Texto elaborado por
Rodney Alfredo Pinto Lisboa com colaboração do Capitão FE Frederico Chaves Salóes
do Amor, coordenador do estágio de Caçador de Operações Especiais do CIOPESP
(Centro de Instrução de Operações Especiais) do Exército Brasileiro.
A figura do atirador de precisão, internacionalmente conhecido pelo
termo “sniper”, geralmente é associada ao estereotipo estabelecido pelos
filmes de Holywood, representado nas telas de cinema por um andarilho
solitário, aparamentado com uma vestimenta peculiar (traje ghillie),
espreitando à procura de seus alvos. Com frequência os atiradores de precisão,
denominados no Brasil pela expressão “caçadores” (empregada, sobretudo, pelo
Exército), são relacionados à quantidade de mortes que lhes são creditadas.
Entretanto, o ofício desses profissionais está mais relacionado às vidas que salva
no campo de batalha do que àquelas que elimina.
O atirador de precisão é um militar especializado em executar disparos
seletivos de longa distância com a exatidão necessária para eliminar alvos
escolhidos pela importância de suas funções e/ou pela dificuldade de serem
engajados por outros meios. Especialistas na condução de procedimentos de
infiltração/exfiltração, valendo-se da furtividade (dissimulação) para alcançar
seus objetivos, cabe aos caçadores a tarefa de minar a disposição de lutar do
inimigo mediante eliminação de alvos específicos ou alvos de oportunidade que
tenham relevância nos quadros operacionais da força oponente. Embora alvos
humanos sejam mais corriqueiros, não é incomum que os atiradores de precisão
recebam ordens para disparar contra alvos materiais com o objetivo de
destruí-los ou inutilizá-los.
Além da função que o caracteriza (eliminação de alvos), os caçadores
também podem ser empregados em funções de apoio, executando ação de bloqueio ou
operando como observador. Nas ações de bloqueio os atiradores se posicionam em
um local privilegiado para auxiliar a manter um determinado espaço que é
controlado por forças aliadas. Atuando na condição de observador, o caçador
estabelece um posto de observação que lhe dá ampla visão do campo de batalha
para prover apoio ao avanço da tropa pelo terreno.
Em virtude de sua capacidade ímpar de realizar disparos de precisão
valendo-se de um pequeno número de elementos para causar grandes danos a um
contingente muito maior sem confrontá-lo diretamente, uma equipe de caçadores
(atirador e spotter [observador]) constitui um eminente
“multiplicador de força”
Para que obtenha êxito na consecução de suas tarefas, os atiradores de
precisão devem dispor de acurada capacidade de raciocínio, uma vez que a performance
do disparo depende de inúmeras variáveis relacionadas às condições do clima, do
terreno, bem como da composição de movimentos inerentes à ciência balística.
O que diferencia o atirador de precisão de qualquer outro militar
refere-se à capacidade mental de acompanhar a rotina de um alvo em seus
afazeres diários, para eliminá-lo um ou dois dias depois.
Particularmente no que se refere ao apoio às OpEsp, cabe aos caçadores
ultrapassar os limites do conhecimentos técnicos e táticos da atividade do tiro
de precisão. Especificamente em relação às Ações Diretas, é fundamental que ele
domine as TTP (Táticas, Técnicas e Procedimentos) relacionadas às entradas
táticas, uma vez que seu emprego, geralmente, é conjugado com esse tipo de
ação. Compreender como o destacamento de assalto conduz uma entrada
em um cômodo ou como o inimigo pode reagir em resposta à iniciativa do
destacamento de assalto, são premissas essenciais para que a atuação do caçador
(provendo informação ou realizando tiro seletivo) possa influenciar no
resultado da missão.
Caçadores
de Operações Especiais atuam em equipes para melhorar sua eficácia e
proporcionar segurança mútua, de moto a manter o apoio constante para os dois
integrantes da equipe. Operando coletivamente, os atiradores de precisão podem
atingir alvos mais rapidamente, podendo também ficar em campo durante períodos
de tempo mais longos quando comparados a um único atirador. Experiências
adquiridas em situações passadas mostram que quando o caçador e o spotter operam
juntos, ocorre um aumento significativo na taxa de sucesso das missões. A
redução na eficácia de caçadores que operam isoladamente se deve ao fato de que
o militar sente-se sobrecarregado ao preocupar-se com sua segurança e com as
tarefas a serem realizadas por ele. Além disso, alvos de alta prioridade podem,
eventualmente, necessitar do engajamento dos dois membros da equipe (o spotter também
possui qualificação como caçador) para neutralizar a(s) ameaça(s) ao mesmo
tempo, no caso de um engajamento simultâneo de alvos diferentes. Outra vantagem
consiste na possibilidade de haver uma segunda opção caso haja alguma pane na
execução do primeiro tiro.
O emprego
de atiradores de precisão fornece um alto grau de flexibilidade em relação ao
desdobramento no terreno. Esta flexibilidade ocorre em virtude da organização
(distribuição) dos caçadores em áreas ou locais onde eles terão maior
influência sobre o inimigo alcançando maior efeito potencial, além da
possibilidade de fornecer o máximo apoio às forças amigas.
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