sexta-feira, 29 de abril de 2016

Capacidades Físicas e Psicológicas no Desempenho de Técnicas CQB (Parte 3)

Adaptação de artigo publicado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa na Revista Marítima Brasileira, v. 134, n. 10/12, p. 77-90, 2014.

É essencial compreender que o condicionamento físico constitui elemento fundamental para a obtenção de um resultado satisfatório em relação à performance de execução das técnicas CQB, mas ele não deve ser o único componente da tarefa biopsicológica a ser levado em consideração.
Situações de confronto armado aproximado são consideradas ocorrências de alto risco, pois a organização estrutural das instalações (cômodos, corredores, escadas, entre outros) apresenta áreas internas com espaço físico restrito e vias de circulação estreitas, que além de dificultar o deslocamento do destacamento de assalto, limitam a visão e reduzem a área de enfrentamento, expondo os operadores de modo a coloca-los na linha de fogo inimiga. Para os ElmOpEsp, a presença de possíveis reféns nas áreas de confronto é outro complicador, uma vez que seu autocontrole e capacidade de decisão (definindo o momento de executar o[s] disparo[s]) são testados sob risco de comprometer seu raciocínio crítico levando-o a cometer equívocos que podem ser fatais.
Em operações que requeiram o emprego de técnicas CQB, o desempenho da tarefa física é diretamente influenciado pela condição psicológica à medida que o SNC (Sistema Nervoso Central) faz com que o indivíduo sinta-se vulnerável e fora de controle, principalmente pelas sensações de ativação, ansiedade e estresse. O conceito de ativação é apresentado como uma combinação de atividades fisiológicas e psicológicas relacionadas à motivação em um determinado momento, podendo variar da letargia (baixa ativação) à excitação (alta ativação). Associada à ativação, a ansiedade constitui um estado emocional que pode ser cognitivo (grau de ativação cognitiva) ou somático (grau de ativação física), gerado por diversas situações que podem ou não depender do indivíduo. Por sua vez, o estresse é definido como um desequilíbrio substancial entre a demanda (física e/ou psicológica) e a capacidade de resposta, gerada a partir da falha em satisfazer adequadamente as exigências da tarefa que está sendo solicitada. Outro fator que pode interferir na performance de execução das técnicas CQB é o medo, contextualizado como um estado emocional desencadeado em situação de perigo iminente que potencializa os níveis de atenção e concentração do indivíduo.


Fotografia 6: Integrantes do GERR/OpEsp do Batalhão Tonelero conduzindo procedimento de varredura na Casa de Tiro em Compartimento localizada na base da OM em Campo Grande, Rio de Janeiro. (Foto: Rodney Lisboa). 

Fenômenos como a ativação, a ansiedade, o estresse, e o medo, estimulam a porção simpática do SNA (Sistema Nervoso Autônomo), que funciona como um sistema de emergência mobilizando os recursos necessários para emitir uma resposta adequada às situações de estresse. Durante a prática de atividade física ou experimentando fortes emoções, uma série de impulsos transmitidos ao longo da porção simpática do SNA controlam diversos órgãos internos preparando-os para responder à denominada "hipótese de luta e fuga”. A sequência de eventos que leva às respostas de luta e fuga, começam por uma informação relacionada a situações de perigo que é captada pelo SNC a partir de estímulos emitidos pelo ambiente. Na parte externa do cérebro (córtex cerebral) a informação passa por três estágios de processamento (identificação, avaliação e tomada de decisão), cujo resultado influenciará nos comportamentos subsequentes que envolve a interação com o hipotálamo e a hipófise (localizadas na base do cérebro), bem como com as glândulas suprarrenais.
Após receber informações que indiquem sinal de perigo, o córtex cerebral comunica-se com o hipotálamo, que por sua vez incita a hipófise e as glândulas a produzirem hormônios fundamentais para as respostas de luta e fuga. A betaendorfina (produzida pela hipófise) exerce um papel de entorpecimento das percepções de dor. 
Atuando em conjunto com a adrenocorticotrofina (produzida pela hipófise), a adrenalina e a noradrenalina (produzidas pelas glândulas suprarrenais) aguçam o pensamento e prolongam a memória relacionada ao evento estressante, desempenhando efeito supressivo sobre o sistema imunológico. Os hormônios suprarrenais permanecem sendo produzidos durante todo o período de tensão, garantindo o estado de alerta do corpo até o término da crise ou mediante estabelecimento de exaustão pela elevada descarga de impulsos simpáticos.
A avalanche de eventos metabólicos ocasionada pela estimulação da porção simpática da SNA durante uma situação de estresse de longa duração é denominada SAG (Síndrome de Adaptação Geral), e impõe certos padrões de respostas fisiológicas que embora possam variar de pessoa para pessoa apresentam similaridades, entre os quais citamos: 

  • O aumento da frequência cardíaca e da pressão sanguínea para suprir as necessidades do cérebro (favorecer a concentração e o raciocínio) e dos diferentes grupos musculares (permitindo pronta resposta motora); 
  • O ciclo respiratório aumenta a fim de transportar maior quantidade de oxigênio para as células (gerando energia para auxiliar na situação de emergência); 
  • As reservas de açúcar (glicose e ácidos graxos) armazenadas no fígado são liberadas na corrente sanguínea para fornecer quantidade adicional de energia aos músculos; 
  • As glândulas sudoríparas e suprarrenais aumentam sua capacidade de secretar; 
  • As glândulas salivares e digestórias reduzem sua capacidade de secretar comprometendo o peristaltismo (trato digestório) e prejudicando a digestão.

Fotografia 7: Componentes do Comando Jungla (unidade especial da Polícia Antinarcóticos colombiana) participam de adestramento de entrada tática na Base da Força Aérea norte-americana situada em Eglin, estado da Florida. (Fonte: disponível em: http://www.defense.gov/Media/Photo-Gallery?igphoto=2001321683 Acesso em: 27 abr. 2016).

Nas manobras de varredura empreendidas pelo destacamento de Assalto, os fenômenos fisiológicos descritos constituem uma evidência proveniente da expectativa do confronto armado. Em ações desse tipo o tempo se confunde com o espaço e todos os sentidos se alteram em função de um efeito chamado “Visão de Túnel”. Estando sob a influência desse efeito, tudo o que os operadores veem e ouvem está relacionado com o foco da atenção. Para os membros do destacamento de Assalto, a percepção acerca do combate ocorre em um tempo com duração muito lenta se comparado ao tempo real. Assim, por ocasião da visão de túnel, ocorrida em virtude da concentração total e da movimentação controlada, lenta e gradativa, o que parece ser meia hora não passa de alguns poucos minutos. Cabe salientar, que esse efeito ocorre em virtude da descarga de adrenalina secretada pelas glândulas suprarrenais que inundam o corpo mediante estímulo da porção simpática do SNA, limitando sensações de cansaço ou dor (comprometedoras da performance) por ocasião do estado de alerta a que o corpo encontra-se submetido.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Capacidades Físicas e Psicológicas no Desempenho de Técnicas CQB (Parte 2)

Adaptação de artigo publicado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa na Revista Marítima Brasileira, v. 134, n. 10/12, p. 77-90, 2014.

