terça-feira, 14 de junho de 2016

Princípios das Operações Especiais: Considerações sobre a Perspectiva de McRaven (Parte Final)

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.

Fotografia 6: Embarcados em uma aeronave Hércules C-130, Grupo de Assalto (componente da Força-Tarefa Ivory Coast) que participou do ataque ao campo de prisioneiros de Son Tay (Vietnã do Norte) em 21 de novembro de 1970. (Fonte: Disponível em: http://peteralanlloyd.com/the-vietnam-war/son-tay-a-dramatic-raid-on-a-pow-prison-near-hanoi-during-the-vietnam-war/ Acesso em: 13 jun. 2016). 

Rapidez – Para McRaven, as OpEsp encaram o princípio da rapidez na acepção do termo, ou seja, atingir o(s) objetivo(s) estabelecido(s) o mais breve (rápido) possível, uma vez que eventuais prolongamentos aumentará as vulnerabilidades da força atacante reduzindo, gradativamente, as possibilidades do incursores conquistarem a Superioridade Relativa.
O autor destaca que na guerra convencional, tradicionalmente travada por forças antagonistas de grande efetivo que necessitam manobrar taticamente pelo campo de batalha, o conceito de rapidez torna-se relativo. Contudo, nas missões levadas a efeito como uma OpEsp, por estar o oponente disposto em posições fortificadas (defensivas) cabe a ele a tarefa de resguardar-se da melhor forma possível, neutralizando um eventual ataque ou defendendo-se da melhor forma e com todo o empenho possível.  Nesse contexto, à medida que o tempo avança, as fricções de guerra propostas por Clausewitz agem contra os atacantes. Para reduzir as possibilidades das fricções incidirem sobre eles, cabe aos incursores moverem-se de forma rápida e resoluta, mesmo considerando as capacidades e o ímpeto defensivo do adversário, bem como adversidades fortuitas que surgirem no decorrer do engajamento.
Para ilustrar a relevância atribuída a rapidez no que concerna à conquista da Superioridade Relativa, McRaven salienta que apenas uma (o ataque ao dique seco de Saint Nazaire) das oito OpEsp analisadas por ele demorou mais de trinta minutos para alcançar a Superioridade Relativa a partir do ponto de vulnerabilidade. O autor esclarece que em todos os outros sete casos analisados as operações foram concluídas em 30 minutos, sendo a Superioridade Relativa obtida em uma janela de tempo que não extrapolou os quinto minuto após o ponto de vulnerabilidade. McRaven pondera que na maioria das Ações Diretas conduzidas por FOpEsp, o contato com o inimigo representa um fator decisivo que pode retardar a operação, comprometendo, por consequência, a aquisição da Superioridade Relativa. 
Segundo o autor, o efetivo reduzido e o emprego de armamento leve, são características que capacitam as unidades militares de elite a agirem com a surpresa e a rapidez necessária para obter a Superioridade Relativa em um curto espaço de tempo. Ambas características, significativamente valiosas quando empregados em engajamentos breves contra tropas regulares, perdem eficiência à medida que a ação se estende. Assim sendo, qualquer vantagem conquistada em virtude de uma ação que explora o princípio da surpresa, tende a ser inutilizada em decorrência do prolongamento das demais fases da operação. Portanto, quanto mais reduzido for o efetivo da FOpEsp engajada, igualmente restritos devem ser os objetivos a serem alcançados, bem como o tempo de duração da operação.
McRaven faz questão de explicar que, em se tratando de OpEsp, a rapidez é uma variável diretamente relacionada ao tempo, e não uma variável sujeita ao ímpeto de defender-se demonstrado pelo inimigo.  Desse modo, independentemente da vontade e dos recursos defensivos do adversário, os incursores têm totais condições de obter a Superioridade Relativa quando a velocidade de suas ações tornam a capacidade de reação do oponente um fator secundário.


Figura 1: Concepção artística reproduzindo o assalto ao Aeroporto Internacional de Entebbe (Uganda) realizado pelos quadros operacionais do Sayeret Matkal visando o resgate de reféns realizado em 4 de julho de 1976 por ocasião da "Operação Thunderbolt". (Fonte: Disponível em: https://i.ytimg.com/vi/h4Tuakl9MPM/hqdefault.jpg Acesso em: 13 jun. 2016).

Propósito – Conforme parecer de McRaven, este princípio se refere à faculdade de compreender qual(is) o(s) principal(is) objetivo(s) da missão, mobilizando esforços para alcança-lo(s) independentemente dos entraves e/ou oportunidades que, eventualmente, venham surgir no decorrer da operação. Para o autor, o propósito tem dois aspectos distintos:
O primeiro aspecto refere-se ao enunciado da missão. Para McRaven a missão em questão deve ser apresentada aos ElmOpEsp (incursores) de modo a expor claramente qual o propósito a ser alcançado. É imperioso que a apresentação contenha elementos que permitam que os ElmOpEsp, individual e coletivamente (independentemente das circunstâncias), compreendam de forma inequívoca qual(is) o(s) objetivo(s) a serem alcançados(s). Sobre esse aspecto, o autor comenta que ordens claramente definidas orientam as ações dos operadores no campo de batalha, direcionando seus esforços para o(s) objetivo(s) essencial(is) da missão.
O segundo aspecto tem um forte viés psicológico (emocional), refletido na capacidade motivacional que conduz ao comprometimento individual dos ElmOpEsp. Nesse sentido, é fundamentalmente importante inspirar os operadores (cientes do propósito da missão) de modo com que sejam tomados por um sentimento de dedicação pessoal que os incita (motiva) a se comprometer de forma determinada com a(s) causa(s) que precipitou(aram) a operação.    

Superioridade Relativa

Gráfico 1: Gráfico representativo referente à Superioridade Relativa. (Fonte: Adaptado de McRaven, 1996, p. 7). 

O eixo X (horizontal) expressa o tempo (apresentado em horas), enquanto o eixo Y (vertical) demonstra a Probabilidade para a Conclusão da Missão. A intersecção dos eixos X e Y representa o Ponto de Vulnerabilidade, que é definido como o ponto no qual a força atacante se depara com a primeira linha defensiva do inimigo. É exatamente nesse ponto que as fricções irão influenciar no resultado do engajamento. O Ponto de Vulnerabilidade é um tanto quanto incerto, e o momento exato de sua manifestação torna-se variável.  McRavem esclarece que apesar das fricções poderem afetar a missão ainda na fase de planejamento, sua definição acerca do Ponto de Vulnerabilidade considera as ações executadas na fase de engajamento.
A Área de Vulnerabilidade, por sua vez, está sujeita à conclusão da missão. Quanto maior for o tempo gasto para obter a Superioridade Relativa, maior será a Área de Vulnerabilidade, e, consequentemente, maior será o impacto causado pelas fricções.
Sobre sua teoria, McRaven enfatiza que embora a guerra apresente fatores sobre os quais se tem pouco controle, os seis princípios por ele evidenciados podem ser controlados e têm efeito direto sobre a conquista da superioridade relativa. 

Referência:

McRaven, William Harry. SPEC OPS: Case studies in Special Operations Warfare: Theory and Practice. New York: Presidio Press, 1996.





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