sexta-feira, 10 de junho de 2016

Princípios das Operações Especiais: Considerações sobre a Perspectiva de McRaven (Parte 2)

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.

Segurança – Quando refere-se à segurança, McRaven reporta-se, sobretudo, à capacidade de mobilizar esforços de modo a evitar que as forças inimigas tenham acesso a informações privilegiadas em relação à ofensiva que se pretende executar. Nesse sentido, considerando que o adversário encontra-se em uma posição fortificada que favorece sua ação defensiva (como é o caso de todos os oito casos analisados pelo autor), conhece as possíveis alternativas de resposta da FOpEsp atacante, e busca preparar-se convenientemente para elas, é de fundamental importância que os pormenores do ataque (métodos de ação e vetores de infiltração) sejam mantidos em total e absoluto sigilo, para não comprometer a conquista da Superioridade Relativa oferecendo uma vantagem (acesso à informações sensíveis) ao inimigo. 
Conforme apresentado, ao assegurar a segurança das informações relacionadas à incursão resguarda-se, por consequência, a segurança dos incursores evitando que a força oponente antecipe-se à ofensiva reduzindo substancialmente as possibilidades dos atacantes obterem a Superioridade Relativa.

Fotografia 3: Integrantes do Kommando Friedenthal alemão, liderados pelo Tenente-Coronel Otto Skorzeny (portando binóculos), após resgatarem o ditador italiano Benito Mussolini (trajando sobretudo e chapéu pretos) em decorrência da denominada "Operação Carvalho" realizada em 12 de setembro de 1943. (Fonte: Disponível em: http://www.3squadron.org.au/subpages/sasso.htm Acesso em: 8 jun. 2016). 


Repetição – Para que as OpEsp tenham maior probabilidade de alcançar êxito na consecução de seus intentos, a repetição sistemática dos procedimentos operacionais durante a fase de preparação constitui um fator indispensável. Para justificar essa afirmativa, Mc Ravem explica que a rotina dos adestramentos promove um aperfeiçoamento das habilidades táticas por estimularem a assimilação (memória motora) das técnicas empregadas, fato que favorece no tempo de reação frente à ameaça, conforme cenário padronizado para o qual a unidade encontra-se familiarizada devido ao treinamento (cenários distintos requerem TTP [Táticas, Técnicas e Procedimentos], além de armas e equipamentos, igualmente distintas).
Planejamentos que se mostram adequados na teoria, muitas vezes expõem suas vulnerabilidades quando realizados na prática, fato que potencializa a importância dos treinamentos. metódicos e sistemáticos para uma missão. Conduzir repetitivos ensaios de preparação também reduzem as possibilidades de ocorrer um eventual fracasso em virtude do despreparo individual e/ou coletivo. Historicamente, agentes causadores de falha operacional ocorreram em decorrência de aspectos que não foram ensaiados ou foram pouco explorados nos ensaios de preparação.

Fotografia 4: Dupla de mergulhadores de combate da Xª Flottiglia MAS da Regia Marina italiana montados em um torpedo adaptado (apelidado Maiale "Porco") que lhes servia de transporte. Em 19 de dezembro de 1941, os MECs italianos foram responsáveis pelo ataque a dois navios couraçados britânicos atracados no porto de Alexandria, Egito. (Fonte: Disponível em: http://www.thefewgoodmen.com/thefgmforum/threads/the-maiale-human-torpedoes.12439/ Acesso em: 8 de jun. 2016).

Surpresa – Quando refere-se ao elemento surpresa, McRaven não atribui à esse elemento a definição militar convencional, segundo a qual, ao valerem-se da surpresa, os incursores (intencionalmente) deparam-se com a força inimiga despreparada para se defender do ataque. Em todos os oito casos analisados pelo autor, as forças opositoras encontravam-se em plenas condições de se defenderem convenientemente. McRaven pondera que na maioria dos casos em que as operações são conduzidas valendo-se de métodos de Ação Direta, a incursão da FOpEsp engajada deve ocorrer independentemente das condições defensivas do adversário, esteja ele bem preparado ou não. A surpresa sugerida pelo autor refere-se mais à encontrar o oponente desprevenido que despreparado. Nesse contexto, a surpresa é obtida por artifícios obtidos por ocasião da dissimulação, sincronização e aproveitamento das vulnerabilidades demonstradas pela força inimiga.
A dissimulação, normalmente obtida mediante ação(ões) diversionária(s), desvia a atenção do adversário e/ou retarda sua capacidade de resposta tempo suficiente para que os incursores se aproveitem do elemento surpresa no momento que lhes for oportuno. Entretanto, McRaven alerta para o fato de que a dissimulação constitui um recurso fundamental para que a força atacante conquiste o elemento surpresa, mas as FOpEsp não podem confiar excessivamente nesse artifício. Para o autor, uma OpEsp executada valendo-se da dissimulação para conquistar a surpresa, preferencialmente buscará retardar a atenção do adversário que desviar sua atenção. Assim sendo, definir qual o melhor momento para desencadear a ofensiva é um aspecto crucial que ampliam as probabilidades dos atacantes obterem a surpresa. Embora a escuridão da noite seja a opção óbvia (por oferecer maior cobertura devido às condições de visibilidade, e por pressupor que o adversário esteja menos alerta, mais cansado, e. portanto, em condições mais favoráveis de ser surpreendido), o ataque noturno, devido à previsibilidade, desperta o estado de atenção do inimigo. Assim sendo, várias OpEsp tiveram resultados positivos valendo-se do efeito surpresa em ações efetuadas à luz do dia.
O autor alerta para o fato de que toda defesa, por mais eficiente que seja, apresenta pontos de vulnerabilidade, e cabe aos atacantes identificar e explorar tais vulnerabilidades para obter surpreender o oponente. Por proporcionar uma vantagem decisiva para a força atacante em relação aos defensores, a surpresa é considerada por muitos estudiosos, equivocadamente, como sendo o elemento mais importante de uma OpEsp bem sucedida. Todavia, McRaven pondera que a surpresa mostra-se dependente dos outros cinco princípios, sem os quais torna-se impossível de ser alcançada. O autor questiona: “De que adianta surpreender o inimigo, se não possuímos o equipamento adequado para enfrentá-lo?” A conquista da Superioridade Relativa, crucial para o sucesso de qualquer operação de natureza especial, está sujeita à correta aplicação de todos os seis princípios das OpEsp. Apesar de ser um componente essencial, a surpresa tem relevância apenas quando considerada como parte integrante de um conjunto de princípios interdependentes. 


Fotografia 5: Quadros operacionais dos Commandos britânicos (Commando n° 4). Em 28 de março de 1942, em consequência da "Operação Chariot", membros dos Commandos  atacaram o dique seco de Saint  Nazaire, região da Normandia (França), com o objetivo de destruir diferentes estruturas e maquinário da construção, então ocupada pelos alemães. (Fonte: Disponível em:https://en.wikipedia.org/wiki/St_Nazaire_Raid Acesso em: 8 jun. 2016).

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