A palavra
“simbologia” é empregada em referência ao estudo ou interpretação dos símbolos,
que, como elemento essencial para a comunicação entre as pessoas, constitui
representação (tridimensional, gráfica, sonora ou gestual) de uma ideia
abstrata.
Nas relações pessoais
e/ou institucionais, habitualmente, os símbolos, como representação de temores
e aspirações, são utilizados de modo a promoverem a integração de diferentes
grupos sociais, contribuindo substancialmente para atribuir-lhes uma identidade
social que orienta os modos de pensar e agir de seus componentes.
Especificamente no
que se refere aos grupos profissionais, os símbolos constituem representações
peculiares à atividade por eles desempenhada. Por sua vez, as representações
simbólicas características da sociedade militar estão diretamente relacionadas
a um ethos institucional alicerçado
no binômio hierarquia e disciplina.
Para as OpEsp do EB (Exército Brasileiro), o simbolismo inerente ao “gorro preto” evoca o apego às
tradições, a reverência à camaradagem, o orgulho de pertencer ao seleto grupo
de indivíduos, que após serem testados e aprovados nos limites da obstinação e resistência,
passaram a integrar as unidades de elite da Força Terrestre (1º
BAC [1º Batalhão de Ação de Comandos] e o 1º BFEsp [1ºBatalhão de Forças Especiais]). Para efeito de esclarecimento, é pertinente salientar que o gorro preto traz em suas laterais direita e esquerda os distintivos das Forças Especiais e da Ação de Comandos, respectivamente.
A deferência para com
o gorro preto teve origem no final da década de 1950 (período que baliza o
início das OpEsp no EB), quando o Núcleo da Divisão
Aeroterrestre (atual Brigada de Infantaria Paraquedista), organização responsável
por conduzir o Curso de Operações Especiais, buscava criar referências cuja
caracterização promovesse vínculos de pertencimento que arraigasse um vigoroso
espírito de corpo em seus integrantes. A adoção do gorro bico de pato, assim
como outros itens do fardamento (padrão de camuflagem; botas de combate; camisa
branca com o nome do usuário no peito), representou uma mudança de hábitos e comportamentos
em favor do comprometimento para com a tropa. Nesse contexto, foi atribuída uma
cor específica para cada uma das especialidades aeroterrestres (amarelo para os
dobradores de paraquedas e vermelho para os precursores paraquedistas). Após se depararem com uma breve resistência em
relação a cor sugerida para o contingente das Operações Especiais, os quadros
operacionais dessa atividade passaram a ostentar a cor preta em sua cobertura,
referência às ações noturnas que a caracterizam.
Foto 3: Tradicional foto de conclusão de Curso de Forças Especiais reunindo instrutores (fardamento camuflado) e alunos (fardamento verde oliva). (Fonte: Acervo do COpEsp). |
Para ilustrar a relação
de profundo respeito que os ElmOpEsp do EB nutrem para com o gorro preto, torno
público o testemunho que me foi dado por um amigo FE, a quem atribuirei o
codinome Queiróz. No período em que servia junto à Força 3 (3ª Companhia de Forças Especiais [subordinada ao Comando Militar da Amazônia]) cumprindo missão de repressão a crime ambiental na
fronteira do Brasil com o Peru, Queiróz sofreu um acidente por ocasião da queda
de uma árvore arrancada devido ao empuxo do rotor de um helicóptero Blackhawk, pairado no ar enquanto os
operadores executavam a técnica de rapel conhecida por Desembarque Aerotático (Fast Rope). A queda da árvore provocou
um grave ferimento na cabeça, chegando a lesionar uma vértebra. Trasladado para
o hospital, enquanto se recuperava das severas lesões sofridas, por exigência
sua, o gorro preto permaneceu sempre ao seu lado. Queiróz também me
confidenciou que ao servirem no Haiti sob a égide da ONU (Organização das
Nações Unidas), assim como ocorre com contingentes militares de outras
nacionalidades que operam respondendo à autoridade desse órgão intergovernamental,
os militares brasileiros tiveram que trajar a cobertura azul característica da
entidade. Contudo, mesmo tendo que usar cobertura de outra cor por dever de
ofício, o gorro preto sempre o acompanhava, mantido guardado em um dos bolsos
de seu fardamento. Segundo ele revelou, o conceito por trás das atitudes manifestadas
tanto na selva fronteiriça quanto no país caribenho remete a honra e orgulho de
ser um FE. Nesse sentido, na eventualidade de encontrar a morte, seja em que
circunstância for, o operador, em atitude altiva e comprometida com os ideais
de sua unidade, optará por perecer ostentando o gorro preto, símbolo indelével das
Forças Especiais do EB.
Conforme é possível
notar no relato apresentado anteriormente, a simbologia do gorro preto vai
muito além do conceito da caracterização/identidade militar. Para os ElmOpEsp
do EB, trajar o gorro preto serve para distinguir uma classe de combatentes que
valem-se da singularidade e excelência de suas habilidades, eventualmente colocando-se
em situação de risco, não medindo esforços para alcançar os objetivos que lhes
são atribuídos.
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