elementos de Operações Especiais), devido à expertise,
representa um ativo que pesa favoravelmente na definição do plano de ação a ser
adotado.
Referência:
BRASIL, Ministério da Defesa. Glossário das Forças Armadas. MD35-G-01, 5. ed. Brasília: Ministério da Defesa, 2015.
Referência:
BRASIL, Ministério da Defesa. Glossário das Forças Armadas. MD35-G-01, 5. ed. Brasília: Ministério da Defesa, 2015.
Caro Rodney, sou leitor assíduo dos seus textos, principalmente os que falam sobre organização e emprego de equipes especiais.Atualmente faço parte de um grupo dentro da PF que faz uso dessas ferramentas de planejamento operacional.A cada dia vejo que nossas OEs, quer sejam militares ou policiais, necessitam de conhecimento teórico e prático de como se organiza e executa uma operação especial.Parabéns pelo alto nível das matérias nesse Blog, com certeza colabora e muito com o enriquecimento teórico de quem faz operações especiais em nosso País.
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