Para o desempenho eficiente de suas funções, é impreterível que cada um dos elementos que constituem o destacamento de assalto tenha controle e precisão na condução das técnicas CQB. Essas técnicas abordam o conjunto de procedimentos específicos a serem adotados pelo "Trem de Assalto", quando o destacamento se desloca em fila pelas dependências internas, promovendo a segurança mútua de seus membros enquanto executa a varredura dos cômodos.
Nas operações que requerem o emprego de métodos CQB, o confronto armado em espaço físico limitado produz situações distintas que exigem variados níveis de esforço físico, os quais podem influenciar direta ou indiretamente no resultado da ação, uma vez que o preço do fracasso nessas circunstâncias, quase sempre, é a morte. Neste ponto, fazemos uma digressão para destacar a importância da preparação física no âmbito da atividade militar, uma vez que o condicionamento do corpo vai muito além da aptidão para empreender operações tradicionais de patrulha e intervenção. Nesse contexto, independente da função ou graduação, o treinamento físico enfoca a operacionalidade da tropa, visando atender ao interesse da instituição, ao cumprimento da sua missão e a qualidade de vida do militar.  
Ponderando sobre a relevância do treinamento físico para ações de confronto armado, considera-se que o combate aproximado exige intenso adestramento em função da contingência do emprego de força. Para os militares que enfrentam elementos adversos em espaços restritos, o valor do condicionamento físico é percebido em eventos que requerem o envolvimento de todas as valências físicas (equilíbrio, coordenação, força, velocidade, resistência e flexibilidade) em situações de progressão nas quais os integrantes do Trem de Assalto têm que se deslocar por áreas internas realizando movimentação tática, saltos, agachamentos, subidas e/ou descidas, transportando equipamento e armamento que atribuem peso adicional considerável ao usuário.


Fotografia 3: Operadores do 1º BFEsp do Exército Brasileiro executando procedimentos de varredura em um complexo de casas em Porto Príncipe, capital do Haiti. A configuração variável das vias de acesso e o espaço tridimensional das edificações (com alturas distintas) exigem um condicionamento físico capaz de suportar as exigências impostas pelo terreno. (Fonte: Acervo do 1º BFEsp). 

Pela perspectiva da atividade física o termo “condicionamento físico” constitui o ato ou efeito de capacitar o corpo desenvolvendo as valências físicas com o objetivo de melhorar a performance de execução dos movimentos. Partindo dessa premissa, esclarecemos que ao buscar condicionar-se fisicamente, o indivíduo passa por um processo de “treinamento” que promove uma adaptação metabólica funcional, ampliando suas capacidades energéticas para adequar o organismo ao esforço físico requerido.
Apesar das demandas metabólicas (reações/adaptações do organismo) não serem contempladas neste texto, é imperioso esclarecer que a prática de atividade física depende de uma grande diversidade de variáveis relacionadas ao metabolismo, responsáveis por influenciar na busca por um indicador eficiente na tarefa de estabelecer a integração dos sistemas cardiovascular, respiratório e muscular considerando o gasto energético requerido na atividade em questão.
Cientes de que a adaptação metabólica é um importante componente do condicionamento físico associado à performance de execução das técnicas CQB, uma vez que é desse ajuste orgânico que depende a capacidade dos ElmOpEsp do Destacamento de Assalto de suportar o esforço físico, o ajuste metabólico somente trará resultados efetivos para a performance dos procedimentos CQB quando devidamente associado ao componente motor (controle dos movimentos). 
A natureza extremamente complexa das operações de retomada e resgate exige elevados níveis de consciência corporal e domínio das capacidades motoras (equilíbrio; coordenação; lateralidade; ritmo; tempo de reação; orientação espacial; percepção temporal) que vão muito além da habilidade do militar convencional. Desse modo, considerando a doutrina de emprego dos métodos CQB, em uma operação de varredura, é essencial que os componentes do Destacamento de Assalto tenham controle total de todos os movimentos (consciência corporal e motora) que norteiam a execução das respectivas técnicas. Cabe destacar, que uma percepção motora incompatível com as exigências da tarefa pode trazer sérias consequências para o desfecho da operação, uma vez que é essa percepção (adquirida mediante repetição sistemática dos movimentos que alicerçam as técnicas) que permite um padrão de resposta efetivo frente às situações de perigo.


Fotografia 4: Integrantes do SAS participam da "Operação Nimrod" desencadeada em Londres (1980). Considerada como uma das mais icônicas operações de resgate de reféns da história, o resultado favorável da ação deu-se em virtude da combinação entre o efeito surpresa e o emprego eficiente de técnicas CQB. (Fonte: http://www.coventrytelegraph.net/news/iranian-embassy-siege-rescuer-reveals-10103394 Acesso em: 25 abr. 2016).

Apesar de específico, o conjunto de ações motoras utilizadas em eventos onde ocorre o confronto aproximado (técnicas CQB) se desenvolve exatamente da mesma forma que qualquer outro ato motor, surgindo a partir das três categorias básicas de movimento: mobilidade, estabilidade e manipulação. Tomando por referência a teoria proposta por Karl Newel (1986), segundo a qual sugere que todos os movimentos surgem da interação entre três fatores distintos (indivíduo; tarefa motora [movimento]; ambiente), destacamos que a performance de execução de uma ação motora depende, fundamentalmente, da capacidade do indivíduo de executar determinada tarefa motora, da complexidade da tarefa motora a ser realizada, bem como das condições do ambiente para a realização da tarefa motora em questão. 
A habilidade (perícia) de cumprir com os requisitos de uma determinada tarefa motora está diretamente relacionada com a grande quantidade de conhecimento detalhado e organizado que uma pessoa possui em relação à área em que atua, tornando-a capaz de empregar esse conhecimento para a solução qualitativa dos problemas relacionados à área em questão. A prática sistemática torna-se um fator fundamental na aquisição da habilidade relacionada ao desempenho, de modo com que indivíduos mais experientes em um campo de atuação têm maior aptidão que os principiantes para executar tarefas especializadas. Assim, o conjunto de informações armazenadas pelos peritos em virtude da especificidade e do tempo de prática, permite-lhes operar com maior grau de "automaticidade" (memória motora ou memória muscular). Sobre a execução automática do gesto motor, salientamos que nesta categoria de movimento a ação motora é realizada com controle total dos segmentos corporais requeridos para a execução da tarefa, mesmo quando o executante encontra-se em condições psicofísicas difíceis. Dessa forma, com o ato motor sendo realizado mediante percepção cinestésica (corporal), que assume a função de fonte de informação sensorial primária substituindo a visão e a audição, o executante é capaz de voltar sua atenção para outros fatores do ambiente que podem interferir na sequência de execução do movimento.


Fotografia 5: ElmOpEsp do GROM (unidade contraterrorista das Forças Armadas polonesas) progridem por uma área edificada obedecendo a procedimentos operacionais alicerçados em técnicas CQB. (Disponível em: http://www.fluierul.ro/mobile/article/indexDisplayArticleMobile.jsp?artid=572941&title=militari-polonezi-au-luat-cu-asalt-centrul-de-spionaj-nato-din-varsovia-ocupand-cladirea-guvernul-polonez-a-inlocuit-sefii-serviciului-de-contraspionaj-nato-acuzati-ca-ar-fi-oferit-servicii-de-specialitate-administratiei-obama-in-detrimentul-poloniei Acesso em: 25 abr. 2016).

