No
imaginário popular, em grande parte construído por influência da literatura e
do cinema, as OpEsp são tratadas, equivocadamente, como sendo um sinônimo da
denominada “Ação de Comandos”, internacionalmente conhecida pelo termo “Direct Action” (Ação Direta). Embora
seja um componente importante das OpEsp, a Ação de Comandos representa um de
vários elementos constituintes das operações de natureza não convencional
conduzidas valendo-se de métodos e recursos que fogem aos padrões ortodoxos da
guerra. Nesse sentido, conforme estabelecido por Pinheiro (2012), são elementos
constituintes das OpEsp: Ação de Comandos; Guerra Irregular; Operações contra
Forças Irregulares; Reconhecimento Estratégico/Especial; Operações
Psicológicas.
Especificamente
em relação à Ação de Comandos, que é o tema central deste texto, podemos
definir esse elemento como sendo:
Operações destinadas a conduzir: interdição/destruição de alvos críticos; captura, resgate, evacuação ou neutralização de pessoal/material localizado em território hostil (todos avaliados como objetivo de valor estratégico); Planejadas para serem executadas como uma ação de choque, conduzida de surpresa, com alta intensidade e curta duração [...] (PINHEIRO, 2012, p. 35).
Fotografia 1: Quadros operacionais do 1º BAC dispostos durante cerimônia de formatura. (Fonte: Disponível em: http://www.1bac.eb.mil.br/index.php/2013-10-27-00-11-04 Acesso em: 28 mai. 2016). |
No Brasil, particularmente
no âmbito da Força Terrestre, a Ação de Comandos remete ao lema que sempre norteou as
FOpEsp do Exército Brasileiro, a saber: "O máximo de confusão, morte e destruição na retaguarda profunda do inimigo."
Historicamente, desde os
primeiros cursos de Ação de Comandos ministrados na antiga sede do 1º BFEsp (1º Batalhão
de Forças Especiais), localizada na Estrada do Camboatá no Rio de Janeiro-RJ, os
alunos liam o referido lema nas paredes do prédio que abrigava a CAC (Companhia
de Ação de Comandos). Para efeito de esclarecimento, destacamos que na data de
sua criação (1983), o 1º BFEsp dispunha de uma CAC em sua
estrutura organizacional. Atualmente, tanto o 1º BFEsp quanto o 1º BAC (1º Batalhão de Ação de Comandos [elevado da
categoria de subunidade à nível de unidade em 2003]) encontram-se subordinados
ao COpEsp (Comando de Operações Especiais) situado na cidade de Goiânia-GO.
Com o
advento da “guerra no meio do povo” (Guerra Urbana), as batalhas travadas no
ambiente informacional e alguns conceitos como o do “Uso Diferenciado da Força”
(conforme estabelecido pela portaria 4226 emitida pelo Ministério da Justiça [define diretrizes sobre o uso de força pelos agentes de segurança pública]),
tornam temerário o emprego da força desproporcional, cujo contexto encontra-se implícito
no tradicional lema da Ação de Comandos.
A
eliminação indiscriminada de oponentes passou a representar um sério risco de ocorrerem
efeitos colaterais indesejáveis, que embora possam proporcionar vitórias
táticas significativas, em questão de minutos podem ganhar vulto internacional,
ocasionando turbulências jurídicas e informacionais que fatalmente levarão à
derrota no mais alto nível da conduta do enfrentamento.
A
determinação diferenciada inerente aos ElmOpEsp é inegável, assim como é
inquestionável sua capacidade de sobrepujar adversários de maior efetivo.
Devido ao treinamento sistemático, as tropas especiais se tornaram a
alternativa mais confiável quando da eventualidade de haver riscos políticos.
Quando os decisores (civis e/ou militares) optam por empregar FOpEsp valendo-se
de métodos de Ação Direta (quando as tropas travam contato direto com a força
inimiga), eles não só têm a certeza da missão cumprida como esperam que o
ambiente operacional seja minimamente afetado. Nesse contexto, a precisão operacional
representa um dos maiores desafios na condução de uma OpEsp.
No
cenário internacional contemporâneo, os Estados buscam formar um perfil de
operador que seja disciplinado e juridicamente instruído, qualidades fundamentais
que proporcionam maior segurança, confiança e liberdade de ação para os
decisores. A missão não é mais “cumprida a qualquer custo” e sim cumprida da
melhor forma possível. Assim sendo, por considerarmos que o tradicional lema da
Ação de Comandos, tão adequado para épocas passadas (quando a confronto ocorria
em áreas distantes das concentrações populacionais), mostra-se defasado em
relação ao ambiente operacional urbano, acreditamos ser necessário promover uma
adaptação que seja compatível com a categoria de combate levada a efeito no
espaço tridimensional das cidades. Respeitando o peso (relevância) simbólico do
lema tradicional, e cientes de que a natureza da guerra encontra-se em um
processo de evolução constante, propomos o seguinte ajuste: "O máximo de precisão, letalidade seletiva e discrição contra alvos de valor significativo."
REFERÊNCIA:
Excelente artigo!
ResponderExcluirObrigado Bernardo!!!
ExcluirHá razão no texto. Entretanto, afirmo que a substituição de um lema por outro similar, em extensão e estrutura, seria muito mais traumático do que simplesmente colocá-lo em desuso (isso já se percebe). Tente sugerir o novo texto a um Comandos sem criar resistência ou até mesmo antipatia. Um lema tem tudo a ver com emoção sentimento - coisa de ser humano. E isso se agrava por nossa sangre latina. São mensagens curtas e fortes, cunhadas em baixo relevo na mente do elemento, em momentos emocionalmente muito marcantes para que uma substituição como essa seja aceita. Acredito que não cola, da mesma forma que não colou a tentativa de substituição do lema "um ideal como motivação, a abnegação como rotina, o perigo como irmão e a morte como companheira". Essa mensagem é parte ďas Forças Especiais do Brasil e, mesmo com o desuso, vai ocasionalmente voltar a aparecer. A substituição por uma outra versão vai soar como tentativa de implantar o politicamente correto. Se estivéssemos trabalhando com máquinas e não com pessoas, seria muito mais fácil. Não acha? Sorte a todos!
ResponderExcluir