O
artigo intitulado “O que Significa Matar Alguém em Combate”, elaborado por Phil
Zabriskie, diretor editorial do escritório norte-americano da organização
humanitária Médicos Sem Fronteiras (ex-articulista da National Geographic,
Fortune e Washington Post) trata de um tema controverso, o ato de matar, questionado
por diferentes sistemas éticos, filosóficos e religiosos. Uma das consequências
inevitáveis dos engajamentos em períodos de guerra ou crise, implicação que precisa
ser definitivamente assimilada pelas sociedades que se envolvem em campanhas militares,
é a morte ocorrida por ocasião do combate.
Quando
lidam com questões atinentes ao ato de matar, as FFAA (Forças Armadas), preocupam-se, sobretudo, em condicionar tecnicamente seus soldados a
disparar o armamento mediante estímulos (visuais e auditivos), de modo a capacitá-los a tirar a vida do inimigo com eficiência. Cabe destacar, que no decorrer desse processo, em geral, as instituições militares negligenciam os efeitos psicológicos resultantes dessa ação. Sobre esse aspecto, Zabriskie apresenta os dados de um estudo desenvolvido pela Drª Shira
Maguen, Psicóloga do Serviço de Saúde Mental do San Francisco Veterans Affairs Medical Center, o qual revela que
combatentes que se envolveram em situações nas quais provocaram a morte do
inimigo têm maior predisposição a manifestar TEPT (Transtorno de Estresse
Pós-Traumático), condição de saúde mental (distúrbio de ansiedade)
caracterizada pela exposição a eventos traumáticos que, ao serem relembrados,
promovem sensações de dor e sofrimento semelhantes àquelas vivenciadas no exato
momento em que ocorreu o evento, desencadeando uma séria de alterações fisiológicas,
neurológicas e mentais.
Ponderando
sobre o conflito interno enfrentado pelos soldados em combate, Zabriskie salienta
o testemunho do Tenente-Coronel Peter Kilner, oficial do Exército dos EUA e docente
da Academia Militar de West Point, o qual destaca que matar o inimigo
representa a maior decisão moral a ser tomada pelo combatente no campo de
batalha. Dave Grossman, autor do livro “Matar: Um Estudo Sobre o Ato de Matar”,
esclarece que existem casos em que a resistência gerada por ocasião desse
dilema faz com que o soldado morra alvejado pelo inimigo por não conseguir
tirar-lhe a vida.
Embora
possam ocorrer em membros das FOpEsp, tanto o TEPT quanto a relutância em matar
tendem a se manifestar principalmente nos contingentes regulares. Em virtude da
natureza das operações em que se envolvem, as unidades militares de elite
buscam, desde os exames de seleção de seus quadros operacionais, um perfil de
indivíduo dotado de estabilidade emocional para suportar as implicações inerentes
à sua profissão. Ponderando sobre os efeitos do ato de matar sobre a psiquê humana,
Eric L. Haney, ex-operador do 1st SFOD-D (1º Destacamento de
Forças Operacionais - Delta [Força Delta]), esclarece que os rigorosos processos
seletivos, acrescidos de testes psicológicos intensos, a que são submetidos os
candidatos, tem por objetivo identificar traços de empatia e/ou compulsão, características
que poderiam comprometer o desempenho individual levando ao colapso
operacional.
Quando
considera os afazeres dos ElmOpEsp no campo de batalha, Mark Owen, ex-operador
do DEVGRU (Grupo de Desenvolvimento de Guerra Especial Naval), salienta, que estando
o operador submetido à condição de pressão e estresse característicos do
combate, cabe a ele a responsabilidade de avaliar rapidamente a situação,
priorizar as ameaças, decidir o que fazer de modo apropriado e no momento
oportuno. Nesse contexto, os quadros operacionais das tropas especiais devem
estar aptos a tomar a decisão de matar sem serem emocionalmente afetados por
seu ato (por ocasião da empatia com o inimigo), mas também devem se mostrar
imunes ao impulso de continuar matando (em virtude da compulsão causada pela
sensação de poder momentâneo). O equilíbrio emocional que afasta os efeitos desses
dois extremos (empatia e compulsão) figura como fator decisivo para que a
decisão de matar, assumida por ocasião de uma OpEsp, seja encarada, sem grandes
perturbações, como resultado inerente ao confronto.
Referências:
GROSSMAN,
Dave. Matar: Um Estudo Sobre o Ato
de Matar. Rio de Janeiro: Bibliex, 2007.
HANEY,
Eric. L. Força Delta: Por Dentro da Tropa Antiterrorista Americana. São Paulo: Landscape, 2003.
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