Sobre a execução habilidosa de uma ação motora, cabe explanar que a maturidade e a experiência apresentam-se como diferencial, uma vez que o militar mais experiente tem mais estabilidade em situações de crise, sabe avaliar criticamente as diferentes situações que se apresentam, desempenhando suas funções com mais eficiência à medida que possui o domínio da técnica (movimento especializado) e sabe como, onde e quando emprega-la.  
Para que um movimento seja executado de forma habilidosa (automatização), necessariamente, deve ser incorporado ao acervo de memória motora do executante, sendo consolidado na forma de um circuito neuronal estável nas estruturas do SNC (Sistema Nervoso Central) e transferido para a memória de longa duração (armazenamento mnemônico permanente). Assim, considerando que em uma operação de confronto aproximado os operadores devem contar com um repertório de movimentos que lhes permita analisar e solucionar a situação em questão com simplicidade, praticidade, criatividade e adaptabilidade, a percepção sensorial das diferentes possibilidades de movimento para cada situação específica é crucial para o resultado da tarefa realizada.
Portanto, é imperioso destacar que o controle dos movimentos utilizados nas diferentes técnicas CQB ocorre a partir de uma séria de fatores relacionados com a vivência prática (feedback cinestésico), entre os quais são dignos de nota: a experiência adquirida em função do adestramento que simula situações compatíveis com a tarefa a ser executada em um engajamento real; a reprodução sistemática e metódica dos movimentos característicos de cada técnica; a correta operação de armas e equipamentos quando da execução desses movimentos. 
Particularmente no que concerne ao emprego de armas de fogo, é fundamental que os operadores pratiquem a sequência de movimentos até automatizá-los (incorporar ao acervo de memória de longa duração), uma vez que a performance no manuseio do armamento, e os disparos por consequência, dependem de uma série de fatores: concentração; capacidade de decisão e tempo de reação em resposta a um estímulo extrínseco (oriundo do ambiente) que lhes permita identificar com antecedência eventuais reféns dos elementos adversos que representam a ameaça.


segunda-feira, 25 de abril de 2016

Capacidades Físicas e Psicológicas no Desempenho de Técnicas CQB (Parte 1)

Adaptação de artigo publicado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa na Revista Marítima Brasileira, v. 134, n. 10/12, p. 77-90, 2014.

A modalidade de guerra não convencional, levada a efeito por FOpEsp exige de cada um de seus membros um conjunto de habilidades heterogêneas que dependem, necessária e fundamentalmente, do condicionamento das capacidades físicas e psicológicas para o desempenho eficiente de suas respectivas funções nos níveis em que elas são requeridas.
Nas operações de retomada e resgate, as dependências internas do espaço (móvel ou imóvel) apreendido por forças adversas apresentam inúmeras dificuldades, que além de ampliar a tensão em virtude do combate iminente, limitam as opções de deslocamento e visão em virtude das dimensões reduzidas, forçando o enfrentamento das forças antagonistas em espaços bastante restritos, potencializando ainda mais uma atmosfera repleta de tensão e imprevisibilidade.
Cientes de que em situações de confronto armado o despreparo pode ser causa de comprometimento operacional e fatalidade, este texto propõe analisar os aspectos relacionados aos procedimentos adotados pelo destacamento de assalto durante as manobras de incursão e varredura de áreas internas invadidas e/ou controladas por elementos adversos. Para tanto, buscamos identificar e compreender as ações de “Combate em Ambiente Confinado”, modalidade de confronto armado conhecida internacionalmente pelo acrônimo CQB (Close Quarter Battle), a fim de avaliar a influência das capacidades físicas e psicológicas na performance de execução das ações de confronto armado aproximado no decorrer de um engajamento que busca restituir a segurança do local e de eventuais reféns eliminando a ameaça.


Fotografia 1: Integrantes da HRT (Equipe de Resgate de Reféns) do FBI participam de exercício CQB no Centro de Treinamento Tático em Quantico, Virginia. (Fonte: Disponível em: https://www.washingtonpost.com/world/national-security/inside-the-fbis-secret-relationship-with-the-militarys-special-operations/2014/04/10/dcca3460-be84-11e3-b195-dd0c1174052c_story.html Acesso em: 23 abr. 2016).
Cientes de que em situações de confronto armado o despreparo pode ser causa de comprometimento operacional e fatalidade, este texto propõe analisar os aspectos relacionados aos procedimentos adotados pelo destacamento de assalto durante as manobras de incursão e varredura de áreas internas em instalações controladas por elementos adversos. Para tanto, buscamos identificar e compreender as ações de “Combate em Ambiente Confinado”, modalidade de confronto armado conhecida internacionalmente pelo acrônimo CQB (Close Quarter Battle), a fim de avaliar a influência das capacidades físicas e psicológicas na performance de execução das ações de confronto armado aproximado no decorrer de um engajamento que busca restituir a segurança do local e de eventuais reféns eliminando a ameaça.    
Embora a doutrina de emprego das técnicas CQB utilizadas pelas FOpEsp ao redor do mundo sejam basicamente as mesmas, com sutis diferenças umas das outras, algumas particularidades devem ser levadas em conta quando da execução desses procedimentos. O primeiro fator a ser considerado é a necessidade de inserir o destacamento de assalto na área alvo. Outro fator de relevância enfoca as dimensões reduzidas de dependências internas. Também é necessário atentar para os materiais utilizados na construção das edificações, pois em situação de confronto armado esses materiais, submetidos a disparos e/ou explosões, podem produzir escombros que representam risco para a segurança dos operadores e eventuais reféns. Nas instalações marítimas e/ou embarcações, as anteparas de metal que constituem parte da estrutura através da qual as embarcações e instalações são construídas, favorecem o ricochete dos disparos potencializando o perigo. Também no mar, os procedimentos operacionais adotados, invariavelmente, encontram-se sujeitos às condições instáveis do mar. 


Fotografia 2: Quadros operacionais do GruMec realizando adestramento CQB em uma embarcação da Marinha do Brasil. (Fonte: Disponível em: http://www.taringa.net/posts/imagenes/17973830/GRUMEC-Tropa-de-Elite-de-Brasil.html Acesso em: 23 abr. 2016).
Compreendendo que o corpo humano é submetido a uma série de adaptações funcionais quando encontra-se em atividade física praticada em um ambiente de extrema tensão psicológica, este texto foca sua abordagem na consciência corporal (componente da tarefa físico-motora) que permite a execução dos atos motores especializados requeridos em situações de confronto armado aproximado. Também é nosso foco de interesse, analisar o estresse provocado pela atmosfera de ansiedade e medo (componente da tarefa psicológica), característica de uma operação de retomada e resgate, relacionando-o com a performance de execução dos métodos CQB.



sexta-feira, 22 de abril de 2016

O Futuro das Operações Especiais (Parte Final)

Adaptação do texto escrito originalmente por Linda Robinson, assessora adjunta para a Segurança Nacional e Política Externa do Conselho de Relações Exteriores dos EUA. (Disponível em: https://www.foreignaffairs.com/articles/united-states/2012-11-01/future-special-operations Acesso em: 12 abr. 2016).

Para que tenham resultados positivos a longo prazo, a constituição de futuras parcerias de assessoramento requerem profundas mudanças na forma como as OpEsp são concebidas, financiadas e executadas. Tais alterações permitirão que os ElmOpEsp trabalhem de forma integrada com outros componentes do governo (incluindo unidades militares convencionais), conduzindo extensas campanhas que se prolongarão por anos com a finalidade de obter efeitos favoráveis e duradouros. Para tanto, as OpEsp devem criar modelos padronizados de procedimentos operacionais tomando por referência resultados positivos obtidos em experiências anteriores. Particularmente no caso das FOpEsp norte-americanas, as consequências vantajosas advindas de operações instituídas na Colômbia e nas Filipinas (respectivamente, em 1998 e 2001) são exemplos de engajamentos profícuos. Em ambos os casos, atuando ao longo de uma década com investimentos relativamente modestos, quadros operacionais das FOpEsp estadunidenses trabalharam no intuito de desenvolver as capacidades operacionais das forças de segurança colombiana e filipina, reduzindo drasticamente não apenas a criminalidade, mas, sobretudo, as ameaças insurgentes, terroristas e separatistas, contribuindo para a estabilização de regiões nas quais os EUA tem grande interesse.

