sexta-feira, 8 de abril de 2016

Desfazendo Alguns Mitos sobre Operações Especiais

Adaptação do texto escrito originalmente por Craig Michel, oficial das Forças Especiais dos EUA, atualmente na reserva. (Fonte: Disponível em: http://warontherocks.com/2016/03/dispelling-myths-about.special-operations-forces . Acesso em: 7 abr. 2016).

As FOpEsp encontram-se envoltas em uma aura de sigilo, chegando ao ponto de muitos governos nacionais negarem a existência de algumas delas (fato comum nos tempos da Guerra Fria). A opinião pública, geralmente, é apresentada a essas unidades por ocasião dos filmes produzidos pela indústria do cinema, os quais narram campanhas militares de sucesso, grandes fracassos ou eventos causadores de controvérsia. Ocasionalmente, algumas histórias emergem da perspectiva de elementos que participaram efetivamente da ação, proporcionando o vislumbre elementar de personagens, eventos ou períodos de tempo específicos. No caso da história ser protagonizada pelos heróis de uma determinada sociedade, eles são aceitos como um testemunho fiel ou bastante próximo da realidade. Contudo, mesmo que um filme pretenda retratar com fidelidade a sucessão de acontecimentos de uma dada ação militar, não consegue exibir exatamente o que ocorreu de fato. Como acontece com qualquer organização que evita elementos estranhos em seu meio, as FOpEsp procuram resguardar detalhes sensíveis (que poderiam comprometer a segurança dessas informações), e raramente se preocupam em apresentar dados contestando uma narrativa mal contada. Assim, não surpreendentemente que o cinema apresente histórias inverossímeis ou distantes da realidade.
Na década que sucedeu a série de atentados terroristas perpetrado pela al-Qaeda em solo norte-americano (ocorridos em 9/11/2001), o ritmo operacional das FOpEsp estadunidenses não teve precedentes históricos. Se a população mundial fosse incitada a relembrar alguma das atividades desempenhadas pelas FOpEsp naquele período, a maioria das pessoas destacaria, provavelmente, a ação que ocasionou a morte de Osama bin Laden. Embora essa seja a OpEsp mais famosa da história, inúmeras outras foram levadas à efeito nos incontáveis conflitos em que as tropas especiais foram engajadas. Apesar de suas proezas, o que dá distinção às FOpEsp é o ritmo em que elas evoluem e se adaptam as circunstâncias. A capacidade de incorporar rapidamente as lições aprendidas, adaptando-se ao inimigo e aos campos de batalha, são habilidades que permanecem sem igual entre os demais componentes militares. 
Fotografia 1: Navy SEALs fornecem segurança a um helicóptero Black Hawk durante uma patrulha no distrito de Shah Wali Kot, província de Kandahar, no Afeganistão. (Fonte: Disponível em: . Acesso em: 7 abr. 2016).
Dezenas de artigos, livros e filmes insinuam que a natureza secreta das FOpEsp é empregada como um conveniente instrumento de política, permitindo que os efeitos da guerra sejam ocultos da opinião pública de modo a evitar eventuais contestações por ocasião dos "custos humanos" envolvidos. No passado, em virtude da precariedade dos sistemas de comunicação (quando comparados aos recursos atuais), essa alternativa mostrava-se plausível. Entretanto, o constante incremento nos aparatos de comunicação torna cada vez mais complexo o esforço para manter longe do foco da mídia as ações levadas a cabo por unidades de elite. As particularidades dos confrontos contemporâneos (travados, sobretudo, valendo-se de recursos não convencionais) expõem as FOpEsp de forma jamais vista. Imagens captadas pelas câmeras de correspondentes internacionais, pelos celulares de expectadores fortuitos, a partir de câmeras acopladas aos capacetes dos operadores, ou obtidas por circuitos internos de TV, são repetidamente reproduzidas por agências de notícias da internet e emissoras de televisão. Apesar do desejo e da necessidade de resguardar as OpEsp dos olhos da mídia, uma vez que garantir o segredo da operação é considerada como condição essencial para assegurar o efeito surpresa (propriedade fundamental para o sucesso de qualquer OpEsp), alcançar tal intento está muito distante da realidade.
Na eventualidade dos políticos tentarem manter a opinião pública desinformada em relação aos custos humanos da guerra, as FOpEsp não representam uma resposta para isso. O emprego de tropas altamente qualificadas e preparadas para alcançar objetivos específicos tem menor probabilidade de provocar elevado número de baixas, quando comparado aos grandes efetivos cujo grau de precisão é menor.
Por mais que as circunstâncias envolvendo a morte de militares (especiais ou convencionais) possam variar conforme as circunstâncias, afirmar que o falecimento de ElmOpEsp possam escapar aos holofotes da imprensa é uma informação imprecisa (a baixa de operadores atrai atenção devido à natureza crítica das operações que participam). A morte do Sargento Joshua L. Wheeler, integrante do Destacamento Operacional de Forças Especiais-Delta (Força Delta), morto no Iraque em 2015 durante a "Operação Inherent Resolve", teve grande repercussão na mídia. Por outro lado, o falecimento  do Sargento Joseph F. Stifter, componente do 7º Regimento de Artilharia de Campo da 1ª Divisão de Infantaria, morto em janeiro de 2016 por ocasião do capotamento de um veículo blindado, não teve a mesma exposição. 

Fotografia 2: Sargento Joshua L. Wheeler, operador do SFOD-D, morto no Iraque em 2015 durante a "Operação Inherent Resolve". (Fonte: Disponível em: . Acesso em: 7 abr. 2016).

A noção de que FOpEsp percorrem o mundo agindo impunemente não é verdadeira. As unidades de elite dependem de planejamentos detalhados, suscetíveis a longas cadeias de aprovação nos mais elevados níveis dos órgão nacionais de Defesa. O processo de aprovação para OpEsp requer uma análise cuidadosa de custos e benefícios. Particularmente em relação às ações envolvendo FOpEsp norte-americanas, quando possível, o governo dos EUA busca obter concordância e parceria da nação onde a operação será desencadeada. Em cenários nos quais as FFAA estadunidenses estão presentes, as tropas especiais, geralmente, operam como um componente subordinado a um comando convencional responsável pelo espaço de batalha regional. 
Portanto, as FOpEsp fornecem alternativas às autoridades nacionais, opções adicionais que transitam entre a diplomacia e o conflito em larga escala. Nesse sentido, as tropas especiais representam a adequada e derradeira resposta quando as questões envolvidas são complexas e os problemas se agravam. 


Um comentário:

  1. Gostaria de parabenizar pelos textos, ótimo conteúdo e principalmente vejo um domínio sólido do assunto, coisa que hoje em dia é bastante difícil encontrar quando se trata de militarismo.
    Sempre fui aficcionado por assuntos militares e sempre estudei bastante, coisa que assustou muita gente dentro do meu convívio no Brasil. Porém tal paixão me levou a hoje estar nas forças de defesa de Israel, buscando o mais alto nível de operações especiais, assim como sonhei.
    Continue com o ótimo trabalho !

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