quarta-feira, 20 de abril de 2016

O Futuro das Operações Especiais (Parte 3)

Adaptação do texto escrito originalmente por Linda Robinson, assessora adjunta para a Segurança Nacional e Política Externa do Conselho de Relações Exteriores dos EUA. (Disponível em: https://www.foreignaffairs.com/articles/united-states/2012-11-01/future-special-operations Acesso em: 12 abr. 2016).

Estabelecer relacionamentos de longo prazo por métodos de ação indireta constitui artifício que favorece a compreensão de aspectos intrínsecos ao ambiente em questão, além de contribuir na tarefa de influenciar a população local. Procedimentos dessa ordem são basilares para a formação de parcerias para promover o aumento da segurança em regiões cuja fragilidade das autoridades e o ímpeto de elementos adversos compromete a estabilidade estatal. Embora os resultados obtidos em decorrência dessas parcerias advenham, normalmente, após anos de esforço, o sucesso de empreendimentos dessa natureza muitas vezes é apenas parcial, uma vez que os interesses dos parceiros, em geral, mostram-se bastante divergentes. A relação de parceria torna-se ainda mais complexa, se considerarmos que países que necessitam da assistência de terceiros comumente encontram-se em dificuldades sociais e financeiras, sob ameaça, com governos incapazes de oferecer condições básicas para a qualidade de vida da população, e cujas forças de segurança, normalmente mal preparadas, agem de forma abusiva e violenta.

Figura 4: Operadores das Forças Especiais norte-americanas vasculham casas em Narizah (Afeganistão) durante a Operação Mountain Sweep levada a efeito em 2002. (Fonte: Disponível em: http://www.openbriefing.org/issuedesks/conflictanddiplomacy/americas-turn-new-wars-special-forces/ Acesso em: 19 abr. 2016).

Considerando que identificar as falhas cometidas por governos parceiros, bem como as especificidades que desencadearam conflitos civis, sectários, ideológicos ou tribais, é uma tarefa extremamente difícil, Estados soberanos devem avaliar criteriosamente os aspectos positivos e negativos de constituir parcerias que requeiram a participação de suas FOpEsp. Nesse sentido, estabelecer relações de parceria não deve fazer do país que presta assessoramento cúmplice de práticas ou políticas abusivas realizadas pelo país auxiliado. Como exemplo dessa tipo de vínculo contraproducente, destacamos as parcerias firmadas entre as FOpEsp norte-americanas com senhores da guerra afegãos detentores de uma reputação de prática sistemática da brutalidade. Alianças de conveniência como essa foram justificadas devido à necessidade premente de determinar, não apenas a derrubada do regime Talebã no Afeganistão, mas, principalmente, promover a erradicação da al-Qaeda. O engajamento de ElmOpEsp estadunidenses no Iêmen também ilustra os equívocos desse tipo de acordo. Mobilizados para prover assessoramento tanto para a Guarda Presidencial iemenita, quanto para componentes militares vinculados ao Ministério do Interior, os operadores norte-americanos acabaram oferecendo suporte para unidades militares lideradas por pessoas próximas do presidente Ali Abdullah Saleh, que durante três décadas se manteve no poder valendo-se de violenta repressão contra a dissidência (Saleh acabou abdicando do cargo em 2011 após a sucessão de eventos que culminaram com a chamada "Primavera Árabe" [mobilização popular ocorrida em diferentes países do mundo árabe contra os respectivos sistemas de governo]). 

Fotografia 5: Membros das Forças Especiais dos EUA interagem com crianças afegãs na província de Kandahar. (Fonte: Disponível em: http://archive.defense.gov/photoessays/PhotoEssaySS.aspx?ID=2051 Acesso em: 19 abr. 2016).

Para evitar situações como as relatadas anteriormente, o Congresso dos EUA promoveu uma alteração na denominada "Lei Leahy" (introduzida pelo senador democrata Patrick Leahy), segundo a qual o Departamento de Estado e o Departamento de Defesa ficam terminantemente proibidos de oferecer assistência militar para qualquer organismo de segurança estrangeiro que viola os direitos e liberdades básicas dos seres humanos. Em virtude dessa alteração, Washington suspendeu temporariamente a assessoria prestada ao Iêmen. Entretanto, devido à pressão exercida pelas sucessivas ações perpetradas pela al-Qaeda contra EUA na península Arábica e no golfo de Áden, a necessidade de firmar alianças de cooperação tornou-se imperativa. Embora os EUA ainda esteja estudando uma forma equilibrada de lidar tanto com a pressão quanto com a cooperação, ignorar países estrategicamente importantes, como é o caso do Iêmen, seria, provavelmente, muito mais arriscado do que estabelecer acordos de conveniência com eles.



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