terça-feira, 28 de junho de 2016

Sem Remorso: Efeitos do Ato de Matar Sobre os Elementos de Operações Especiais

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.


Fotografia 1: Cena do filme Sniper Americano (2015), que retrata a vida de Christopher Scott Kyle, operador SEAL considerado como o atirador de precisão mais letal da história militar norte-americana. O enredo do filme explora, entre outros aspectos, os efeitos cumulativos da pressão e do estresse de combate. (Fonte: Disponível em: http://www.joblo.com/videos/movie-clips/american-sniper-trailer Acesso em: 27 jun. 2016).

O artigo intitulado “O que Significa Matar Alguém em Combate”, elaborado por Phil Zabriskie, diretor editorial do escritório norte-americano da organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (ex-articulista da National Geographic, Fortune e Washington Post) trata de um tema controverso, o ato de matar, questionado por diferentes sistemas éticos, filosóficos e religiosos. Uma das consequências inevitáveis dos engajamentos em períodos de guerra ou crise, implicação que precisa ser definitivamente assimilada pelas sociedades que se envolvem em campanhas militares, é a morte ocorrida por ocasião do combate.
Quando lidam com questões atinentes ao ato de matar, as FFAA (Forças Armadas), preocupam-se, sobretudo, em condicionar tecnicamente seus soldados a disparar o armamento mediante estímulos (visuais e auditivos), de modo a capacitá-los a tirar a vida do inimigo com eficiência. Cabe destacar, que no decorrer desse processo, em geral, as instituições militares negligenciam os efeitos psicológicos resultantes dessa ação. Sobre esse aspecto, Zabriskie apresenta os dados de um estudo desenvolvido pela Drª Shira Maguen, Psicóloga do Serviço de Saúde Mental do San Francisco Veterans Affairs Medical Center, o qual revela que combatentes que se envolveram em situações nas quais provocaram a morte do inimigo têm maior predisposição a manifestar TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático), condição de saúde mental (distúrbio de ansiedade) caracterizada pela exposição a eventos traumáticos que, ao serem relembrados, promovem sensações de dor e sofrimento semelhantes àquelas vivenciadas no exato momento em que ocorreu o evento, desencadeando uma séria de alterações fisiológicas, neurológicas e mentais.
Ponderando sobre o conflito interno enfrentado pelos soldados em combate, Zabriskie salienta o testemunho do Tenente-Coronel Peter Kilner, oficial do Exército dos EUA e docente da Academia Militar de West Point, o qual destaca que matar o inimigo representa a maior decisão moral a ser tomada pelo combatente no campo de batalha. Dave Grossman, autor do livro “Matar: Um Estudo Sobre o Ato de Matar”, esclarece que existem casos em que a resistência gerada por ocasião desse dilema faz com que o soldado morra alvejado pelo inimigo por não conseguir tirar-lhe a vida.


Fotografia 2: Cena do filme O Grande Herói (2013), que aborda a "Operação Red Wing" conduzida por uma equipe do SEAL TEAM 10  para neutralizar o líder talebã Ahmad Shah, nas montanhas próximas ao distrito de Pech na província de Kunar, Afeganistão. O dilema moral sobre o ato de matar no qual os operadores se envolveram no início da ação acabou por comprometer a missão, condenando à morte três dos quatro militares estadunidenses. (Fonte: Disponível em: https://trailers.apple.com/trailers/universal/lonesurvivor/ Acesso em: 27 jun. 2016).
Embora possam ocorrer em membros das FOpEsp, tanto o TEPT quanto a relutância em matar tendem a se manifestar principalmente nos contingentes regulares. Em virtude da natureza das operações em que se envolvem, as unidades militares de elite buscam, desde os exames de seleção de seus quadros operacionais, um perfil de indivíduo dotado de estabilidade emocional para suportar as implicações inerentes à sua profissão. Ponderando sobre os efeitos do ato de matar sobre a psiquê humana, Eric L. Haney, ex-operador do 1st SFOD-D (1º Destacamento de Forças Operacionais - Delta [Força Delta]), esclarece que os rigorosos processos seletivos, acrescidos de testes psicológicos intensos, a que são submetidos os candidatos, tem por objetivo identificar traços de empatia e/ou compulsão, características que poderiam comprometer o desempenho individual levando ao colapso operacional.
Quando considera os afazeres dos ElmOpEsp no campo de batalha, Mark Owen, ex-operador do DEVGRU (Grupo de Desenvolvimento de Guerra Especial Naval), salienta, que estando o operador submetido à condição de pressão e estresse característicos do combate, cabe a ele a responsabilidade de avaliar rapidamente a situação, priorizar as ameaças, decidir o que fazer de modo apropriado e no momento oportuno. Nesse contexto, os quadros operacionais das tropas especiais devem estar aptos a tomar a decisão de matar sem serem emocionalmente afetados por seu ato (por ocasião da empatia com o inimigo), mas também devem se mostrar imunes ao impulso de continuar matando (em virtude da compulsão causada pela sensação de poder momentâneo). O equilíbrio emocional que afasta os efeitos desses dois extremos (empatia e compulsão) figura como fator decisivo para que a decisão de matar, assumida por ocasião de uma OpEsp, seja encarada, sem grandes perturbações, como resultado inerente ao confronto.

Referências:

GROSSMAN, Dave. Matar: Um Estudo Sobre o Ato de Matar. Rio de Janeiro: Bibliex, 2007.
HANEY, Eric. L. Força Delta: Por Dentro da Tropa Antiterrorista Americana. São Paulo: Landscape, 2003.
OWEN, Mark. Não Há Heróis: Lições de Vida de Um Atirador da Tropa de Elite Americana. São Paulo: Paralela, 2015.





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