sexta-feira, 22 de julho de 2016

Planejamento Operacional: Estabelecendo as Diretrizes para a Condução das Operações Especiais

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.


Fotografia 1: Durante uma patrulha, quadros operacionais do KSK (Kommando Spezialkrafte) alemão executam uma parada temporária para observação e escuta. (Fonte: Disponível em: https://br.pinterest.com/akme00/si%C5%82y-specjalne/ Acesso em: 20 jul 2016).

A história nos apresenta inúmeros exemplos de unidades militares de elite que obtiveram sucesso na condução da modalidade de guerra assimétrica, na qual tropas de pequeno efetivo (extremamente bem preparadas e equipadas) subjugaram contingentes inimigos numericamente superiores e com maior poder de fogo. Por ocasião de suas capacidades singulares e elevado nível de aprestamento, as FOpEsp são capazes de executar missões altamente complexas com maior desenvoltura que as unidades regulares. Entretanto, as habilidades ímpares, o treinamento diferenciado e constante, bem como o aparato tecnológico no “estado da arte” (mais alto nível de aprimoramento), têm pouca utilidade sem que haja um planejamento prévio e coerente que norteie a condução da missão que se pretende realizar.
Especificamente, para o Ministério da Defesa (2015, p. 206) o planejamento constitui: 


Ato ou efeito de idealizar e fixar, com maior ou menor grau de detalhes, a ação, operação ou atividade a ser realizada, por meio da determinação e ordenação de um conjunto de ações que permitem atingir certo objetivo. Compreende a identificação: do que; de quando; de como deve ser feito; e de quem deve fazê-lo.

Devido à complexidade das ações relacionadas às OpEsp, muitas delas sendo de grande criticidade para o Estado que as patrocina, as missões nas quais se envolvem demandam de intenso e meticuloso planejamento, o qual requer, considerando as especificidades da operação (natureza Direta ou Indireta), informações específicas e confiáveis acerca: das particularidades do terreno; das condições climáticas; do potencial de combate das forças inimigas; das características político-econômicas e socioculturais da região compreendida pela AO (Área de Operações), entre outros aspectos. Esses dados são imprescindíveis para que seja realizado um estudo no qual serão identificadas condições (coordenar C2 [Comando e Controle]; identificar a necessidade de moldar o ambiente operacional; estabelecer requisitos para garantir a segurança da operação; determinar a presença de tropas amigas e/ou forças de apoio; selecionar métodos de treinamento [o treinamento constitui parte significativamente importante da fase de planejamento]; escolher procedimentos de infiltração/exfiltração; promover a triagem de equipamentos apropriados; definir regras de engajamento a serem adotadas; organizar o suporte logístico e apoio de fogo; etc.) que orientem na elaboração de um planejamento ajustado à realidade.
Assim como um planejamento bem estruturado fornece elementos que contribuem para o desfecho favorável da operação, planejamentos inadequados e/ou realizados às pressas (negligenciando ou desconsiderando variáveis inerentes à missão em questão) têm grande probabilidade de redundar em fracasso. Apenas para citar como exemplo, em 1983 o desempenho do 1st SFOD-D (1° Destacamento Operacional de Forças Especiais-Delta [Força Delta]) por ocasião da “Operação Urgent Fury” (invasão da ilha de Granada em por tropas internacionais lideradas pelos EUA em resposta a um golpe de estado) foi comprometido, sobretudo, em virtude da falta de planejamento. Os operadores da Força Delta responsáveis por liberar prisioneiros políticos retidos na prisão de Richmond Hill se depararam com uma série de problemas de toda ordem (ignorados na fase de planejamento), que devido aos entraves criados, acabaram levando ao cancelamento da missão.   

Fotografia 2: Destacamento operacional do MARSOC (Marine Corps Special Operations Command [Comando de Operações Especiais dos Fuzileiros Navais dos EUA]) executa ajustes no planejamento de preparação para um engajamento. (Fonte: Disponível em: http://www.oakgrovesoftware.com/portfolio/marine-special-operations-command-marsoc-fairfield-utah Acesso em: 20 jul. 2016). 

Embora não assegure a consecução dos objetivos estabelecidos, um planejamento bem elaborado, desenvolvido e executado potencializará as chances da operação ter sucesso. A fase de planejamento antecede qualquer engajamento, mesmo àqueles que não se distinguem pelo alto grau de sensibilidade (pois ao se tornarem público podem comprometer o Estado que o patrocina), ou requerem preparações extremamente complexas. O planejamento, normalmente, exige um longo processo de estudo, que dependendo dos requisitos exigidos, pode se estender por vários dias. No decorrer desse processo, todos os pormenores relacionados à missão devem ser considerados e sua viabilidade analisada. Todavia, o resultado desse estudo deve ser traduzido, não em informações demasiadamente detalhadas que restringem possibilidades de mudança e limitam a capacidade de decisão in loco, mas em um conjunto relativamente simples de instruções, a serem transmitidas de forma clara e objetiva para todos os membros do destacamento que participará da operação. É imprescindível que todos os membros do destacamento compreendam exatamente como, quando e onde devem agir, estabelecendo, em caso de necessidade de confronto, sua superioridade em relação ao inimigo.
Devido à valorizada capacidade de avaliarem criticamente as situações que lhes são apresentadas, os quadros operacionais das FOpEsp, independente da patente que ostentam, são incitados a participar dos planejamentos com liberdade de julgamento (opinião), uma vez que a percepção individual dos ElmOpEsp (Elementos de Operações Especiais), devido à expertise, representa um ativo que pesa favoravelmente na definição do plano de ação a ser adotado. 

Referência:

BRASIL, Ministério da Defesa. Glossário das Forças Armadas. MD35-G-01, 5. ed. Brasília: Ministério da Defesa, 2015. 




Um comentário:

  1. Caro Rodney, sou leitor assíduo dos seus textos, principalmente os que falam sobre organização e emprego de equipes especiais.Atualmente faço parte de um grupo dentro da PF que faz uso dessas ferramentas de planejamento operacional.A cada dia vejo que nossas OEs, quer sejam militares ou policiais, necessitam de conhecimento teórico e prático de como se organiza e executa uma operação especial.Parabéns pelo alto nível das matérias nesse Blog, com certeza colabora e muito com o enriquecimento teórico de quem faz operações especiais em nosso País.

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