segunda-feira, 12 de junho de 2017

Ação de Tiro Embarcado em Helicóptero por Operadores da SWAT: Estudo de Caso

Texto elaborado por Francisco Paulo Costa da Silva*   


Figura 1: Policiais da SWAT (Special Weapons and Táctics [Armas e Táticas Especiais])  sobrevoam a regão de Downtown à bordo de uma aeronave Esquilo da Divisão de Suporte Aéreo (Air Support Division) do Departamento de Polícia de Lós Angeles (Los Angeles Police Department [LAPD]). (Fonte: Disponível em: http://www.policemag.com/photogallery/photos/141/lapd-s-air-support-division/1372.aspx Acesso em: 26 mai. 2017).

Em uma operação realizada em maio de 2017, a polícia da cidade de Los Angeles, situada na costa oeste dos EUA, teve êxito em uma missão que repercutiu na imprensa norte-americana local e nacional. Essa ação teve como destaque o fato de que, pela primeira vez, forças policiais haviam utilizado um helicóptero para neutralizar um suspeito armado entrincheirado em uma casa.
No dia 8 de maio, a polícia de Los Angeles recebeu um comunicado de que um suspeito, que poderia estar fortemente armado, havia invadido uma casa na região de Sunland, um bairro afastado da cidade. Percebendo que sua residência estava sendo invadida por um estranho, a proprietária conseguiu fugir juntamente com seu filho pequeno, deixando para trás várias armas à disposição do intruso. De imediato, a polícia local despachou equipes de patrulhamento de rotina que, ao chegarem à residência, observaram que o suspeito estava armado, fato que justificaria a chamada de uma equipe da SWAT (acrônimo da língua inglesa utilizado em referência à Special Weapons And Tactics [Armas e Táticas Especiais]) para resolver a crise. A princípio, os policiais tentaram demover o suspeito pela via da negociação. Contudo, devido à postura relutante do indivíduo e da localização geográfica da casa, que restringia bastante a aproximação segura por parte dos policiais, dando ao bandido a vantagem, o chefe da SWAT resolveu acionar uma equipe de atiradores embarcados em helicóptero para prover o apoio aéreo necessário à retomada da residência. É importante assinalar que os atiradores embarcados pertencem à própria SWAT, pois a unidade de aviação local não tem atiradores orgânicos em suas fileiras. Após várias tentativas fracassadas de negociação, a polícia resolveu lançar gás lacrimogêneo dentro da casa, o que obrigou o bandido a sair. Fora da residência, o suspeito começou a disparar contra os policiais que estavam fora da casa e, ao perceber a aproximação do helicóptero, também efetuou disparos contra a aeronave, sendo alvejado e morto pelos atiradores do helicóptero que responderam ao ataque.

Figura 2: Teatro de Operações da ação levada à efeito em oito de maio de 2017 pelos policiais da SWAT embarcados em helicóptero. (Fonte: Disponível em: http://tribunist.com/news/lapd-swat-sniper-shoots-and-kills-suspect-from-helicopter-video/. Acesso em: 26 mai. 2017).

Sobre esta ocorrência específica, algumas considerações táticas devem ser consideradas: a residência estava localizada em uma zona de elevação, rodeada por árvores e detritos que dificultavam a aproximação e ação dos policiais; somente o bandido tinha essa vantagem, devido à localização da casa e à dificuldade da polícia em se aproximar da residência, fato esse que ocasionou o acionamento do helicóptero; a polícia teria que recuperar a vantagem tática: Diante da dificuldade de desalojar o bandido, a única solução que se mostrava viável seria o emprego de atiradores embarcados em helicóptero como forma de sobrepujar a ameaça. Nesse caso, a aeronave foi utilizada de forma ofensiva, acabando com uma tradição de somente utilizá-la como plataforma de observação. Após esse fato, quebrou-se um paradigma que norteava a doutrina de rádio-patrulhamento aéreo da polícia de Los Angeles; seria leviano dizer exatamente o que aconteceu. No entanto, observando o terreno e a condição de localização da casa, pode-se presumir que o helicóptero tomou uma atitude circular de voo sobre o alvo não ultrapassando 50kt (nós [cerca de 90 km/h]) de velocidade a uma altura de aproximadamente 200ft (pés [aproximadamente 60 metros]). Ressalta-se que esses dados são apenas parâmetros para efetuar disparos em circunstâncias como a apresentada, a depender da situação do terreno; a polícia utilizou um helicóptero Esquilo (modelo AS 350), com a plataforma TSOP (Tyler Special Operation Plataform), acoplada em ambos os lados do helicóptero. Os atiradores estavam utilizando armamento com miras holográficas e magnificador e, provavelmente, estavam portando fuzis calibre 5.56 mm, geralmente padronizados para as equipes táticas da polícia nos EUA.
É bem sabido que o tiro embarcado a partir de helicópteros já é fato antigo em território norte-americano, basta relembrar um evento ocorrido no estado do Alasca, em 1984, no qual dois policias estaduais, embarcados em um helicóptero Esquilo, enfrentaram um bandido fortemente armado, havendo troca de tiros na circunstância, resultando na morte de um policial e do próprio bandido. Apesar desse fato, essa técnica não foi largamente difundida pelas polícias, devido às diferentes legislações estaduais e por outras situações de ordem legal. No entanto, após o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001, houve um crescente número de agências da lei que passaram a utilizar o helicóptero como plataforma de tiro, à exemplo da US Cost Guard (Guarda Costeira dos EUA), com a unidade HITRON (Helicopter Interdiction Tactical Squadron, ou Esquadrão Tático de Interdição por Helicóptero), que realiza o trabalho de interdição das lanchas que tentam entrar pelo mar do Caribe na costa da Flórida carregadas de drogas vindas da América do Sul, e a US Boder Patrol Aviation Unit (Unidade de Aviação da Patrulha de Fronteira dos EUA), que utiliza diversos helicópteros em operações de segurança na fronteira sul estadunidense.