Fotografia 6: Pararescue Jumpers da Força Aérea dos EUA em exercício com o 33º Esquadrão de Resgate. (Fonte: Disponível em: https://www.reddit.com/r/MilitaryPorn/comments/29a8s5/brig_gen_jack_briggs_participates_in_a_training/ Acesso em: 21 abr. 2016).

Mesmo países com longa e destacada tradição no emprego de FOpEsp, apresentam dificuldades para viabilizar as ações de suas tropas especiais. Nos EUA, tanto o Congresso quanto o Departamento de Defesa financiam as unidades de elite estadunidenses de forma fragmentada, com várias fontes de financiamento diferentes se responsabilizando pelo orçamento que cresce e expira anualmente. A demora na viabilização dos recursos é outro entrave. Missões de estabilização prolongadas, geralmente, requerem a aprovação do Departamento de Estado, o que determina uma tramitação burocrática que pode se estender por até dois anos por se tratar de uma operação de assistência a um país estrangeiro. Embora a supervisão de um departamento destinado à gerenciar as relações internacionais de um Estado seja crucial nesses casos, também é essencial, dada as características das ações em que as FOpEsp se envolvem, que os recursos financeiros sejam destinados a elas de forma rápida e eficiente.
Em âmbito internacional, é imperioso que a sociedade civil desenvolva uma cultura de valorização de suas FFAA como instituições imprescindíveis para assegurar a soberania do Estado. Nesse sentido, considerando o cenário de enfrentamento contemporâneo, cuja realidade determina que as forças de segurança estejam preparadas tanto para o enfrentamento regular (convencional) quanto para modalidades de confronto irregular, em todos os níveis de condução da guerra (Político, Estratégico, Operacional e Tático), cabe aos militares conscientizarem-se acerca da urgência de organizar, aprimorar e incrementar suas FOpEsp, sob risco de mostrarem inépcia quando forem incitados a confrontar as denominadas "novas ameaças" (crime organizado, tráfico de drogas, tráfico de armas, tráfico de pessoas, pirataria, terrorismo transnacional, insurreições, proliferação de armas de destruição em massa, entre outras). Assim, torna-se mister que todos os militares (oficiais e praças), ao longo de seu processo de formação, sejam devidamente instruídos e saibam como proceder quando o emprego de unidades de elite se fizer necessário. Compreender para que se destinam as OpEsp, como utilizá-las nas situações em que são indispensáveis, e como delas se valer para produzir o máximo impacto nas missões onde são empregadas, são requisitos que a sociedade castrense não pode prescindir. Para antecipar-se às situações de crise, precedendo a iniciativa de elementos adversos, é condição sine qua non que as tropas especiais adotem uma postura proativa em substituição ao engajamento reativo assumido em períodos passados. 
  
Fotografia 7: Operadores do Regimento de Operações Especiais canadense dialogando com soldados do Mali durante exercício realizado no Senegal. (Fonte: Disponível em: http://mcplpaulfranklin.blogspot.com.br/2011/12/mali-get-some-canadian-special-forces.html Acesso em: 21 abr. 2016).

Com as instituições civis e militares do governo trabalhando conjuntamente com base no conceito de "interoperabilidade", é fundamentalmente importante que os militares informem claramente a outros órgãos do governo quais experiências suas FOpEsp adquiriram em determinada situação, de modo que tais organismos possam auxiliar na concepção e desdobramento de novas ações. Por sua vez, cabe aos órgãos civis do governo a tarefa de mobilizarem-se no sentido de oferecer o suporte que lhes compete para que as FOpEsp possam operar com a segurança e o embasamento que as operações não ortodoxas requerem. 


quarta-feira, 20 de abril de 2016

O Futuro das Operações Especiais (Parte 3)

Adaptação do texto escrito originalmente por Linda Robinson, assessora adjunta para a Segurança Nacional e Política Externa do Conselho de Relações Exteriores dos EUA. (Disponível em: https://www.foreignaffairs.com/articles/united-states/2012-11-01/future-special-operations Acesso em: 12 abr. 2016).

Estabelecer relacionamentos de longo prazo por métodos de ação indireta constitui artifício que favorece a compreensão de aspectos intrínsecos ao ambiente em questão, além de contribuir na tarefa de influenciar a população local. Procedimentos dessa ordem são basilares para a formação de parcerias para promover o aumento da segurança em regiões cuja fragilidade das autoridades e o ímpeto de elementos adversos compromete a estabilidade estatal. Embora os resultados obtidos em decorrência dessas parcerias advenham, normalmente, após anos de esforço, o sucesso de empreendimentos dessa natureza muitas vezes é apenas parcial, uma vez que os interesses dos parceiros, em geral, mostram-se bastante divergentes. A relação de parceria torna-se ainda mais complexa, se considerarmos que países que necessitam da assistência de terceiros comumente encontram-se em dificuldades sociais e financeiras, sob ameaça, com governos incapazes de oferecer condições básicas para a qualidade de vida da população, e cujas forças de segurança, normalmente mal preparadas, agem de forma abusiva e violenta.

Figura 4: Operadores das Forças Especiais norte-americanas vasculham casas em Narizah (Afeganistão) durante a Operação Mountain Sweep levada a efeito em 2002. (Fonte: Disponível em: http://www.openbriefing.org/issuedesks/conflictanddiplomacy/americas-turn-new-wars-special-forces/ Acesso em: 19 abr. 2016).

Considerando que identificar as falhas cometidas por governos parceiros, bem como as especificidades que desencadearam conflitos civis, sectários, ideológicos ou tribais, é uma tarefa extremamente difícil, Estados soberanos devem avaliar criteriosamente os aspectos positivos e negativos de constituir parcerias que requeiram a participação de suas FOpEsp. Nesse sentido, estabelecer relações de parceria não deve fazer do país que presta assessoramento cúmplice de práticas ou políticas abusivas realizadas pelo país auxiliado. Como exemplo dessa tipo de vínculo contraproducente, destacamos as parcerias firmadas entre as FOpEsp norte-americanas com senhores da guerra afegãos detentores de uma reputação de prática sistemática da brutalidade. Alianças de conveniência como essa foram justificadas devido à necessidade premente de determinar, não apenas a derrubada do regime Talebã no Afeganistão, mas, principalmente, promover a erradicação da al-Qaeda. O engajamento de ElmOpEsp estadunidenses no Iêmen também ilustra os equívocos desse tipo de acordo. Mobilizados para prover assessoramento tanto para a Guarda Presidencial iemenita, quanto para componentes militares vinculados ao Ministério do Interior, os operadores norte-americanos acabaram oferecendo suporte para unidades militares lideradas por pessoas próximas do presidente Ali Abdullah Saleh, que durante três décadas se manteve no poder valendo-se de violenta repressão contra a dissidência (Saleh acabou abdicando do cargo em 2011 após a sucessão de eventos que culminaram com a chamada "Primavera Árabe" [mobilização popular ocorrida em diferentes países do mundo árabe contra os respectivos sistemas de governo]). 

