Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.
Para que possam desempenhar as tarefas não
convencionais a eles conferidas, os membros da comunidade OpEsp devem
apresentar um diversificado rol de características fundamentais para o
desempenho de suas atribuições. Fazem parte deste “inventário”: elevada
motivação; competência intelectual; velocidade de raciocínio; estabilidade
psicológica; criatividade; autonomia; condicionamento físico apurado; domínio
das TTP (Táticas, Técnicas e Procedimentos); e sensibilidade ao meio
sociocultural no qual operam.
Estes predicados, tão comuns nos ElmOpEsp
contemporâneos, representavam uma inovação na primeira metade do século XX,
quando grande parcela das nações do mundo envolveram-se nos confrontos
decorrentes da II Guerra Mundial (1939-1945). Nesse cenário de enfrentamento
global, por iniciativa de Archibald David Stirling, um oficial (Tenente) da
Guarda Real Escocesa (Scots Guards)
que servia junto aos Commandos
(pequenas unidades de infantaria concebidas para promover desembarques em éreas
costeiras para destruir alvos inimigos de importância), em 1941 foi criado o
SAS (Serviço Aéreo Especial [Special Air
Service]), unidade de elite vinculada ao Exército britânico responsável por
penetrar as linhas inimigas para executar ações de sabotagem (não convencionais) contra
os campos de pouso e as linhas de comunicação que abasteciam as tropas do Eixo que
operavam na região norte do continente africano. Apesar de sua denominação de
batismo fazer referência a uma eventual capacidade aerotransportada, a
disposição para realizar operações aéreas constituiu um engodo para que os alemães
acreditassem que havia tropas paraquedistas atuando naquela região da África.
Recrutados da Layforce (unidade que atuava no Oriente Médio e era constituída por
integrantes de diferentes tropas de Commandos),
os quadros operacionais do SAS organizavam-se em pequenos grupos, tinham grande
mobilidade e responsabilizavam-se por executar missões de dois tipos:
- Incursões na retaguarda das linhas inimigas realizando ataques contra alvos selecionados ou de oportunidade.
- Atividade de guerrilha estratégica desenvolvida em bases instituídas em território inimigo (com capacidade para recrutar, treinar e coordenar movimentos de resistência nativos).
Para Stirling, cabia
aos homens do SAS a seguinte atribuição:
O papel do SAS era diferente do das forças aerotransportadas e do papel dos Commandos, cuja tarefa era apoiar a batalha no aspecto tático. Também era muito diferente daquele do Special Operations Executive, que agia, sobretudo, com forças locais e à paisana. O SAS foi encarregado das tarefas estratégicas, operando quase sempre de uniforme.
Figura 1: Emblema do 22° Regimento SAS. (Fonte: Disponível em: http://militaryinsignia.blogspot.com.br/2011/10/insignia-of-special-air-service-sas.html Acesso em: 21 mai. 2016). |
No intuito de
esclarecer sua percepção acerca do papel desempenhado pelo SAS, Stirling
conferia à unidade um papel estratégico. Para propiciar um juízo apropriado da
dimensão estratégica, é essencial estabelecer conceitos que distinguem os
quatro níveis de condução da guerra e/ou conflitos (Política: Estratégia;
Operacional; Tática). Nesse contexto, é imprescindível esclarecer as
particularidades inerentes a cada um dos diferentes níveis de condução do
enfrentamento. Assim sendo:
Política – Encarregada
da coordenação dos diferentes ramos da condução da guerra ou conflitos.
Estratégia – Coordenação
de todos os meios militares para alcançar o propósito militar da
guerra/conflito, conforme objetivo perseguido pela política.
Operacional – Tem por
objetivo buscar a derrota das forças inimigas pelo movimento, colocando-as em
uma situação extrema e desfavorável, desorganizando e/ou enfraquecendo sua
capacidade de resposta.
Tática – Estabelece
a derrota das forças inimigas mediante aniquilação física de suas tropas e/ou
destruição da sua coesão orgânica ou moral.
Apesar do intervalo
de mais de 70 anos e das constantes mudanças ocorridas em virtude da
particularidade e evolução dos enfrentamentos, o conceito estabelecido na
década de 1940 permanece atual. O nível de excelência
que o SAS alcançou no decorrer de seu serviço ativo (a unidade foi destituída com
o final da II Guerra e reativada na década de 1950 como 22nd SAS Regiment [22° Regimento SAS]), serviu como modelo de referência para inúmeras unidades análogas espalhadas ao
redor do mundo. Nesse contexto, quando o Coronel Charles Alvin Beckwith projetou a criação de
uma unidade contraterrorista na estrutura organizacional do Exército
norte-americano, o padrão adotado para àquele que viria a ser o 1º SFOD-D (1º Destacamento Operacional de Forças
Especiais-Delta [Força Delta]) foi o do SAS.
No curso de sua
história o SAS acumulou inúmeras operações de vulto que contribuíram para
aprimorar sua expertise, entre as quais são dignas de nota: combate a terroristas na Malásia, após o assassinato de vários cidadãos
britânicos (década de 1950); enfrentamento às forças indonésias e a guerrilha
rebelde, que se opunham a criação da Federação Malaya (entre 1963 e 1966); combate
guerrilhas comunistas que se opunham ao governo de Omã (1969-1976); engajamento
para
cessar a violência entre as comunidades católica e protestante na Irlanda do
Norte (entre 1969 e 1996); resgate de reféns na embaixada do Irã situada em
Londres (1980); combate às tropas argentinas por consequência da Guerra das
Falklands/Malvinas (1982); operação de caçada aos misseis Scud durante a Guerra
do Golfo (1990-1991); coleta de dados de inteligência e emprego de métodos de
Ação Indireta por ocasião da guerra do Kosovo (1999); operação de resgate de
reféns em Serra Leoa (2000); engajamento na GWOT (Guerra Global contra o
Terror) nas campanhas do Afeganistão (2001-2012) e Iraque (2003-2008); orientação de ataques aéreos realizados pela OTAN em oposição ao governo de Muammar Khaddafi durante a Guerra Civil Líbia (2011); presta auxilio às forças curdas localizadas no norte do Iraque no confronto com militantes do Estado Islâmico (a partir de 2014).
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