Avião de Transporte e Reabastecimento
Embraer KC-390
Desenvolvido conjuntamente entre a EMBRAER
Defesa e Segurança (Divisão da EMBRAER [Empresa Brasileira de Aeronáutica]) e a
FAB (Força Aérea Brasileira) com o propósito de produzir uma plataforma aérea
multifunção, o projeto do KC-390 mostrou ser um desafio desde sua concepção,
uma vez que propunha ser a maior aeronave fabricada na América Latina, dotada
com avanços tecnológicos inovadores para a indústria brasileira, com a
responsabilidade de substituir o icônico avião quadrimotor turboélice Lockheed
C-130 Hércules, utilizado pela FAB desde a década de 1960.
Como cargueiro militar à jato (biturbina) que
pretende ser versátil, capaz de operar em regiões de calor e frio intensos, com
aptidão para decolar/aterrissar em pistas curtas e/ou não pavimentadas, caberá
ao KC-390 desempenhar uma diversidade de tarefas operacionais, tais como:
transporte e lançamento de tropas e cargas; reabastecimento em voo; operações
de busca e resgate; evacuação aeromédica; operações humanitárias e sociais de
auxílio à população civil; entre outras.
O protótipo do KC-390 teve seu voo inaugural
em fevereiro de 2015, e atualmente passa por uma série de testes como parte de
uma campanha denominada “congelamento aerodinâmico”, cuja finalidade é
identificar a necessidade de promover alterações aerodinâmicas a fim de definir
o design externo definitivo da aeronave. Como parte dessa campanha, em junho de
2016 foi realizado na Base Aérea de Campo Grande (estado do Mato Grosso do Sul
[MS]) o primeiro teste de lançamento de paraquedistas. Na ocasião do evento,
tomaram parte dos testes, executando as modalidades de salto semiautomático
(enganchado) e salto livre (sem equipamento), militares do EAS (Esquadrão
Aeroterrestre de Salvamento [também conhecido pelo acrônimo PARA-SAR]), unidade
OpEsp (Operações Especiais) da FAB, bem como da BdaInfPqdt (Brigada de
Infantaria Paraquedista) do EB (Exército Brasileiro).
Sobre ambas modalidades de salto cabe aqui um
esclarecimento. Nos testes realizados no MS a aeronave, observando as
particularidades de cada modalidade, teve que alcançar altitudes distintas para
promover o lançamento dos paraquedistas, sendo o salto semiautomático realizado
a 1.000ft (333m) de altura, enquanto o salto livre é executado à 12.000ft
(4.000m). Em ambos os casos, o KC-390, conforme doutrina adotada no Brasil para
plataformas aéreas de lançamento de paraquedistas, teve que navegar na ZL (Zona
de Lançamento) a uma velocidade de 70 metros por segundo para que os militares
pudessem executar o método de salto que lhes cabia. Especificamente no que se
refere aos saltos à grandes altitudes (acima de 12.000ft), nos quais os
paraquedistas necessitam de dispositivos de respiração em virtude do ar
rarefeito, o KC-390 apresenta-se configurado com diferentes pontos aptos a
receber suprimento de oxigênio que abastecerá os militares que venham a
executar esse tipo de salto.
Especificamente no que se refere à capacidade
do KC-390 de operar como plataforma de apoio às OpEsp, destaca-se o espaçoso
compartimento de carga dotado com a capacidade de se reconfigurar conforme o
perfil da missão a ser executada. A aeronave é dotada com Sistema de
Movimentação e Lançamento Aéreo (Cargo Handing and Aerial Delivery System [CHS/ADS]),
capaz de movimentar e transportar cargas variadas acondicionadas sobre palets e
promover seu lançamento durante o voo mediante extração por gravidade e
paraquedas. O CHS/ADS a ser utilizado pelo KC-390 será composto por controle
central eletrônico, travas eletromecânicas, trilhos guias retráteis, roletes
reversíveis, argolas para fixação, além de pisos estruturais aptos a suportar
grande capacidade de carga.