Fotografia 5: Membros das Forças Especiais dos EUA interagem com crianças afegãs na província de Kandahar. (Fonte: Disponível em: http://archive.defense.gov/photoessays/PhotoEssaySS.aspx?ID=2051 Acesso em: 19 abr. 2016).

Para evitar situações como as relatadas anteriormente, o Congresso dos EUA promoveu uma alteração na denominada "Lei Leahy" (introduzida pelo senador democrata Patrick Leahy), segundo a qual o Departamento de Estado e o Departamento de Defesa ficam terminantemente proibidos de oferecer assistência militar para qualquer organismo de segurança estrangeiro que viola os direitos e liberdades básicas dos seres humanos. Em virtude dessa alteração, Washington suspendeu temporariamente a assessoria prestada ao Iêmen. Entretanto, devido à pressão exercida pelas sucessivas ações perpetradas pela al-Qaeda contra EUA na península Arábica e no golfo de Áden, a necessidade de firmar alianças de cooperação tornou-se imperativa. Embora os EUA ainda esteja estudando uma forma equilibrada de lidar tanto com a pressão quanto com a cooperação, ignorar países estrategicamente importantes, como é o caso do Iêmen, seria, provavelmente, muito mais arriscado do que estabelecer acordos de conveniência com eles.



segunda-feira, 18 de abril de 2016

O Futuro das Operações Especiais (Parte 2)

Adaptação do texto escrito originalmente por Linda Robinson, assessora adjunta para a Segurança Nacional e Política Externa do Conselho de Relações Exteriores dos EUA. (Disponível em: https://www.foreignaffairs.com/articles/united-states/2012-11-01/future-special-operations Acesso em: 12 abr. 2016).


Em depoimento entregue ao Congresso norte-americano em março de 2012, o Vice-almirante William H. McRaven, sucessor de McChystal no Comando do USSOCOM, destacou que as ações diretas realizadas isoladamente não são a solução para os desafios que os EUA enfrenta atualmente, e que as ações indiretas, executadas continuamente, serão decisivas no cenário da segurança global. Entretanto, apesar do fundamentado e conceituado embasamento retórico em favor das ações indiretas, as administrações presidenciais de George W. Bush e Barack Obama priorizaram o método de abordagem direta para as FOpEsp estadunidenses. O resultado de ações unilaterais e os efeitos positivos que, eventualmente, essas operações pudessem angariar, raramente são permanentes, levando-as, frenquentemente, a comprometer os esforços de longo prazo. 
Ações diretas nunca são empreendimentos simples de serem realizados, como ocorreu no Paquistão, onde Osama bin Laden e grande parte dos membros da al-Qaeda encontravam-se homiziados, e onde os EUA passou a conduzir uma pesada campanha militar valendo-se de métodos de ação direta. No rescaldo da "Operação Neptune Spear", levada à efeito em Abbottabad e que levou à morte de bin Laden, o sentimento de revolta gerado junto à população paquistanesa por ocasião do ataque, acrescido do constrangimento a que foram submetidas as autoridades do país devido à violação de sua soberania, levou a tensa relação entre EUA e Paquistão a uma profunda crise, com um custo para as FOpEsp. Como retaliação, as autoridades paquistanesas proibiram a presença de tropas estadunidenses na província de Khyber Pakhtunkhwa e nas áreas tribais administradas pelo país, ambas dominadas por pachtuns (povo de origem islâmica situado no Afeganistão e Paquistão), e onde as unidades de elite executavam métodos de ação indireta com a população e as forças paramilitares locais. O governo paquistanês encerrou um acordo de consultoria prestado pelas tropas especiais norte-americanas à Marinha do país relativo à costa Makran, região estrategicamente importante na inquieta província do Baluchistão, que faz fronteira com o Irã.

Fotografia 3: Membros do Grupo de Assessoramento de Operações Especiais do MARSOC, ministrando instrução de tiro para  militares da Republica Dominicana. (Fonte: Disponível em: http://www.blackfive.net/main/2008/12/marine-special.html Acesso em: 16 abr. 2016).

Após anos de discussões e desacordos relacionados aos ataques unilaterais, em 2011 autoridades norte-americanas concordaram que todas as ações devem ser devida e previamente autorizadas pelo governo afegão e conduzido conjuntamente com tropas afegãs. Ao Afeganistão interessa conquistar a confiança da população civil garantindo condições de segurança que sejam reais e duradouras. Nesse sentido, os EUA ajudou a constituir uma FOpEsp afegã composto por 11.000 homens. Além disso, tropas especiais de países vinculados à OTAN passaram a aconselhar e treinar moradores para compor forças policiais locais em Cabul, Bagram, Jalalabad, Kandahar e outros 52 distritos do país.
Assim como ocorre com os métodos de ação direta, a abordagem indireta também apresenta riscos, como pode ser ilustrado pelo episodio no qual ElmOpEsp norte-americanos que se infiltraram nas forças de segurança afegãs foram atacados por integrantes do Talebã e/ou simpatizantes de sua causa. Embora os operadores não tenham sido alvo direto dessa ação, o comandante do USSOCOM suspendeu o treinamento de recrutas afegãos para que pudessem ser reavaliados no intuito de identificar potenciais riscos à segurança, uma vez que as OpEsp requerem um elevado nível de confiança mútua devido à estreita relação criada entre os parceiros. Mesmo após o início da retirada gradativa das tropas norte-americanas do Afeganistão em 2011, FOpEsp estadunidenses permanecem no país provendo assessoramento para as forças afegãs, além de continuarem com a tarefa de identificar e coibir membros da al-Qaeda. 



quinta-feira, 14 de abril de 2016

O Futuro das Operações Especiais (Parte 1)

Adaptação do texto escrito originalmente por Linda Robinson, assessora adjunta para a Segurança Nacional e Política Externa do Conselho de Relações Exteriores dos EUA. (Disponível em: https://www.foreignaffairs.com/articles/united-states/2012-11-01/future-special-operations Acesso em: 12 abr. 2016).

Durante a última década, a estratégia nacional de Segurança e Defesa dos EUA se vale dos esforços empreendidos por FOpEsp de forma inédita na história do país. Considerando que o Pentágono atribui imensa relevância à tarefa de identificar e neutralizar insurgentes e terroristas, as unidades de elite aprimoraram a sua capacidade de realizar "caçadas humanas", adotando um nova tática conhecida como "Find, Fix, Finish, Exploit, Analyze and Disseminate" (Localizar, Decidir, Eliminar, Explorar, Analisar e Disseminar). Para tanto, as FOpEsp adotaram uma estrutura organizacional que lhes favorecesse, buscando estabelecer uma relação mais próxima e de colaboração com as agências de inteligência, permitindo que seus quadros operacionais pudessem se mover na "velocidade da guerra", termo utilizado por Stanley Allen McChrystal, oficial (Ref.) do Exército responsável por elaborar a estratégia contemporânea norte-americana de combate ao terrorismo (o General McChrystal respondeu pelo comando do JSOC entre 2003 e 2008).
Implementar a visão de McChrystal foi bastante dispendioso para os cofres do governo dos EUA, que teve que investir vultuosas quantias em sistemas de comunicação de última geração, aeronaves dotadas com capacidade "stealth", aparatos para fornecer dados de inteligência; construção de QGs de alta tecnologia para as FOpEsp, entre outros investimentos. Esses gastos consumiram um elevado percentual do orçamento total destinado às OpEsp, catapultando os valores (que em 2001 era de US $ 2,3 bilhões) para US $ 10,5 bilhões em 2012. 


