Texto
elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa com base no artigo escrito
originalmente por Bernd Horn, Coronel (Ref°) das
Forças Armadas Canadenses e professor
adjunto de História no Centro de Estudos Militares e Estratégicos da
Universidade de Calgary e no Real Colégio Militar do Canadá. (Disponível em:
http://www.journal.forces.gc.ca/vo8/no4/doc/horn-eng.pdf Aceso em: 18 jun.
2016).
O
termo ethos tem origem grega, e é
utilizado em referência ao caráter moral que distingue o conjunto de hábitos
(comportamentais) adotados por uma determinada comunidade. Analisado de forma
isolada, essa expressão evoca um conceito de sociedade igualitária, na qual
todos os seus membros, objetivando estabelecer um convívio coletivo
harmônico, abraçam costumes comuns ao grupo que integram. No âmbito militar, as FOpEsp nutrem profundo
respeito para com seu ethos.
Submetidos à condições idênticas de seleção e treinamento que não diferenciam
os candidatos por sua posição na hierarquia militar, cada ElmOpEsp, sem
qualquer exceção, é submetido a testes com rigorosos padrões de exigência que
avaliam os limites de suas capacidades física, mental e intelectual, no intuito
de identificar qualquer inaptidão que desqualifique seu ingresso na seleta
comunidade OpEsp.
Forjados
desde sua formação em um processo contínuo que transcorre todo o período de
atividades operativas, e se prolonga para além dele, os quadros operacionais
das FOpEsp, por ocasião das dificuldades compartilhadas e dos riscos aos quais
se submetem, criam uma intensa relação de identidade, camaradagem,
solidariedade, coesão e confiança mútua. Comumente materializada em diferentes
elementos simbólicos (rituais; lemas; canções; orações; brasões; brevês; peças
de vestuário; entre outros), a soma desses sentimentos desperta uma vigorosa
sensação de “pertencimento” que incrementa o espírito de corpo (lealdade para
com os companheiros) e induz ao comprometimento para com as tarefas as quais a
unidade em questão se propõe executar.
Por
adaptarem-se rapidamente às situações de risco elevado com um nível de
aprestamento e prontidão superior (devido às habilidades sui generis), que as capacita a responder às solicitações de forma
menos perturbadora (minimizando os danos colaterais) que as tropas
convencionais, as FOpEsp contemporâneas, necessariamente, devem ser percebidas
pelos governos que as patrocinam como uma importante opção estratégica,
considerada imprescindível por não ter alternativas que as supram no desempenho
de missões altamente sensíveis. É justamente o caráter sensível das OpEsp que
demandam grande cautela ao tornar pública as informações a elas relacionadas.
Manter as operações em sigilo resguarda a segurança das ações a ela vinculadas
e protege o pessoal nelas engajado. Nesse sentido, como parte de seu ethos, os ElmOpEsp se esforçam para
manter a confidencialidade de suas identidades e os dados das operações nas
quais participaram, e qualquer operador que revele informações críticas que
possam comprometer a segurança é alçado à condição de pária. Para os ElmOpEsp, o sentimento de pertencer à
“sua unidade” é motivo de orgulho e honra, e a possibilidade de cometer
qualquer ato que o desabone perante seus pares representa uma grave forma de
punição.
O
elitismo que evidencia as capacidades singulares dos quadros operacionais das tropas
especiais tem antecedentes históricos, que por ocasião do sentimento de
arrogância e desprezo dos operadores pelas tropas regulares, por décadas promoveram o
estremecimento nas relação das unidades convencionais e não convencionais. Em
virtude da atitude presunçosa demonstrada por alguns ElmOpEsp, uma considerável
parcela dos comandantes militares passaram a percebê-los como aventureiros
irresponsáveis e descomprometidos. Entretanto, o orgulho exacerbado, o desdém
pelas unidades formais, bem como a sensação de independência em relação às FFAA
(Forças Armadas) tradicionais, recorrentes em períodos passados, foram
gradativamente cedendo espaço para sentimentos que favorecem uma relação
amistosa e interdependente. Essa transformação ocorreu, sobretudo, como consequência da
inversão de papeis decorrente dos efeitos da Special Forces Centric Warfare (Guerra Centrada em Forças
Especiais), na qual as unidades de elite passaram a operar como comando apoiado
por tropas convencionais (e, portanto, dependentes delas), enquanto no passado as funções eram invertidas.
Na
comunidade OpEsp, o cumprimento do dever para com a nação e a lealdade para com
os companheiros sobrepõe-se a tudo, levando o operador a desenvolver, por ocasião
dos fortes vínculos constituídos, um sentimento altruísta para com as questões
da unidade que o leva ao sacrifício pessoal. Para o ElmOpEsp, experimentar o
dia a dia da unidade, ostentando os paramentos que o identificam como membro daquela
tropa específica, valendo-se de suas capacidades ímpares para vivenciar o
ambiente de expectativa/realidade do combate em favor de seu país, ladeado por
companheiros, que assim como ele, têm os mesmos anseios e ideais, representa um
privilégio a ser coroado, não com reconhecimento público, mas com sentimento de
satisfação, honra e glória silenciosos, como convém aos militares dessa estirpe.
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