Especula-se que além das cargas úteis que os
C-130 Hércules empregados pela FAB lançam atualmente, o KC-390 terá capacidade
de operar o Sistema de Lançamento Aéreo Marítimo (Maritime Craft Aerial
Delivery System [MCADS]) desenvolvido pela empresa norte-americana
Airborne System, capaz de lançar embarcações infláveis de casco rígido como o
modelo Hurricane H-753 que é empregado pelo GRUMEC (Grupamento de Mergulhadores
de Combate) da Marinha do Brasil (MB). Na eventualidade dessa possibilidade se
concretizar, tal capacidade contribuiria para a projeção do Poder Naval
brasileiro, uma vez que posicionaria MECs (Mergulhadores de Combate) em
qualquer área de interesse nas Águas Jurisdicionais Brasileiras no mar ou em
qualquer ponto da bacia Amazônica.
Em relação aos procedimentos preparatórios
para o salto, o KC-390 apresentará um painel de luzes com padrão de três cores
(vermelha, amarela/âmbar e verde) empregadas como forma de comunicação do
piloto com os paraquedistas para indicar as condutas de salto. Convém
esclarecer que nas aeronaves utilizadas atualmente pela FAB para transporte
(C-130 Hércules; C-105 Amazonas [EADS/CASA C-295]; EMB-110 Bandeirante), o
padrão de cores do painel se resume a duas (vermelha e amarela), sendo
necessário estabelecer uma normatização para as condutas considerando a luz
amarela. Todavia, tomando por referência as rotinas à bordo, acredita-se que a
luz vermelha alertará para as emergências e procedimentos de impedimento, a luz
amarela indicará as condutas de atenção e instruções preparatórias, enquanto a
luz verde assinala a autorização para a execução do salto.
Figura 1: Especificações técnicas da aeronave Embraer KC-390. (Fonte: Elaborado por Rodney Alfredo P. Lisboa com base em informações fornecidas pela Embraer Defesa e Segurança). |
Quando comparado ao C-130 Hércules, o KC-390
apresenta espaço interno mais amplo que favorece a movimentação dos militares
quando estes se encontram munidos de todos os equipamentos, proteção acústica
melhor, bancos maiores e mais confortáveis, sinto para o transporte de tropa
mais adequado, dotado com fivela em um ponto que favorece o engate para a “ancoragem”
durante os procedimentos de decolagem e aterrissagem quando o militar
encontra-se totalmente equipado (armado e mochilado).
Localizadas imediatamente atrás de cada uma
das asas, as duas portas laterais que servem para a execução do salto semiautomático
foram idealizadas com tamanho e angulação que favorecem a execução do salto,
uma vez que possuem um defletores aerodinâmicos que evitam a instabilidade e
turbulência ocasionadas pela ação do deslocamento de ar, proporcionando maior
conforto tanto para o Mestre de Salto (militar responsável pelo planejamento do
salto e lançamento da tropa durante o voo) quanto para os paraquedistas. Além
disso, quando aberta durante o voo, a porta apresenta uma pequena plataforma
que favorece no procedimento de saída da aeronave em decorrência do salto.
Vídeo 1: Vídeo institucional produzido pela Embraer Defesa e Segurança apresentando a primeira campanha de testes a que foi submetido o KC-390. (Fonte: Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1ZMZHrCB4M8&t=13s Acesso em: 19 jun. 2017).
Vídeo 2: Filmado
em 360º no interior do compartimento de carga do KC-390
(configurado para o transporte de tropas), vídeo apresenta o lançamento de
paraquedistas a partir das portas laterais (salto semiautomático) e da rampa de
carga (salto livre). (Fonte: Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=JCGeN71dZIE Acesso em: 19 jun. 2017).
Para maiores informações consultar:
http://www.embraerds.com
Agradecimentos:
O blog FOpEsp agradece o EAS/PARA-SAR pelo suporte ofertado no desenvolvimento deste texto nas questões relacionadas às capacidades do KC-390 como plataforma de apoio às OpEsp, e estende sua gratidão ao GRUMEC por ocasião do apoio aos assuntos atinentes ao sistema de lançamento aéreo da lancha Hurricane.
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