Adaptação de artigo publicado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa na
Revista Marítima Brasileira, v. 134, n. 10/12, p. 77-90, 2014.
Para o
desempenho eficiente de suas funções, é impreterível que cada um dos elementos
que constituem o destacamento de assalto tenha controle e precisão na condução
das técnicas CQB. Essas técnicas abordam o conjunto de procedimentos
específicos a serem adotados pelo "Trem de Assalto", quando o
destacamento se desloca em fila pelas dependências internas, promovendo a
segurança mútua de seus membros enquanto executa a varredura dos cômodos.
Nas
operações que requerem o emprego de métodos CQB, o confronto armado em espaço
físico limitado produz situações distintas que exigem variados níveis de
esforço físico, os quais podem influenciar direta ou indiretamente no resultado
da ação, uma vez que o preço do fracasso nessas circunstâncias, quase sempre,
é a morte. Neste
ponto, fazemos uma digressão para destacar a importância da preparação física
no âmbito da atividade militar, uma vez que o condicionamento do corpo vai
muito além da aptidão para empreender operações tradicionais de patrulha e
intervenção. Nesse contexto, independente da função ou graduação, o treinamento
físico enfoca a operacionalidade da tropa, visando atender ao interesse da
instituição, ao cumprimento da sua missão e a qualidade de vida do
militar.
Ponderando
sobre a relevância do treinamento físico para ações de confronto armado,
considera-se que o combate aproximado exige intenso adestramento em função da
contingência do emprego de força. Para os militares que enfrentam elementos
adversos em espaços restritos, o valor do condicionamento físico é percebido em
eventos que requerem o envolvimento de todas as valências físicas (equilíbrio,
coordenação, força, velocidade, resistência e flexibilidade) em situações de
progressão nas quais os integrantes do Trem de Assalto têm que se deslocar por
áreas internas realizando movimentação tática, saltos, agachamentos, subidas
e/ou descidas, transportando equipamento e armamento que atribuem peso
adicional considerável ao usuário.
Pela
perspectiva da atividade física o termo “condicionamento físico”
constitui o ato ou efeito de capacitar o corpo desenvolvendo as
valências físicas com o objetivo de melhorar a performance de execução dos
movimentos. Partindo dessa premissa, esclarecemos que ao buscar
condicionar-se fisicamente, o indivíduo passa por um processo de “treinamento”
que promove uma adaptação metabólica funcional, ampliando suas capacidades
energéticas para adequar o organismo ao esforço físico requerido.
Apesar
das demandas metabólicas (reações/adaptações do organismo) não serem
contempladas neste texto, é imperioso esclarecer que a prática de atividade
física depende de uma grande diversidade de variáveis relacionadas ao
metabolismo, responsáveis por influenciar na busca por um
indicador eficiente na tarefa de estabelecer a integração dos sistemas
cardiovascular, respiratório e muscular considerando o gasto energético
requerido na atividade em questão.
Cientes
de que a adaptação metabólica é um importante componente do condicionamento
físico associado à performance de execução das técnicas CQB, uma vez que é
desse ajuste orgânico que depende a capacidade dos ElmOpEsp do Destacamento de
Assalto de suportar o esforço físico, o ajuste metabólico somente trará
resultados efetivos para a performance dos procedimentos CQB quando devidamente
associado ao componente motor (controle dos movimentos).
A
natureza extremamente complexa das operações de retomada e resgate exige
elevados níveis de consciência corporal e domínio das capacidades motoras
(equilíbrio; coordenação; lateralidade; ritmo; tempo de reação; orientação
espacial; percepção temporal) que vão muito além da habilidade do militar
convencional. Desse modo, considerando a doutrina de emprego dos métodos
CQB, em uma operação de varredura, é essencial que os componentes do
Destacamento de Assalto tenham controle total de todos os movimentos
(consciência corporal e motora) que norteiam a execução das respectivas
técnicas. Cabe destacar, que uma percepção motora incompatível com as
exigências da tarefa pode trazer sérias consequências para o desfecho da
operação, uma vez que é essa percepção (adquirida mediante repetição
sistemática dos movimentos que alicerçam as técnicas) que permite um padrão de
resposta efetivo frente às situações de perigo.