Fotografia 1: General Stanley McChrystal, idealizador da estratégia norte-americana de combate ao terrorismo no período pós-onze de setembro.  (Fonte: Disponível em: http://www.westpointhistoryofwarfare.com/press/ Acesso em: 12  abr. 2016).

Operações similares àquela conduzida por homens do DEVGRU e levou à morte de Osama bin Laden, tornaram-se corriqueiras no auge das campanhas do Afeganistão e do Iraque. Em virtude das informações coletadas e processadas rapidamente, as FOpEsp norte-americanas chegaram a realizar até 14 incursões em uma única noite. Na eventualidade dos decisores considerarem que um determinada ação poderia ser excessivamente arriscada, ou os riscos políticos demasiadamente críticos, a alternativa seria realizar ataques valendo-se de ARP (Aeronaves Remotamente Pilotadas) armadas (ofensiva que, normalmente, ficava à cargo da CIA [Agência Central de Inteligência]). 
Ações de choque valendo-se de FOpEsp e ataques aéreos utilizando vetores de alta tecnologia despertam a atenção dos meios de comunicação, fato que induz uma percepção equivocada quanto à solução rápida dos conflitos no intuito de evitar os indesejáveis engajamentos prolongados das tropas. Na prática, ações diretas como o emprego de tropas especiais e "drones" representam alternativas táticas que raramente são decisivas e, geralmente, incorrem em custos políticos e diplomáticos significativos para o Estado que os patrocinaram. Nesse sentido, apesar do comprovado valor das ações diretas na tarefa de reprimir ou interromper eventuais ameaças, membros do Alto-Comando da comunidade de OpEsp dos EUA admitem que elas não devem ser adotadas como o pilar de sustentação da estratégia de Defesa norte-americana. Para eles, a melhor alternativa para confrontar as ameaças seria conjugando "ações diretas" com "ações indiretas".


Fotografia 2: MQ-9 Reaper disparando míssil Hellfire. Assim como as FOpEsp, as ARPs são  consideradas como um método de abordagem direto. (Fonte: Disponível em: http://www.fastcompany.com/1695219/inside-lawsuit-could-ground-deadly-cia-predator-drones Acesso em: 12 abr. 2016).

São consideradas "ações indiretas" o conjunto de medidas executadas para alcançar objetivos de interesse sem a necessidade de confrontar o inimigo. Tais ações partem da premissa da "espada embainhada" estabelecida por Sun Tzu, segundo a qual uma vitória sobre o adversário pode ser conquistada sem a necessidade de retirar a lâmina de sua bainha. 


[...]obter cem vitórias em cem batalhas não é o máximo da habilidade. Subjugar o inimigo sem lutar é o máximo da habilidade. [...]Aquele que luta por uma vitória com espadas desembainhadas não é um bom general. (SUN TZU) 

Nesse contexto, as FOpEsp têm capacidade para auxiliar organismos distintos (com ou sem vínculo estatal) com o objetivo de prover aconselhamento e treinamento. Em situações específicas, e caso seja necessário, as unidades de elite poderão atuar ao lado de militares estrangeiros, forças policiais, milícias e outros grupos informais. Também é de sua competência a tarefa de estudar as particularidades de determinado ambiente, coletando e reunindo informações enquanto angaria a confiança da população promovendo a melhoria da qualidade de vida da comunidade local (provendo assistência em diferentes setores nos quais há carestia).
Atualmente as FOpEsp tem priorizado as ações indiretas, uma vez que operações dessa ordem oferecem menor exposição das tropas e permitem a redução dos custos. Todavia, conduzir uma operação valendo-se dos métodos indiretos não é uma tarefa das mais simples, uma vez que nem todas as tropas especiais estão devidamente preparadas para esse tipo de abordagem. Assim, considerando o imenso potencial que as ações indiretas têm para alcançar os objetivos previamente estabelecidos, é necessário que as FOpEsp tentem se adequar à essa modalidade operativa de modo a adquirir a capacidade de executá-la de forma eficiente. 


segunda-feira, 11 de abril de 2016

SFOD-D e DEVGRU: Quem é Quem?

Adaptação do texto publicado originalmente no site We Are The Mighty. (Fonte: Disponível em: http://www.wearethemighty.com/articles/seal-team-6-delta-force  Acesso em: 9 abr. 2016).


A aterradora imagem da queda das torres norte e sul do World Trade Center, ocasionada pelo impacto de duas aeronaves comerciais de transporte de passageiros sequestradas momentos antes por extremistas vinculados à al-Qaeda, precipitou uma reação imediata por parte do governo norte-americano, que incitou outras nações a unirem esforços para travar uma GWOT (Guerra Global contra o Terrorismo). Assim, tropas estadunidenses e nações aliadas mobilizaram-se para o enfrentamento em diferentes países, sobretudo, no Afeganistão e no Iraque. Os acidentes naturais do relevo afegão apresentavam características que inviabilizavam o emprego sistemático de tropas convencionais, fato de levou os EUA a alicerçarem sua estratégia em ações conduzidas por FOpEsp. Para o Pentágono (sede do DOD [Departamento de Defesa norte-americano]) as operações realizadas pelos ElmOpEsp tinham tamanha relevância, que em 2003 a GWOT passou a ser classificada como "Guerra Centrada em Forças de Operações Especiais", passando o USSOCOM (Comando de Operações Especiais dos EUA) a gerenciar todas as ações executadas no combate ao terrorismo. 
Embora todas as FOpEsp estadunidenses tenham sido engajadas na GWOT, o DEVGRU (Grupo de Desenvolvimento de Guerra Especial Naval), também conhecido como SEAL Team 6, e o 1st SFOD-D (1º Destacamento Operacional de Forças Especiais-Delta [Força Delta]), por serem tropas vocacionadas para as ações CT (Contraterrorismo), tiveram uma ampla e destacada atuação, principalmente, nas campanhas do Afeganistão e do Iraque. Ambas são consideradas como SMU (Unidades de Missões Especiais) e encontram-se sob controle operacional do JSOC (Comando de Operações Especiais Conjuntas), organismo vinculado ao USSOCOM destinado a executar operações em todo mundo com o mais elevado nível de sigilo (podendo ser de natureza clandestina). Para atender aos exigentes requisitos inerentes às suas tarefas de responsabilidade, os quadros operacionais de ambas as unidades são submetidas aos mais rigorosos processos de seleção e treinamento da comunidade OpEsp dos EUA. Assim, considerando as características comuns que as aproximam, quais os aspectos que as distinguem?  

1. Seleção - O 1st SFOD-D é uma tropa vinculada ao Exército, que seleciona seus candidatos, sobretudo, nas fileiras das Forças Especiais (Boinas Verdes) e nas unidades de infantaria da Força Terrestre. Contudo, poderão ser escolhidos candidatos de outras FFAA, incluindo a Guarda Nacional e da Guarda Costeira. Por sua vez, o DEVGRU promove seu processo seletivo exclusivamente com candidatos das equipes SEAL da Marinha. Em ambos os casos, caso o candidato não consiga cumprir com as exigências mínimas requeridas, ele retornará para a unidade a qual pertencia anteriormente.

2. Treinamento - Tanto o 1st SFOD-D quanto o DEVGRU valem-se de armas e equipamentos que encontram-se no "estado da arte", ou seja, no mais elevado nível de desenvolvimento tecnológico. Em virtude de suas especificidades, ambas são altamente qualificadas em técnicas CQB (Confronto em Recinto Confinado), resgate de reféns, extração HVT (Alvo de Alto Valor), entre outras ações especializadas. Particularmente em relação ao DEVGRU, os operadores, necessariamente, devem, devido a sua natureza naval, estar aptos de conduzir operações CT em ambiente marítimo. 