Fotografia 3: Valendo-se do dispositivo TSOP (Tyler Special Operation Plataform, ou Plataforma Tyler para Operações Especiais), atiradores da SWAT do LAPD  embarcados no helicóptero sobrevoam o local da ocorrência em questão. (Fonte: Disponível em: http://tribunist.com/news/lapd-swat-sniper-shoots-and-kills-suspect-from-helicopter-video/. Acesso em: 26 mai. 2017).

Sobre a situação brasileira, convém salientar que a antiga CGOA (Coordenadoria Geral de Operações Aéreas) da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro foi pioneira nessa técnica no início dos anos oitenta, levando essa doutrina para todos os estados e para a Polícia Federal. É fato que, devido ao altíssimo nível da violência em nosso país em todos esses anos, o emprego de atiradores embarcados vem crescendo exponencialmente nas polícias estaduais. Hoje, temos, sem dúvidas, uma grande casuística no cenário de combate urbano nas favelas do Rio de Janeiro elevada a um estado de guerra irregular travado por unidades policias especiais, aéreas e terrestres, contra criminosos fortemente armados. Além disso, o Brasil tem uma legislação extremamente legalista. Nota-se com frequência o predomínio do discurso enviesado dos diretos humanos que, de certa forma, inibe um estudo qualificado por parte das unidades policiais dos resultados de confrontos utilizando helicóptero contra meliantes armados.
Segundo o chefe da polícia local, Charlie Beck, após os fatos narrados, a polícia de Los Angeles iniciou um procedimento padrão de verificação do ocorrido e da aplicabilidade do helicóptero no evento, ressaltando o legítimo emprego da força por parte da polícia. É de se esperar que, a partir daí, algumas agências americanas comecem a adotar esse tipo de técnica em suas unidades aéreas, tendo em vista a vantagem tática que se obteve diante do suspeito barricado em terreno elevado. Como é de costume nos EUA, país que se notabiliza pela excepcionalidade devido a análise das práticas, com base no resultado da ação em questão, a técnica empregada pelos policiais embarcados da SWAT provavelmente será estudada e sistematizada, ficando à disposição de toda a comunidade de operações policiais especiais daquele país.


Francisco Paulo Costa da Silva é policial federal desde 2004, ano em que concluiu o curso de papiloscopista na Academia Nacional de Polícia. Atualmente exerce a função de líder da equipe de operadores aerotáticos (atiradores da porta do helicóptero) da CAOP (Coordenação de Aviação Operacional) da Polícia Federal (PF). É graduado em História pela Universidade de Pernambuco e cursa pós-graduação em Relações Internacionais pela Damásio Educacional. Na PF participou do curso de operações aerotáticas, bem como do curso de atirador designado aerotático. Frequentou o Curso de Comandos Jungla (Polícia Nacional da Colômbia) além do curso de operações antidrogas pela School of the Americas (Escola das Américas) atual WHINSEC (Western Hemisphere Institute for Security Cooperation, ou Instituto do Hemisfério Ocidental para Cooperação em Segurança). Cursou o Estágio de Operação e Sobrevivência em Área de Caatinga (72º BIMtz [72º Batalhão de Infantaria Motorizado do Exército Brasileiro) e o Estágio de Atirador de Precisão (BOPE [Batalhão de Operações Policiais Especiais da PM-RJ). 




2 comentários:

  1. Um 5.56 em cima de um helicóptero não seria menos eficaz pela distância e as variáveis?

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  2. Caro amigo, o 5.56 mm apresenta velocidade maior do que o 7. 62 mm após a saída do cano.No entanto, apresenta menos danos ao alvo quando o atinge.Esse fator não inviabiliza o seu uso embarcado, pelo contrário, devido ao seu baixo poder de energia cinética, em comparação ao 7.62mm, frequentemente esse calibre está sendo empregado em meio urbano, como forma de reduzir danos colaterais.

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