Apesar de específico, o conjunto de ações motoras
utilizadas em eventos onde ocorre o confronto
aproximado (técnicas CQB) se desenvolve exatamente da mesma forma que qualquer
outro ato motor, surgindo a partir das três categorias básicas de movimento:
mobilidade, estabilidade e manipulação. Tomando por referência a teoria proposta por Karl Newel (1986),
segundo a qual sugere que todos os movimentos surgem da interação entre três
fatores distintos (indivíduo; tarefa motora [movimento]; ambiente), destacamos
que a performance de execução de uma ação motora depende, fundamentalmente, da
capacidade do indivíduo de executar determinada tarefa motora, da complexidade
da tarefa motora a ser realizada, bem como das condições do ambiente para a
realização da tarefa motora em questão.
A
habilidade (perícia) de cumprir com os requisitos de uma determinada tarefa
motora está diretamente relacionada com a grande quantidade de conhecimento
detalhado e organizado que uma pessoa possui em relação à área em que atua,
tornando-a capaz de empregar esse conhecimento para a solução qualitativa dos
problemas relacionados à área em questão. A prática sistemática torna-se um
fator fundamental na aquisição da habilidade relacionada ao desempenho, de modo
com que indivíduos mais experientes em um campo de atuação têm maior aptidão
que os principiantes para executar tarefas especializadas. Assim, o conjunto de
informações armazenadas pelos peritos em virtude da especificidade e do tempo
de prática, permite-lhes operar com maior grau de "automaticidade"
(memória motora ou memória muscular). Sobre a execução automática do gesto
motor, salientamos que nesta categoria de movimento a ação motora é realizada
com controle total dos segmentos corporais requeridos para a execução da
tarefa, mesmo quando o executante encontra-se em condições psicofísicas
difíceis. Dessa forma, com o ato motor sendo realizado mediante percepção
cinestésica (corporal), que assume a função de fonte de informação sensorial
primária substituindo a visão e a audição, o executante é capaz de voltar sua
atenção para outros fatores do ambiente que podem interferir na sequência de
execução do movimento.
Fotografia 5: ElmOpEsp do GROM (unidade contraterrorista das Forças Armadas polonesas) progridem por uma área edificada obedecendo a procedimentos operacionais alicerçados em técnicas CQB. (Disponível em: http://www.fluierul.ro/mobile/article/indexDisplayArticleMobile.jsp?artid=572941&title=militari-polonezi-au-luat-cu-asalt-centrul-de-spionaj-nato-din-varsovia-ocupand-cladirea-guvernul-polonez-a-inlocuit-sefii-serviciului-de-contraspionaj-nato-acuzati-ca-ar-fi-oferit-servicii-de-specialitate-administratiei-obama-in-detrimentul-poloniei Acesso em: 25 abr. 2016).
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Sobre a
execução habilidosa de uma ação motora, cabe explanar que a maturidade e a
experiência apresentam-se como diferencial, uma vez que o militar mais experiente
tem mais estabilidade em situações de crise, sabe avaliar criticamente as
diferentes situações que se apresentam, desempenhando suas funções com mais
eficiência à medida que possui o domínio da técnica (movimento especializado) e
sabe como, onde e quando emprega-la.
Para que
um movimento seja executado de forma habilidosa (automatização),
necessariamente, deve ser incorporado ao acervo de memória motora do
executante, sendo consolidado na forma de um circuito neuronal estável nas
estruturas do SNC (Sistema Nervoso Central) e transferido para a memória de
longa duração (armazenamento mnemônico permanente). Assim, considerando
que em uma operação de confronto aproximado os operadores devem contar com um
repertório de movimentos que lhes permita analisar e solucionar a situação em
questão com simplicidade, praticidade, criatividade e adaptabilidade, a
percepção sensorial das diferentes possibilidades de movimento para cada
situação específica é crucial para o resultado da tarefa realizada.
Portanto,
é imperioso destacar que o controle dos movimentos utilizados nas diferentes
técnicas CQB ocorre a partir de uma séria de fatores relacionados com a
vivência prática (feedback cinestésico), entre os quais são dignos
de nota: a experiência adquirida em função do adestramento que simula situações
compatíveis com a tarefa a ser executada em um engajamento real; a reprodução
sistemática e metódica dos movimentos característicos de cada técnica; a
correta operação de armas e equipamentos quando da execução desses movimentos.
Particularmente
no que concerne ao emprego de armas de fogo, é fundamental que os operadores
pratiquem a sequência de movimentos até automatizá-los (incorporar ao acervo de
memória de longa duração), uma vez que a performance no manuseio do armamento,
e os disparos por consequência, dependem de uma série de fatores: concentração;
capacidade de decisão e tempo de reação em resposta a um estímulo extrínseco
(oriundo do ambiente) que lhes permita identificar com antecedência eventuais
reféns dos elementos adversos que representam a ameaça.
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