Fotografia 1: Operadores do 1st SFOD-D em cena do filme "Falcão Negro em Perigo" (2001), no qual a Força Delta e os Rangers  são obrigados a confrontar a milícia somali nas ruas de Mogadiscio em 1993. (Fonte: Disponível em: http://www.nbcnews.com/storyline/isis-terror/behind-delta-force-covert-unit-saved-isis-captives-iraq-n450126 Acesso em: 9 abr. 2016).

3. Cultura - Os operadores da Força Delta tendem a apresentar uma formação precedente bastante diversificada dada a variedade se suas unidades de origem, fato que os leva, quando aprovados pelo 1st SFOD-D, a aprender, reaprender e diversificar conceitos para que todos estejam familiarizados e aptos a operar com sinergia em um sistema de responsabilidade compartilhada. Por serem oriundos da comunidade OpEsp da Marinha, os operadores do DEVGRU dispõem de uma gama de conhecimentos previamente adquiridos nas equipes SEAL, passando a frequentar um programa de treinamento muito mais intenso e exigente no que se refere às TTP (Táticas, Técnicas e Procedimentos) visando engajamentos voltados para operações CT. 

4. Missões - Na prática, independente do terreno, ambas unidades têm capacidade para conduzir qualquer OpEsp à cargo do JSOC. Entretanto, devido a afinidade com o ambiente operacional, o 1st SFOD-D tem predisposição para operar em terra, como ocorreu na missão que levou à morte de Abu Musab Al-Zarqawi (líder da al-Qaeda no Iraque) em 2006. Conforme destacado anteriormente, o DEVGRU tem prerrogativa para atuar no mar, como ocorreu na operação de resgate de Richard Phillips (Capitão do navio porta contêineres Maesk Alabama), sequestrado em 2009 na costa oriental da África por piratas somalis. 

5. Exposição - Por responsabilizarem-se pela execução de operações estratégicas extremamente sensíveis, os ElmOpEsp das duas unidades não fazem questão de aparecer ou ter os resultados de seus feitos divulgados, tenham eles redundado em êxito ou fracasso. Como profissionais 'silenciosos" que são, por mais complexo que seja manter a confidencialidade na "era da informação", são estritamente conservadores e esmeram-se na tarefa de resguardarem-se individual e coletivamente. 


Fotografia 2: Em cena do filme "Capitão Phillips" (2013), uma equipe de atiradores de precisão (Snipers) do DEVGRU observa a balsa de salvamento que transportava Richard Phillips na condição de refém. (Fonte: Disponível em: http://www.thecodeiszeek.com/2013/10/captain-phillips-on-somali-tides.html Acesso em: 9 abr. 2016).


No início dos anos 1970, quando organizações fundamentalistas passaram a empregar táticas terroristas para obter concessões e alcançar objetivos que elas jamais poderiam ganhar por meios diplomáticos ou militares, os Estados nacionais perceberam que não estavam devidamente preparados para esse tipo de enfrentamento. A maioria dos países, assim como os EUA, não dispunha de normas políticas antiterroristas, seus órgãos de inteligência não estavam aptos para prever e coibir atos extremistas, seus componentes militares não ostentavam capacidades militares para confrontar uma modalidade de luta que envolvia situações com reféns. Passados 45 anos, os norte-americanos e o mundo ainda sofrem com o ímpeto e a originalidade das ações terroristas, entretanto, em decorrência da expertise de tropas especiais como o 1st SFOD-D e o DEVGRU, o preço a ser cobrado de indivíduos, grupos e/ou organizações radicais que optam pela violência para promover sua causa passou a ser bem mais oneroso do que jamais foi. 



sexta-feira, 8 de abril de 2016

Desfazendo Alguns Mitos sobre Operações Especiais

Adaptação do texto escrito originalmente por Craig Michel, oficial das Forças Especiais dos EUA, atualmente na reserva. (Fonte: Disponível em: http://warontherocks.com/2016/03/dispelling-myths-about.special-operations-forces . Acesso em: 7 abr. 2016).

As FOpEsp encontram-se envoltas em uma aura de sigilo, chegando ao ponto de muitos governos nacionais negarem a existência de algumas delas (fato comum nos tempos da Guerra Fria). A opinião pública, geralmente, é apresentada a essas unidades por ocasião dos filmes produzidos pela indústria do cinema, os quais narram campanhas militares de sucesso, grandes fracassos ou eventos causadores de controvérsia. Ocasionalmente, algumas histórias emergem da perspectiva de elementos que participaram efetivamente da ação, proporcionando o vislumbre elementar de personagens, eventos ou períodos de tempo específicos. No caso da história ser protagonizada pelos heróis de uma determinada sociedade, eles são aceitos como um testemunho fiel ou bastante próximo da realidade. Contudo, mesmo que um filme pretenda retratar com fidelidade a sucessão de acontecimentos de uma dada ação militar, não consegue exibir exatamente o que ocorreu de fato. Como acontece com qualquer organização que evita elementos estranhos em seu meio, as FOpEsp procuram resguardar detalhes sensíveis (que poderiam comprometer a segurança dessas informações), e raramente se preocupam em apresentar dados contestando uma narrativa mal contada. Assim, não surpreendentemente que o cinema apresente histórias inverossímeis ou distantes da realidade.
Na década que sucedeu a série de atentados terroristas perpetrado pela al-Qaeda em solo norte-americano (ocorridos em 9/11/2001), o ritmo operacional das FOpEsp estadunidenses não teve precedentes históricos. Se a população mundial fosse incitada a relembrar alguma das atividades desempenhadas pelas FOpEsp naquele período, a maioria das pessoas destacaria, provavelmente, a ação que ocasionou a morte de Osama bin Laden. Embora essa seja a OpEsp mais famosa da história, inúmeras outras foram levadas à efeito nos incontáveis conflitos em que as tropas especiais foram engajadas. Apesar de suas proezas, o que dá distinção às FOpEsp é o ritmo em que elas evoluem e se adaptam as circunstâncias. A capacidade de incorporar rapidamente as lições aprendidas, adaptando-se ao inimigo e aos campos de batalha, são habilidades que permanecem sem igual entre os demais componentes militares. 
Fotografia 1: Navy SEALs fornecem segurança a um helicóptero Black Hawk durante uma patrulha no distrito de Shah Wali Kot, província de Kandahar, no Afeganistão. (Fonte: Disponível em: . Acesso em: 7 abr. 2016).
Dezenas de artigos, livros e filmes insinuam que a natureza secreta das FOpEsp é empregada como um conveniente instrumento de política, permitindo que os efeitos da guerra sejam ocultos da opinião pública de modo a evitar eventuais contestações por ocasião dos "custos humanos" envolvidos. No passado, em virtude da precariedade dos sistemas de comunicação (quando comparados aos recursos atuais), essa alternativa mostrava-se plausível. Entretanto, o constante incremento nos aparatos de comunicação torna cada vez mais complexo o esforço para manter longe do foco da mídia as ações levadas a cabo por unidades de elite. As particularidades dos confrontos contemporâneos (travados, sobretudo, valendo-se de recursos não convencionais) expõem as FOpEsp de forma jamais vista. Imagens captadas pelas câmeras de correspondentes internacionais, pelos celulares de expectadores fortuitos, a partir de câmeras acopladas aos capacetes dos operadores, ou obtidas por circuitos internos de TV, são repetidamente reproduzidas por agências de notícias da internet e emissoras de televisão. Apesar do desejo e da necessidade de resguardar as OpEsp dos olhos da mídia, uma vez que garantir o segredo da operação é considerada como condição essencial para assegurar o efeito surpresa (propriedade fundamental para o sucesso de qualquer OpEsp), alcançar tal intento está muito distante da realidade.
Na eventualidade dos políticos tentarem manter a opinião pública desinformada em relação aos custos humanos da guerra, as FOpEsp não representam uma resposta para isso. O emprego de tropas altamente qualificadas e preparadas para alcançar objetivos específicos tem menor probabilidade de provocar elevado número de baixas, quando comparado aos grandes efetivos cujo grau de precisão é menor.
Por mais que as circunstâncias envolvendo a morte de militares (especiais ou convencionais) possam variar conforme as circunstâncias, afirmar que o falecimento de ElmOpEsp possam escapar aos holofotes da imprensa é uma informação imprecisa (a baixa de operadores atrai atenção devido à natureza crítica das operações que participam). A morte do Sargento Joshua L. Wheeler, integrante do Destacamento Operacional de Forças Especiais-Delta (Força Delta), morto no Iraque em 2015 durante a "Operação Inherent Resolve", teve grande repercussão na mídia. Por outro lado, o falecimento  do Sargento Joseph F. Stifter, componente do 7º Regimento de Artilharia de Campo da 1ª Divisão de Infantaria, morto em janeiro de 2016 por ocasião do capotamento de um veículo blindado, não teve a mesma exposição. 

