Adaptação do texto escrito originalmente por Linda Robinson,
assessora adjunta para a Segurança Nacional e Política Externa do Conselho de
Relações Exteriores dos EUA. (Disponível em:
https://www.foreignaffairs.com/articles/united-states/2012-11-01/future-special-operations
Acesso em: 12 abr. 2016).
Estabelecer
relacionamentos de longo prazo por métodos de ação indireta constitui artifício
que favorece a compreensão de aspectos intrínsecos ao ambiente em questão, além de contribuir na tarefa de influenciar a população local. Procedimentos dessa ordem
são basilares para a formação de parcerias para promover o aumento da
segurança em regiões cuja fragilidade das autoridades e o ímpeto de elementos
adversos compromete a estabilidade estatal. Embora os resultados obtidos em
decorrência dessas parcerias advenham, normalmente, após anos de esforço, o
sucesso de empreendimentos dessa natureza muitas vezes é apenas parcial, uma vez
que os interesses dos parceiros, em geral, mostram-se bastante divergentes. A
relação de parceria torna-se ainda mais complexa, se considerarmos que países
que necessitam da assistência de terceiros comumente encontram-se em
dificuldades sociais e financeiras, sob ameaça, com governos incapazes de oferecer condições básicas
para a qualidade de vida da população, e cujas forças de segurança, normalmente
mal preparadas, agem de forma abusiva e violenta.
Considerando
que identificar as falhas cometidas por governos parceiros, bem como as
especificidades que desencadearam conflitos civis, sectários, ideológicos ou
tribais, é uma tarefa extremamente difícil, Estados soberanos devem avaliar
criteriosamente os aspectos positivos e negativos de constituir parcerias que requeiram a
participação de suas FOpEsp. Nesse sentido, estabelecer relações de parceria
não deve fazer do país que presta assessoramento cúmplice de práticas ou políticas
abusivas realizadas pelo país auxiliado. Como exemplo dessa tipo de vínculo
contraproducente, destacamos as parcerias firmadas entre as FOpEsp
norte-americanas com senhores da guerra afegãos detentores de uma reputação de prática sistemática da brutalidade.
Alianças de conveniência como essa foram justificadas devido à necessidade
premente de determinar, não apenas a derrubada do regime Talebã no Afeganistão,
mas, principalmente, promover a erradicação da al-Qaeda. O engajamento de
ElmOpEsp estadunidenses no Iêmen também ilustra os equívocos desse tipo de
acordo. Mobilizados para prover assessoramento tanto para a Guarda Presidencial
iemenita, quanto para componentes militares vinculados ao Ministério do
Interior, os operadores norte-americanos acabaram oferecendo suporte para
unidades militares lideradas por pessoas próximas do presidente Ali
Abdullah Saleh, que durante três décadas se manteve no poder valendo-se de
violenta repressão contra a dissidência (Saleh acabou abdicando do cargo em
2011 após a sucessão de eventos que culminaram com a chamada "Primavera
Árabe" [mobilização popular ocorrida em diferentes países do mundo árabe
contra os respectivos sistemas de governo]).
Para
evitar situações como as relatadas anteriormente, o Congresso dos EUA promoveu uma
alteração na denominada "Lei Leahy" (introduzida pelo senador
democrata Patrick Leahy), segundo a qual o Departamento de Estado e o
Departamento de Defesa ficam terminantemente proibidos de oferecer assistência
militar para qualquer organismo de segurança estrangeiro que viola os direitos
e liberdades básicas dos seres humanos. Em virtude dessa alteração, Washington
suspendeu temporariamente a assessoria prestada ao Iêmen. Entretanto, devido à
pressão exercida pelas sucessivas ações perpetradas pela al-Qaeda contra EUA na península
Arábica e no golfo de Áden, a necessidade de firmar alianças de cooperação
tornou-se imperativa. Embora os EUA ainda esteja estudando uma forma
equilibrada de lidar tanto com a pressão quanto com a cooperação, ignorar
países estrategicamente importantes, como é o caso do Iêmen, seria,
provavelmente, muito mais arriscado do que estabelecer acordos de conveniência
com eles.
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