Fotografia 2: Sargento Joshua L. Wheeler, operador do SFOD-D, morto no Iraque em 2015 durante a "Operação Inherent Resolve". (Fonte: Disponível em: . Acesso em: 7 abr. 2016).

A noção de que FOpEsp percorrem o mundo agindo impunemente não é verdadeira. As unidades de elite dependem de planejamentos detalhados, suscetíveis a longas cadeias de aprovação nos mais elevados níveis dos órgão nacionais de Defesa. O processo de aprovação para OpEsp requer uma análise cuidadosa de custos e benefícios. Particularmente em relação às ações envolvendo FOpEsp norte-americanas, quando possível, o governo dos EUA busca obter concordância e parceria da nação onde a operação será desencadeada. Em cenários nos quais as FFAA estadunidenses estão presentes, as tropas especiais, geralmente, operam como um componente subordinado a um comando convencional responsável pelo espaço de batalha regional. 
Portanto, as FOpEsp fornecem alternativas às autoridades nacionais, opções adicionais que transitam entre a diplomacia e o conflito em larga escala. Nesse sentido, as tropas especiais representam a adequada e derradeira resposta quando as questões envolvidas são complexas e os problemas se agravam. 


quinta-feira, 7 de abril de 2016

Caracterizando as Operações Especiais (Parte Final)

Texto adaptado da dissertação de mestrado de Rodney Alfredo Pinto Lisboa.

Considerando o modus operandi das FOpEsp, as operações, Independente da categoria de OpEsp, são geralmente conduzidas de duas formas básicas e distintas: 

1. Por ação direta - Quando a FOpEsp estabelece contato direto com o inimigo;

2. Por ação Indireta - Quando a FOpEsp disponibiliza organização, treinamento e logística para que forças amigas travem contato com o adversário. 

Em ambos os casos, levando-se em conta as particularidades atinentes ao ambiente operacional e tempo de engajamento, as OpEsp podem ser planejadas e executadas de maneira independente ou conjunta, de maneira autônoma ou em apoio às tropas convencionais. Contudo, cabe salientar que apesar de poderem ser efetuadas de forma integrada (ações diretas e indiretas conduzidas em uma mesma missão), a probabilidade dos efeitos obtidos serem mais positivos será maior quando ambas materializam-se separadamente.
Estando engajadas em determinada operação, as FOpEsp devem atuar da forma mais discreta possível, visando garantir os efeitos advindos a surpresa, característica considerada como sendo o elemento diferencial no modo distinto de agir das unidades especializadas. Assim, a confidencialidade deve ser respeitada durante todas as fases da operação (planejamento, treinamento e execução), de modo que a ação seja revelada ao inimigo apenas no momento em que ele esteja sendo vitimado por ela.

Fotografia 5: Operadores do SASR australiano conduzem uma patrulha de reconhecimento visando coletar dados de inteligência. (Fonte: Disponível em: <http://discovermilitary.com/special-forces/australian-special-air-service-regiment/>. Acesso em: 6 abr. 2016).

É importante esclarecer que ao serem expostas (reveladas), as OpEsp divulgam a identidade do Estado que as patrocinou, circunstância que, dependendo da natureza da ação, pode comprometer o desempenho e a segurança da equipe engajada levando a influenciar negativamente no sucesso da ação. Portanto, operações que requerem o emprego de FOpEsp devem ser conduzidas de quatro formas diferentes:   

1. Operação Aberta - A operação é declarada, com o Estado patrocinador assumindo publicamente a iniciativa da ação;

2. Operação de Baixa Visibilidade - O Estado patrocinador não esconde formalmente a ação, mas se esforça para que ela seja realizada com discrição;

3. Operação Encoberta - O Estado patrocinador esforça-se para que a ação seja dissimulada, resguardando-se de modo a negar de maneira plausível que seja o responsável pela operação;

4. Operação Clandestina - Devido à natureza crítica da operação (podendo gerar efeitos negativos para o Estado patrocinador), as ações ocorrem dissimuladamente, com as autoridades negando seu envolvimento. Especificamente nesse tipo de operação, as consequências da ação, necessariamente, devem ser identificadas pela opinião pública como obra de casualidade;

A condição sigilosa que permeia as OpEsp justifica-se também para acobertar as técnicas operacionais empregadas em contextos distintos. Embora sejam difundidas internacionalmente entre unidades análogas por conta dos intercâmbios realizados, aspectos inerentes ao empirismo distinguem uma metodologia da outra, possibilitando um "patrimônio"  que deve ser muito bem protegido, sob risco de comprometer a eficácia em caso de divulgação dessas técnicas. A imperiosa "identidade metodológica” essencial para nortear as doutrinas de emprego, tem sua gênese da experimentação sistemática, sendo obtida pela relação de três fatore:

1. Em virtude da capacidade humana (física, motora, intelectual e psicológica);

2. Por ocasião da variedade e versatilidade dos recursos (armas; equipamentos; vetores de lançamento/recolhimento);

3. Pela gama de conhecimentos obtidos no decorrer da prática dessas técnicas em engajamentos reais e adestramentos que reproduzem situações de enfrentamento, fundamentais para nortear as doutrinas de emprego.

A NWO (Nova Ordem Mundial), manifestada a partir do final da Guerra Fria (1947-1991), evidenciou o conflito de proporções assimétricas, influenciando significativamente a forma como as FFAA (Forças Armadas) passaram a considerar o modo de combater os procedimentos não ortodoxos (irregulares) dos adversários que teriam que enfrentar no século XXI. Essa nova categoria de oponentes, que muitas vezes lança mão de recursos diversos e contestáveis para alcançar seus objetivos, forçou à adequação das FFAA a uma realidade que cresce exponencialmente no mundo contemporâneo, exigindo das autoridades o emprego de unidades especialmente adestradas, reduzidas e independentes, capazes de operar com liberdade de ação e suporte mínimo de retaguarda.